quarta-feira, 29 de dezembro de 2004

Uma descoberta mais que tardia:

Once Upon a Time in China (1991) * * * *
Once Upon a Time in China II (1992) * * *
Once Upon a Time in China III (1993) * * *


São os três que contam, não é mesmo? Os três com a parceria Jet Li – Tsui Hark. E também não poderia falar dos outros, pois não os vi. Nota-se nesses três primeiros, um acréscimo no humor e na inverossimilhança das cenas de luta, cada vez mais delirantes, com lutadores que voam e se movimentam como libélulas. Nada a ver com a qualidade. Gosto mais do primeiro, e menos do terceiro, por outros motivos. No primeiro, havia uma necessidade de apresentar os personagens, coisa que Tsui Hark não gosta muito de fazer e deixa propositalmente na superfície. Sobram belos momentos de poesia, como o amor que brota entre o mestre Wong Fei-Hung (Jet Li) e Aunt Yee (Rosamund Kwan) . E a amizade entre o mestre e seu pupilo atrapalhado. Do amor, vem a bela cena, retomada nos outros dois, da carícia pelas sombras refletidas na parede. Da amizade, vem quase todas as lutas, coreografadas com mão de mestre, e que mostram a arte de Jet Li.

No segundo, quase tão bom, temos um interessante contexto de protesto aos estrangeiros. White Lotus é um grupo que responde violentamente ao domínio inglês, ameaçando também a tranquilidade dos chineses. Wong Fei-Hung se vê obrigado a defender os ingleses, e outros doutores que participavam de uma conferência. Belo e ambíguo retrato da época, e cenas de luta de primeira.

No terceiro, somos apresentados à nova técnica de imagem em movimento. Uma câmera cinematográfica é apresentada para o encanto de Aunt Yee. É um dos pontos altos do filme. Assim como os momentos mais íntimos entre o mestre e Siu Qun (a outrora Aunt Yee). Já a tão falada seqüência de luta com as máscaras eu acho meio aborrecida, como aliás todas as cenas com as máscaras. A melhor cena de luta é, disparado, aquela em que o mestre se vê trancado num restaurante com o chão sujo de óleo.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2004

Comentários rápidos e rasteiros sobre os filmes vistos nesses dias malucos e consumistas:

Finalmente vi Elephant, do Alan Clarke, graças ao período de férias dos irmãos Furtado/Martins na Lasermania. Bem...o filme é inacreditável. Nem dá pra falar muito sobre ele, para não estragar a experiência de quem puder vê-lo. A influência sobre Van Sant fica clara não só nesse filme, onde a influência é confessa, mas também nos outros que pude ver de Clarke (The Firm e Made in Britain). Prefiro The Firm, onde um grupo de hooligans é acompanhado pela câmera cirúrgica. Clarke realiza belos travellings acompanhando os personagens pelas ruas, como Van Sant faz pelos corredores do colégio, e Gary Oldman está muito bem como o mártir. E Made in Britain também é um bom filme, com um belo retrato das tentativas (infrutíferas?) de recuperação de um criminoso em potencial. Faltou um pouco mais de coerência ao personagem de Tim Roth (que abre mão de sua ideologia fascista em prol de certa ajuda nos seus atos de vandalismo). Mas é um belo filme.

Suspeita é o quarto filme de Hitchcock com dinheiro americano e se mostra um progresso em relação a Rebbeca, é um claro retrocesso em relação a Correspondente Estrangeiro (não vi Uma Dupla do Barulho). Nas entrevistas, nada se falou de uma possível misoginia, mas ela é evidente. Joan Fontaine faz, talvez, a mais imbecil das heroínas de Hitchcock. A mulher que adora perdoar o marido cafajeste. E Cary Grant tem uma recaída moral no final que aparentemente se quer entendido. Mas o próprio ator, excelente, dá uma pista das intenções sacanas de seu personagem. Fontaine será uma infeliz, e isso está muito longe do final feliz que sempre atribuiram ao filme.

Código 46 não é "tão" ruim quanto disseram. Assim como o diretor (Winterbottom) não é a desgraça que gostam de dizer. Só que a atmosfera necessária nunca é atingida, e a montagem paralela no final é de uma pobreza impressionante. Além de simplista e chantagista com o público. Não escapa da bola preta.

Sim...eu gostei de Alexander, um dos poucos filmes de Oliver Stone em que suas contradições trabalham a favor. O personagem é mergulhado nelas, a ponto de ora confundir àqueles que procuram mensagens anti Bush, ora desagradá-los.

Texasville é muito bom. Bogdanovich fala de desilusões e das dificuldades de se entender um relacionamento. Jeff Bridges, casado há 20 anos com Annie Potts (maravilhosa), é incapaz de entendê-la. De resto, um cachorro é mostrado como um cachorro. E não é necessário humanizá-lo para que ele brilhe, mesmo quando desprezado no plano. Um filme um tanto estranho, e que exige revisões para se compreendê-lo satisfatoriamente. Como a vida.

Não gostei de Alfie, o Sedutor, filme que me pareceu extremamente conservador, apesar de vir com uma roupagem moderninha. Ou talvez por isso mesmo. Arthur Hiller nos seus filmes mais quadrados incorporava os truques de estilo de sua época (anos 60 e 70). Mas fazia filmes conservadores. Charles Shyer é o Arthur Hiller da vez, apesar de estar na luta há mais de vinte anos. Quando tenta entender a mente masculina, então, Shyer fracassa com pompa e circunstância, como um decorador afetado que mal tem o que dizer, mas insiste em posar de artístico. Não é necessário ver os outros filmes de Shyer (Presente de Grego à frente) pra se saber de sua mediocridade.

Aliás, muito se falou em mediocre nos últimos posts. Pois fiquem sabendo que em Portugal, a palavra medíocre tem outro significado. É horrível mesmo. Peguei uma Première portuguesa e nas legendas das cotações, 2 estrelas é ruim, 1 estrela é medíocre. Ora, vejam só...

quarta-feira, 22 de dezembro de 2004

Os deuses da cinefilia devem estar loucos, ou algo muito estranho aconteceu.

EU GOSTEI DO NOVO FILME DE... ... ... ...

...OLIVER STONE

terça-feira, 21 de dezembro de 2004

Bruno Dumont queria ser artista. Fez dois filmes tentando provar isso. O meia-boca A Vida de Jesus e o mediano A Humanidade. Em 29 Palms ele só consegue provar sua calhordice. Fez um filme para mostrar que ser humano é, antes de tudo, ser monstruoso. Foi necessário transformar o namorado americano em uma espécie de Jason, para justificar sua pulsão assassina. É necessário mostrar orgasmos animalescos e exagerados, criando um efeito hiperbólico, em contraste com os inúmeros tempos mortos (que ele continua colocando pra provar que é autor). Enfim, se antes esperava-se que Dumont encontrasse seu rumo no cinema francês, agora espera-se que ele tente outro ramo de atividade. Um açougue, ou um matadouro...lugares onde ele se sentiria mais a vontade.

Vi também Once Upon a Time in China, de Tsui Hark, que é uma obra-prima. Estou com a continuação em casa...espero fazer um post em breve sobre eles.

Project A, de Jackie Chan, é bem bom. Causa estranheza o fato de se precisar de quatro heróis pra matar o vilão. Creio que isso tenha sido proposital, como crítica ou irreverência ao cinema de ação, ou qualquer outra coisa, mas espero alguém mais qualificado pra me dizer.

Papai Noel às Avessas – Terry Zwigoff (2003) * *
Tem seus momentos, principalmente na alternância de humor de Billy Bob Thornton (em papel realmente memorável). Bernie Mac não aparece tanto, infelizmente. Sei não, mas me parece que a tendência suicida do personagem de Thornton seja o ponto fraco do filme. Não dá pra acreditar no seu desespero. O menino gordinho, que termina por arrastá-lo de volta à vontade de viver, mesmo que por vias tortuosas (já que antes de levar os tiros ele não estava nem aí), é um achado. A seqüência da surra nos moleques do bairro é muito boa, e vem quando menos se espera. Seria mal se viesse de uma forma pensada, logo depois do gordinho chegar com a cueca esticada. Zwigoff recorre a diversos clichês, e nem sempre acerta com eles, mas a mudança de tom do filme funciona. Não é irreverente como eu pensava, mas dá uma boa sessão. Nos extras, que só pude ver rapidamente, parece que Thornton metia bastante o bedelho na direção, talvez por Zwigoff ter uma personalidade mais apagada.

sábado, 18 de dezembro de 2004

Ainda em Mother, Jugs & Speed, algo que diz muito da maniera Yates de tratar a comédia (pelo que lembro, Os Quatro Picaretas está cheio de coisas do tipo):

Harvey Keitel se apresenta. Seu sobrenome é Malditesta. Um dos paramédicos diz que "malditesta means headache in italian". Os outros: "Aaaahhhh" (com tom zombeteiro, como se fosse uma coisa muito óbvia de se constatar). Corte rápido, deixando que a piada permaneça sem ser exposta. Keitel, aliás, é responsável pelas piadas mais sutis, principlamente quando ele se apresenta para o futuro chefe. Seqüência que ainda devo rever, pois está cheia de ironias e brincadeiras.

Mother, Jugs & Speed – Peter Yates (1976) * * *
Bill Cosby, Raquel Welch e Harvey Keitel são os três paramédicos do título, respectivamente. Só essa escalação, com Bill Cosby (Ving Rhames?) tendo o singelo nome de Mother (lá pelas tantas, Raquel Welch vira parteira, uma pista para o porquê do apelido de Cosby). Lembram-se de Vivendo no Limite? Semelhanças entre os filmes existem, mas os diretores partem de ideais opostos e vão para direções opostas. Yates tem boa mão. Não é um autor, mas um artesão dos melhores (ei, Cruno, viu que eu não usei a palavra competente?). Seus grandes filmes são Bullit, Os Quatro Picaretas e Os Amigos de Eddie Coyle. Mas O Fiel Camareiro sustenta-se léguas acima dos cacoetes do cinema de arte daquela época (1983). Mesmo ano de Krull, filme aventura de sessão da tarde que só eu mesmo, defensor de filmes ruins, pra gostar. Murphy’s War e Breaking Away têm momentos de uma beleza desconcertante, e Pesadelo na Rua Carrol é um eficiente suspence com Kelly McGilllis.Yates era assim, mudava drasticamente de tom de um filme para outro. Irregular, mas sempre com grande interesse. Mother, Jugs & Speed tem um humor peculiar, com destaque para os excelentes diálogos, e algumas gags muito boas. Tem dois momentos barra-pesada também, com uma bela construção atmosférica. É datado, com seu climão discoteque, mas isso não me incomoda. Ainda vou rever filmes do Yates em seqüência para entender porque seu cinema me encanta de tal maneira. Diretor sem obras-primas, mas com muitos filmes deliciosos. Foi parar na televisão em meados dos anos 90.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2004

Dois bons filmes brasileiros:

Raízes do Brasil é um interessante documentário de Nelson Pereira dos Santos. Quem disse que a segunda parte é mais fraca deve rever o filme. É onde o diretor mostra um projeto, onde ele tenta, de maneira meio ligeira, concedo, desnudar a persona de Sérgio Buarque de Holanda. A primeira parte, com a família falando sobre ele, é mais emotiva, mais fácil de ver, mas não necessariamente a melhor. É muito fácil tornar tudo aquilo interessante, ao contrário da segunda parte, onde a narração nem sempre é subordinada à imagem. Por vezes ela desvia-se do que está sendo mostrado, formando um belo pano de fundo para a trajetória do historiador.
Olhos de Vampa é um belo exemplo do porquê de certas coisas no cinema nativo precisarem, sim, de mudanças radicais. Um filme concluído em 1996, mas que nunca chegou aos cinemas, a não ser em festivais. Chega agora ao DVD, em uma edição pobre, mas bem-vinda. O filme, sobre um vampiro que morde bundas de mulheres jovens, sugando o sangue delas, é melhor que o anterior do Walter Rogério (Beijo 2348/72), e tem frases clássicas, principalmente no começo (Antonio Abujamra falando: "se vocês virem um homem seguindo um traseiro perfeito, fiquem de olho, pois pode ser nosso suspeito"). Belo e estranho filme.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2004

O Expresso Polar – Robert Zemeckis (2004) *

Não se trata de um mau filme. Mas dá raiva a opção pela pieguice, que estraga o que era belo por si só, sem a necessidade de uma trilha choramingas (e que talvez provoque o inverso ao pretendido) e de soluções reducionistas como a da narração final que diz que o importante é acreditar. Muito piegas. E o filme até tem momentos belos, como a folha sendo acompanhada pela câmera (ou...uma emulação do movimento da câmera, que seja), ou vários trechos do percurso do expresso. Quando chega no Polo Norte, ainda alguns momentos bons de tensão, para depois voltar à breguice desavergonhada. Zemeckis já soube controlar melhor esse pendor sentimentalóide. Pelo menos a onipresença de Tom Hanks (mais ou menos sensível) não incomoda, o que é um trunfo. Há pouco no filme que justifique o fato de ser uma animação: lembro principalmente da geleira, e de alguns momentos em que o trem ameaça descarrilhar. Claro que sairia muito mais caro, e me parece que economia não foi um motivo central no projeto, mas poderíamos ter um belo filme de natal com pessoas. Talvez até o sentimentalismo fosse suavizado. Afinal, o rosto humano ainda é mais apto às sutilezas da emoção do que o mais desenvolvido dos computadores.

terça-feira, 14 de dezembro de 2004

Ocean’s Twelve é um pouco melhor que o primeiro (Ocean’s Eleven). Tenho muitas reservas ao filme, mais que ao primeiro, apesar de achar que aqui, Soderbergh está mais à vontade, sem precisar emular o filme antigo (com o Rat Pack de Sinatra como maior atrativo – filme, de resto, bem vagabundo). Sobra muita esperteza, como sempre, e isso me incomoda, sobretudo nos dez minutos finais. Uma necessidade de se mostrar esperto, mais do que construir situações espertas (um contraponto seria o delicioso Uma Saída de Mestre, de F. Gary Gray). A grande sacada é a função de Julia Roberts no filme.

Retrospectiva Steven Soderbergh em estrelinhas:

(os que não constam não foram vistos)

sexo, mentiras e video tape (1989) *
Kafka (1991) *
O Inventor de Ilusões (1993) * *
Irresistível Paixão (1998) * * *
O Estranho (1999) * * *
Ocean’s Eleven (2001) *
Full Frontal (2002) 0
Solaris (2002) *
Ocean’s Twelve (2004) *

Como podem perceber, tem um montão de filmes dele que eu nunca vi (Traffic, Erin Brockovich, Schizopolis...). Diretor que chegou a vislumbrar uma postura autoral no final da década passada, mas que depois redescobriu sua mediocridade.

sábado, 11 de dezembro de 2004

Júlio Bressane quer confundir, sempre. Lendo suas entrevistas, sempre fico mais perdido do que antes, são muitas pistas falsas, muitas palavras sem idéias e idéias sem palavras. O que julgava de fácil compreensão se revela hermético. O Gigante da América é um compêndio de tentativas de investigação da sexualidade do homem brasileiro. O homem bressaniano (Em A Agonia era Joel Barcelos, em O Gigante da América é Jece Valadão) luta para entender as mulheres, mas acaba sobrepujando-as. No filme irmão, Joel se vê diante dos mais diversos sonhos e pesadelos, vítima de um filme em processo, como sempre em Bressane, que deixa mais arestas do que seria aconselhável para se ganhar um público, que seja, mínimo. Bressane não está nem aí. Quer investigar sua mente, e seu próprio processo de criação. É por isso que seu cinema, mesmo quando claramente equivocado (Miramar, Monstro Caraíba), desperta o maior dos interesses. Se O Rei do Baralho é um filme pornográfico, exclusivamente por seus diálogos, e pela forma com que o casal protagoniza a construção de uma chanchada moderna e nostálgica ao mesmo tempo, A Agonia é quase casto, com o quase-bebê Joel falando suas várias vozes, ou fugindo de ceroula de um carro numa estrada deserta. A gênese do homem, o nascedouro de todos os seus dilemas. O Gigante da América é pleno de sexualidade, por vezes doentia, por vezes cheia de escárnio. Jece é o cafajeste, como Lewgoy lembra durante o filme. Bressane além de tudo faz um inventário do macho no cinema brasileiro.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2004

Novembro (revisões em negrito)

Passagens - Yang Chao (Arteplex 2) * *
Ouro Carmim - Jafar Panahi (Sala UOL) * *
Dandelion - Mark Milgard (Sala UOL) 0
O Quinto Império - Manoel de Oliveira (Sala UOL) * * * *
Mal dos Trópicos - Apichatpong Weerasethakul (Arteplex 1) * * *
Chapéu Verde - Liu Fendou (E.Unibanco 1) * *
A Ferida - Nicholas Klotz (MIS) * * *
Caçados por Sonhos - Buddhadeb Dasgupta (E.Unibanco 1) * *
Bem-vindo a São Paulo - vários diretores (Cinearte 1) *
Terra Prometida - Amos Gitai (Arteplex 1) *
A Noiva das Trevas - William Wai Lun Kwok (Arteplex 2) * *
Nos Campos de Batalha - Daniele Arbid (DirecTV 1) *
Bem me Quer, Mal me Quer - Maria de Medeiros (DirecTV 1) *
Maria Cheia de Graça - Joshua Marston (DirecTV 1) *
Mal dos Trópicos - Apichatpong Weerasethakul (Cinearte 1) * * * *
Familia Rodante - Pablo Trapero (Cinearte 1) * *
Delamu - Tian Zhuangzhuang (Cinesesc) *
Dois Anjos - Mamad Haghighat (Cinearte 1) *
Conversaciones com Mamá - Santiago Carlos Oves (Cinearte 1) 0
De-Lovely - Irwin Winkler (Cinearte 1) 0
Terra da Fartura - Wim Wenders (Cinearte 1) 0
Os Sonhadores - Bernardo Bertolucci (Cinearte 1) *
Visões da Europa - vários diretores (Cinesesc) 0
Feminices - Domingos Oliveira (Cinesesc) * * *
Spetters - Paul Verhoeven (Cinesesc DVD) * * *
Buio Omega - Joe D'Amato (Cinesesc DVD) * * *
O Abraço Partido - Daniel Burman (Arteplex 9) *
Gosto de Sangue - Joel Coen (Arteplex 3) * * *
Sob o Domínio do Mal - Jonathan Demme (Bristol 2) * *
Os Caçadores da Arca Perdida - Steven Spielberg (DVD) * * *
Extremos do Prazer - Carlos Reichenbach (CCSP) * * *
Alma Corsária - Carlos Reichenbach (CCSP) * * * *
Zoolander - Ben Stiller (DVD) *
Cellular - David R. Ellis (Bristol 4) * *
Os Esquecidos - Joseph Ruben (Bristol 6) * *
A Morte de um Burocrata - Tomas Gutierrez Alea (Cinesesc) * * * *
Indiana Jones e o Templo da Perdição - Spielberg (DVD) * *
Contra Todos - Roberto Moreira (Arteplex 6) 0
Cega Obsessão - Yasuzo Masumura (DVD) * * *
Indiana Jones e a Última Cruzada - Spielberg (DVD) * * *
A Noite dos Mortos Vivos - George Romero (DVD) * * *
Uma Saída de Mestre - F.Gary Gray (DVD) * * *
A Família do Barulho - Julio Bressane (VHS) * * *
Entreatos - João Moreira Salles (E.Unibanco1) * *
Peões - Eduardo Coutinho (E.Unibanco1) * *
Sympathy for the Underdog - Kinji Fukasaku (CCSP) * *
Greed in Broad Daylight - Kinji Fukasaku (CCSP) * *
Exodus - Otto Preminger (DVD) * *
El Dorado - Howard Hawks (DVD) * * * *

quarta-feira, 1 de dezembro de 2004

"Esta cidade não precisa de um tipo como você"

Um filme que termina com uma frase dessas, sendo uma prova imensa de amor e respeito, só pode ser obra-prima.

O negócio é o seguinte:

Howard Hawks é um mágico. E El Dorado é um autêntico milagre.

sábado, 27 de novembro de 2004

Revisão da trilogia Indiana Jones

Deu mais ou menos o esperado: na revisão, Os Caçadores da Arca Perdida se confirmou como o melhor Spielberg, e Indiana Jones e o Templo da Perdição se confirmou como o mais fraco dos três. No caso, foi o que decepcionou, mais pela incapacidade em mudar o registro. Tudo é muito over, e Spielberg não sabe trabalhar assim. No terceiro, IJ e a Última Cruzada, com o tema da relação entre pai e filho, tema caro ao diretor, a coisa volta a entrar nos eixos, também porque o filme tem ritmo muito parecido com o primeiro da série. Comédia, aventura, busca por um objeto sagrado...O terceiro tem o melhor final dos três, o segundo é todo errado, mas tem grandes momentos, e por isso se salva com dignidade, e o primeiro é um modelo que afoi muito mal imitado depois.

Os extras revelaram o óbvio: as cenas que Spielberg mais gosta geralmente são as melhores mesmo (como exemplo, o olhar de Indy para o pai, após a cena com as gaivotas), o que significa que o diretor sabia muito bem o que estava fazendo (bem ao contrário do que a trilha de comentários de Frank Oz para A Cartada Final revela: um desinteresse e uma ignorância que eu não esperava em alguém que dirigiu Os Safados).

Top 10 Spielberg:

1) Os Caçadores da Arca Perdida
2) Indiana Jones e a Última Cruzada (empate técnico com os quatro de baixo, mas como vi por último...)
3) Encurralado
4) Tubarão
5) Contatos Imediatos do Terceiro Grau
6) A.I.
7) Louca Escapada
8) 1941
9) E.T.
10) Prenda-me Se For Capaz

Os 5 piores (em ordem decrescente de ruindade):

1) A Cor Púrpura
2) Amistad
3) Hook
4) O Império do Sol
5) Além da Eternidade


segunda-feira, 22 de novembro de 2004

A Morte de um Burocrata (1966)- Tomas G. Alea * * * *
Andaram falando mal do filme por aí. Humpf!!! Comédia de humor negro fenomenal, com um ritmo caótico, mas que sabe dar uma paradinha quando quer. A pista é o papel batido à máquina no início, com os agradecimentos aos autores que são homenageados por Alea. Precisava ver de novo, mas me parece que a ordem de referências é igual a ordem dos agradecidos do papel. Um filme referencial muito antes de Tarantino. Dois sonhos: o primeiro começa Buñuel e vira Bergman, o segundo começa Bergman e vira Buñuel. Realidade dura: o protagonista consegue mirar o canhão para outro lado, mas um de seus algozes volta à mira antiga...esperamos uma nova mudança...que não vem. Cachorrinho com osso na boca, grito-ambulância, homem-vampirizado sob as estátuas L'Âge D'or do início do filme. Contra-plongées e angulares Wellesianos, tudo muito rápido. Filme revolta, filme escárnio, filme bagunça, o cinema que foi e que pode ser. Alea tentaria dar forma às confusões de sua mente na próxima obra-prima (Memórias do Subdesenvolvimento, 1968). Aqui é o rascunho, de um filme-esboço, bobo, chapado, apressado, confuso, indeciso, e muito, muito talentoso.

sábado, 20 de novembro de 2004

Mais dois filmes vistos, dessa vez em circuitão: Celular e Os Esquecidos. Celular é bom como Valente e Gui tinham dito, com uma capacidade salutar de dar cutucadas sem se levar a sério, em especial à febre dos celulares como companheiros inseparáveis das pessoas. Filme a que se assiste com prazer, mesmo que tenha uma primeira metade um tanto titubeante, com algumas situações mal resolvidas, mas necessárias para levar o filme adiante. Poderiam ser melhor trabalhadas, por exemplo, a necessidade de não se desligar o telefone (o que ficou meio forçado), e a relação do herói com amigos e ex-namorada (todas as cenas iniciais com esses personagens soam equivocadas).

Os Esquecidos foi uma grata surpresa. Não era o caso de se esperar uma nulidade de Joseph Ruben (do qual só conheço três filmes uma estrela, sendo que pelo menos um - Morte nos Sonhos - quase ganha duas). Mas que o filme impressiona enquanto está sendo visto, impressiona. Não vale dizer muito, pois acho que quanto mais virgem se for ver o filme, melhor (e de resto, concordo com o Kaganski, que disse gostar de ir ao cinema com o mínimo de informação sobre o que vai ver, se der, nenhuma informação é o ideal). Indo para casa depois, fiquei pensando que poderia ser melhor, mas como nem sei bem o quê, fica valendo a impressão assim que o filme acabou: um bom filme de terror invertido. É o vilão que é mais aterrorizado.



Dois filmes vistos no ciclo de Carlão Reichenbach: 1) Extremos do Prazer, que eu não conhecia, e que infelizmente passou com vinte minutos a menos, devido ao estado da cópia. Filmaço, com Roberto Miranda dizendo frases clássicas como: “desempenhei galhardamente o meu papel de macho” (ou coisa muito parecida). A esperança é que a Stúdio X tenha o filme, tirado de uma cópia inteira. 2) Alma Corsária, cuja revisão confirmou ser uma pequena obra-prima. Um filme ET em sua época, onde boas idéias eram sacrificadas em prol da narrativa. Carlão faz justamente o contrário. O filme transborda de boas idéias, muitas vezes colidindo com o que seria uma narrativa tradicional. Um dos filmes mais apaixonados que já vi em qualquer tempo, qualquer lugar. E Sam Fuller finalmente levou o Oscar.

quarta-feira, 17 de novembro de 2004

Zatoichi – Takeshi Kitano * * *

Alguém viu Ralé, do Kurosawa? A mesma tentativa de mesclar musica, riso e ação que se encontrava lá, está muito melhor trabalhada por Kitano neste belo exemplo de cinema multi-gêneros. Se Kurosawa trabalhava muito bem a comicidade musical de seus personagens, mas se esquecia de imprimir um bom ritmo às cenas de ação, Kitano extrapola, testa os limites dessa comicidade chegando perto da fronteira do ridículo. E é esse risco evidente que torna Zatoichi um belo filme. Tenta-se o tempo todo ilustrar uma luta, mais do que mostrá-la, com efeitos hiperbólicos, propositadamente artificiais, entregando a origem mangá do filme. Lembro de ter dado muitas risadas (eu que nem sou de rir muito no cinema, rio para dentro, só eu escuto). Gargalhadas espontâneas, que se fossem proibidas sairiam do mesmo jeito. Lembrei de ralé o tempo todo. De como o filme antigo (visto na Cinemateca) poderia ser muito melhor. Zatoichi parece ser a confirmação de que Ralé poderia, mesmo, ser muito melhor. Termina com uma espécie de bloco carnavalesco, com forte percussão, como se Kitano resolvesse encerrar uma etapa de sua filmografia. É muito diferente do que se poderia esperar dele, mesmo depois de Dolls, o brilhante relato das obsessões. E deixa uma expectativa maior ainda para os filmes que virão. O que será o próximo? Um pornô-soft? Um filme de zumbis? Ou apenas mais um Kitano-movie?

Encerrando o capítulo dos filmes da Mostra, tirando alguns textos que devem pintar por aqui, aí vai o Top 10:

1) Cinco
2) O Quinto Império
3) Mal dos Trópicos
4) La Niña Santa
5) Antes do Pôr do Sol
6) Dez Sobre Dez
7) Bens Confiscados
8) Zatoichi
9) A Ferida
10) Whisky

E os piores - do pior (1) para o menos pior (10) :

1) Nina
2) Terra da Fartura
3) Conversaciones con Mamá
4) Porão
5) O Avental de Lili
6) A Oitava Cor do Arco-Iris
7) Borboleta
8) Dandelion
9) De- Lovely
10) Os Sonhadores


sábado, 13 de novembro de 2004

Filmes vistos em Outubro (depois do dia 22, todos pela Mostra SP, exceto A Fortaleza) - revisão em negrito.

Corpo Fechado - M.Night Shyamalan (DVD) * * *
Era Uma Vez no Oeste - Sergio Leone (Odeon - RIO) * * * *
Somersault - Cate Shortland (E.Unibanco 2-RIO) 0
The Woodsman - Nicole Kassell (E.Botafogo1 - RIO) *
Quando Explode a Vingança - Sergio Leone (MAM-RIO) * * * *
No Mundo de 2020 - Richard Fleischer (MAM-RIO) * *
Água Viva - Kiyoshi Kurosawa (E.Unibanco 2-RIO) * *
Casa dos Bebês - John Sayles (E.Paissandu-RIO) * *
Capitão Sky e o Mundo de Amanhã - Kerry Conran (E.Botafogo 1-RIO) *
O Coração é Traiçoeiro Acima de Todas as Coisas - Asia Argento (E.Unibanco 2-RIO) *
Undertow - David Gordon Green (E.Botafogo 1-RIO) * *
Alexandria-Nova York - Youssef Chahine (E.Unibanco1-RIO) *
Um Dia Quente de Inverno - Stéphane Vuillet (E.Unibanco1-RIO) * *
A Última Vida no Universo - Pen-ek Ratanaruang (E.Unibanco1-RIO) *
Anatomia do Inferno - Catherine Breillat (E.Unibanco1-RIO) * * *
Por Um Punhado de Dólares - Sergio Leone (E.Unibanco1-RIO) * * * *
Por Uns Dólares a Mais - Sergio Leone (DVD) * * *
Daisy Miller - Peter Bogdanovich (DVD) * * *
Ichi the Killer - Takashi Miike (VHS) * *
A Dona da História - Daniel Filho (Arteplex 3) 0
Amor à Tarde - Eric Rohmer (Top Cine 1) * * * *
Nossa Música - Jean-Luc Godard (Belas Artes-Aleijadinho) * * *
Paixão à Flor da Pele - Paul McGuigan (Bristol 5) * * *
O Templo de Shaolin - Chang Cheh (DVD) * * *
Confronto em Chinatown - Chang Cheh (DVD) *
Quem Bate à Minha Porta? - Martin Scorsese (DVD) *
Nina - Heitor Dhalia (Arteplex 9) 0
Kill Bill Vol.2 - Quentin Tarantino (Bristol 1) * * *
Viver e Morrer em L.A.- William Friedkin (DVD) * * *
Passagem Azul - Yii Chih-Yen (Cinesesc) * * *
Falstaff / Chimes at Midnight - Orson Welles (DVD) * * * *
Depois de Horas - Martin Scorsese (DVD) * * * *
O Âncora, A Lenda de Ron Burgundy - Adam McKay (Pátio Higienópolis 1) * *
A Subida da Maré - Yolande Moreau e Gilles Porte (Arteplex 1) * *
A Paisagem que Flutua - Carol Lai Miusuet (DirecTV 1) *
O Revolver Amado - Kensaku Watanabe (DirecTV 2) *
Tormento - Jonathan Caouette (E.Unibanco 1) *
Zatoichi - Takeshi Kitano (E.Unibanco 1) * * *
6 e 7 - Geno Tsaava (Cinesesc) * *
Má Educação - Pedro Almodovar (Cinesesc) * *
Cuidadoso - Guy Maddin (DirecTV1) *
A Fortaleza - Satyajit Ray (CCSP) * * *
La Niña Santa - Lucrecia Martel (Arteplex 2) * * * *
Whisky - Juan Pablo Rebello e Pablo Stoll (Arteplex 1) * * *
Crepúsculo das Ninfas de Gelo - Guy Maddin (Cinesesc) *
Contos do Hospital Gimli - Guy Maddin (Cinesesc) *
Linda Cidade - Asghar Farhadi (Cinearte 1) * *
A Oitava Cor do Arco-Iris - Amauri Tangará (DirecTV1) 0
Porão - Eric Werthman (DirecTV1) 0
Esther - Amos Gitai (Arteplex 2) * * *
Mate Seus Ídolos - Scott Crary (Arteplex 2) *
O Avental de Lili - Mariano Galperin (Arteplex 2) 0
Diário de Campanha - Amos Gitai (Arteplex 1) *
20 Dedos - Mania Akbari (Arteplex 2) *
A Vida Continua - Abbas Kiarostami (Cinesesc) * * * *
Familia Rodante - Pablo Trapero (DirecTV1) * *
Borboleta - Yan Yan Mak (DirecTV1) 0
Dez Sobre Dez - Abbas Kiarostami (Cinesesc) * * * *
Cinco - Abbas Kiarostami (Cinesesc) * * * *
Luzes Vermelhas - Cedric Kahn (Arteplex 2) * *
Eden - Amos Gitai (Cinesesc) *
Berlim Jerusalem - Amos Gitai (Cinesesc) * * *
Memória del Saqueo - Fernando Solanas (E.Unibanco 1) * *
Um Dia Depois do Outro - Amos Gitai (DirecTV2) *
Los Muertos - Lisandro Alonso (Cinesesc) *
Bens Confiscados - Carlos Reichenbach (Arteplex 2) * * *
O Jogador de Cartas - Dario Argento (Arteplex 1) * *
5x2 - François Ozon (Arteplex 1) *
O Quinto Império - Manoel de Oliveira (Arteplex 1) * * * *
Oh, Homem - Yervant Gianakian e Angela Ricci Lucchi (DirecTV2) * *
Sangre - Pablo Cesar (Cinearte 1) * *
Old Boy - Chan-wook Park (E.Unibanco1) * *

quarta-feira, 10 de novembro de 2004

Filmes vistos na repescagem:

Conversaciones com Mamá – Santiago Carlos Oves 0
Devo fazer pílula dessa bomba para a Contracampo.

De-Lovely – Irwin Winkler 0
Devo fazer texto dessa tentativa de hagiografia de Cole Porter para a Contracampo.

Terra da Fartura – Wim Wenders 0
Até os cinco minutos finais, o filme estava fraco, com cada plano se arrastando sem o menor sentido, mas com alguma dignidade. Depois torna-se um dos filmes mais idiotas já feitos, com direito a perseguição de uma bandeira americana e um diálogo com valor cinematográfico negativo. Prova definitiva de que Wenders ficou gagá.

Os Sonhadores – Bernardo Bertolucci *
O diretor sonhou em fazer um retrato cinefilico de maio de 1968, mas caiu nas concessões de praxe, com citações mais do que didáticas, simplistas mesmo, e resoluções dramatúrgicas de quinta. Tenta chocar, mas nunca vai a fundo. É um falso subversivo, sem talento para, de outra forma, fazer seguir com classe sua pobre narrativa.

Visões da Europa – vários diretores 0
Um grande episódio: Prólogo, de Bèla Tarr. Alguns poucos simpáticos (os de Tony Gatlif, Fatih Akin, Aki Kaurismaki) e uma imensa maioria francamente dispensável, sendo condescendente.

Feminices – Domingos de Oliveira * * *
Saborosa investigação acerca da feminilidade. Ele filma, e finge se interessar pelas mulheres de quarenta, mas está falando de todas as mulheres, como fica claro em alguns depoimentos e na própria confusão do personagem com a idade das mulheres na peça que está sendo escrita dentro do filme. Cansa um pouco na metade final, a partir da superexposição aos efeitos buscados por Domingos. Ainda assim é um belo filme, no mesmo nível atingido por Amores e Separações.

sábado, 6 de novembro de 2004

Filmes do dia 4/nov

Nos Campos de Batalha – Danielle Arbid *

Quando centra-se na amizade de duas quase irmãs, uma no início, outra no final da adolescência, na mais nova testemunhando os rolos amorosos da mais velha, dos passeios e paqueras o filme é bem agradável de se ver. O problema é quando resolve mostrar um pai autoritário e brutamontes, no alto de sua ignorância (em determinado momento ele mata um cachorro). O diretor ainda coloca os famosos clipes, onde uma canção embala uma série de acontecimentos mostrados em resumo, o que dá um agradável respiro, mas não ajuda o filme a ser mais do que um simpático e frustrante pedaço de bom cinema. Visto no DirecTV 1.

Bem me Quer, Mal me Quer – Maria de Medeiros *
Muito bom de se ver, ainda que mal editado, mas também seria muita incompetência fazer um filme desses sem deixá-lo no mínimo interessante. Um filme que deve ser visto, pelo que se discute dentro dele, não por qualquer mérito da diretora. Visto no DirecTV.

Maria Cheia de Graça – Joshua Marston *
Confesso que me escapa o porquê do encanto que esse filme tem despertado. Direitinho, cheio de concessões dramatúrgicas e uma baboseira tremenda em dar conotações religiosas à saga da imigrante ilegal por acidente. Visto no DirecTV 1.

De agora em diante, pretendo comentar os filmes que for vendo em repescagem, e as revisões, como a de Mal dos Trópicos (surpreendentemente votado como o melhor da Mostra pela crítica), que apesar da projeção medonha do Cinearte 1, confirmou-se como obra-prima máxima. Já o filme do Trapero, também revisto, continuou na mesma.

quinta-feira, 4 de novembro de 2004

Filmes do dia 3/nov

Caçados por Sonhos – Buddhadeb Dasgupta * *
Um belo filme, prejudicado por um imenso sono que me arrebatou durante sua metade final. Dois planos se destacam: o plano final, filmado como um reencontro místico; e o plano da dança das sombras numa tela improvisada de cinema. Visto em uma constante luta contra o sono no Esp. Unibanco 1.

Bem-vindo a São Paulo – vários diretores *
Irregular à beça, mas com seus momentos. Espera-se que a estrutura um tanto confussa seja melhorada na cópia definitiva. Destaques para os episódios de Tsai Ming-Liang, de Daniela Thomas e de Wolfgang Becker. Visto com o som incrivelmente ruim do Cinearte 1.

Terra Prometida – Amos Gitai *
Filmado em digital, o que explica a claudicância (êta palavra estranha) de sua mise-en-scène. Tem seus momentos, mas também exagera na falta de tom, pegando pesado em alguns momentos (o do felatio forçado, por exemplo). Mas o final é bonito, com a tragédia sendo ofuscada pela liberdade das moças. Visto no Arteplex 1.

Sobre o próximo filme, último do dia, visto às 23h no Arteplex 2, é necessária uma resposta aos amigos contracampistas, que odiaram o filme em bloco:

Por que Noiva das Trevas (de William Wai Lun Kwok * *) está longe de ser bola preta:

- porque é um filme de terror infantil, com adultos interpretando papéis de crianças, por isso não faz sentido atacar as atuações, propositadamente infantilizadas. Achei que fossem idiotas ao final da projeção, mas depois a ficha caiu: são mesmo crianças aprisionadas em corpos adultos, o que por si só já é um elemento de terror. Temos o menino tímido e que se tornará homossexual, temos a menina saidinha, que gosta de brincar de médico com dois meninos, um deles (Sissi) o amiguinho querido, o outro sendo aquele durão que enfrentava os muleques da turma da rua de cima (no filme, os gangsters), e que desperta o lado mais sensual da menina, em sua pré-puberdade. O uso da trilha explica o porquê de se intuir o sobrenatural, como as crianças imaginam um monstro debaixo da cama, ou a espreita atrás de uma porta. Tem até ranger de móveis, fator sempre amedrontador em crianças.

- porque faz um comentário, por vezes equivocado, mas muito interessante dos experimentos do "filme de arte" (por favor, leiam as áspas), desde Tarkovski (de quem o diretor William Kwok chupou descaradamente A Infância de Ivan no plano final). Mas as citações não param aí: Kwaidan, do Kobayashi; Eros+Massacre, do Yoshida; Lola Montés, do Ophuls (e quem disser que estou viajando, lembre-se que freqüentemente há algo vermelho em foco, deixando tudo mais desfocado - não é uma citação direta, mas uma homenagem, já que Ophuls usa muito vermelho em Lola, e sempre coloca um objeto em primeiro plano, entre a lente e o rosto dos atores). Bom...eu disse que nem sempre essas citações funcionam...

- porque tem bons enquadramentos, sim, apesar de alguns clichês de "cinema de arte".

-sobre a falta de foco, ainda não sei se foi por causa da cópia mal tirada ou da opção ophulsiana (já mencionada dois tópicos acima) elevada ao extremo.

Por que está longe de ser 4 estrelas:

- porque é mal decupado à beça, com cortes sempre precipitados, e tem vários momentos em que o diretor não tem a menor idéia de como desenvolver a rasa trama que tem em mãos.

quarta-feira, 3 de novembro de 2004

Filmes do dia 2/nov

Mal dos Trópicos – Apichatpong Weerasethakul * * *
Uma pena que um filme desses, de deixar qualquer espectador de verdade atordoado, tenha sido sabotado por um monte de gente que insiste em entrar no filme quinze minutos depois do início da sessão. Depois, um demente ficava fazendo barulho com uma sacola, e não adiantava reclamar que ele fazia mais. Como não queria cometer assassinato, acabei tentando abstrair a irritação. O filme? Um dos filmes com trechos dos mais maravilhosos do ano, mas falta um pequeno tanto pra ser obra-prima. Visto no Arteplex 1, com vários contracampistas, e várias pessoas desinteressadas.

Chapéu Verde – first film by Liu Fendou * *
Uma bizarrice com mudança duas mudanças de tom, ambas bem interessantes. Perde-se um pouco na tentativa de levar o espectador em uma direção específica, quando na verdade vai por outra. Chega um momento que esse artifício cansa. Mas é um filme a ser visto. Esp. Unibanco 1.

A Ferida – Nicolas Klotz * * *
Só a cena do casal sorrindo no metrô, com um princípio de adequação ao lugar, já vale o filme. Mas tem muito mais: na câmera quase sempre estática, no tempo do filme se adequando ao tempo dos personagens, no tratamento maduro do problema da imigração e seus efeitos. Faltou, talvez, uma maior contextualização do porquê da truculência policial, mas nem sei se isso pode ser considerado uma falha, já que a câmera está o tempo todo do lado dos exilados. Filme visto na poltrona massacrante do MIS.

terça-feira, 2 de novembro de 2004

Filmes do dia 1/nov

Passagens - Yang Chao * *
O tipo do filme do qual se espera mais pela simples constatação da proposta nos minutos iniciais. Você fica instigado pra ver onde vai dar tudo aquilo, com uma trama esvaziada interessantemente pela opção do diretor em trabalhar com os sentidos, explorando a paisagem como dúvida existencial dos personagens. O problema é que eu não estava à altura de conferir se o filme vai ou não muito longe. Estava com muito sono. Lutei pra não dormir no Arteplex 2.

Ouro Carmim - Jafar Panahi * *
Uma maravilhosa abertura, com belo tratamento do off screen. Depois o filme se torna modorrento em algumas partes, apesar da percepção de que algo de muito profundo está sendo analisado. Um filme com muito potencial, que Panahi não soube aproveitar completamente. Visto na Sala UOL.

Dandelion - Mark Milgard 0
Um festival de clichês, com uma trilha bacana (Sparklehorse, Cat Power...) e imagens que se pretendem profundas, mas que pela falta de originalidade afundam o filme ainda mais. Típico filme independente americano onde as intenções são muito mal trabalhadas, atrapalhando o possível trunfo do filme. Visto na UOL.

Depois teve a revisão do genial O Quinto Império, também na Sala UOL. Volto a ele quando a mostra terminar.

segunda-feira, 1 de novembro de 2004

Mostra SP – filmes de sábado e domingo, dias 30 e 31 de outubro

5x2 – François Ozon *
Ozon consegue alguns momentos de interesse, principalmente nos episódios 2 e 5 (curiosamente os dois números do título). Mas os outros padecem do mal de Ozon, no qual a câmera parece mais desinteressada, e o diretor busca efeitos mais poéticos com menos entrega aos personagens. Visto no Arteplex 1.

O Quinto Império – Manoel de Oliveira * * * *
A segunda obra-prima absoluta da Mostra (Cinco foi a primeira, as outras eram pequenas obras-primas). A perfeita simetria de seus enquadramentos, o tempo certo do corte, a maestria na movimentação quase inexistente da câmera - ela está o tempo todo estática, mas quando resolve se mexer, muito discretamente, quase imperceptível, o movimento é genial – são coisas que tornam a definição “teatro filmado” um absurdo. Visto em seqüência no Arteplex 1, antes de apertos de mão do bom velhinho e dois minutos de sua sabedoria no hall do Frei Caneca.

(domingo de eleição)

Oh, Homem – Yervant Gianakian e Angela Ricci Lucchi * *
Documentário sobre a primeira guerra que lembra o cinema de Pelechian. A pesquisa de imagens e a montagem, que mostra as atrocidades num crescendo que busca o questionamento, são os maiores trunfos de um filme forte e que deve ser visto. Primeira sessão do domingo, já às 18:10, no DirecTV 2, onde encontro com várias pessoas, incluindo Inácio Araújo, Ruy Gardnier e Eduardo Valente, que gostaram do filme Um Dia Depois do Outro, do Gitai.

Sangre – Pablo Cesar * *
Um jeitão de filme esboço, com ações que parecem não encenadas, e momentos muito bons de poesia, que chega pela construção, não pela imposição. Filme que mostra personagens problemáticos, que chegam perto da escuridão, mas acabam por procurar a luz. Um belíssimo plano final. Visto no Cinearte 1, com um som horroroso, que deve ter feito o diretor morrer de vergonha.

Old Boy – Chan-wook Park * *
OK, o filme tem vários momentos de ruindade. Mas seus grandes momentos, e até quem não gostou do filme os reconhece, foram o suficiente pra mim. O bom uso do scope e da música, que o Chiko achou irritante (e respeito a opiniáo dele), além da esperteza do diretor em usar e abusar de artifícios do cinema cult oriental, fazem do filme uma peça irregular, mas tocante de cinema para sábado a noite, se é que isso existe. Wong Kar-Wai com Takashi Miike, ainda que seja a diluição dos dois. Visto no Esp.Unibanco 1.

sábado, 30 de outubro de 2004

Filmes do dia 29-out
(lembrando que a maior parte dos filmes aqui comentados tem textos na Contracampo – link à direita)

Um Dia Depois do Outro – Amos Gitai *
Não dá pra saber onde Gitai queria chegar com essa obsessão em mostrar casais tentando fazer sexo sem culpa. Os amantes traem, rejeitam, esbravejam, se desculpam, mas o sexo continua sendo uma enorme fonte de tensão entre eles. Poderia ser interessante, se Gitai se entregasse um pouco mais aos personagens, ao invés de se contentar com imagens que parecem existir só pra dizer: “vejam como são bobos esses burgueses, vejam como são tolamente obcecados por sexo”. Filme visto no DirecTV 2, tela com furos enormes, depois de um belo prato de arroz e feijão.

Los Muertos – Lisandro Alonso *
Carlos Reygadas fazendo escola. Mas em Japon havia uma densidade por trás do ritmo que Alonso não consegue imprimir. A proposta é louvável, ao adequar nosso ritmo ao ritmo do personagem, mas Alonso não sabe muito bem onde colocar a câmera, criando um limite de frieza que não parecia ser a intenção. O filme começa muito bem, com a câmera percorrendo a mata e revelando, vez por outra, defuntos. E tem belos momentos, mas tem também uma gratuidade em mostrar as pequenas coisas, como no final pretencioso. Um filme neo-acadêmico visto no Cinesesc. Projeção nota 10.

Bens Confiscados – Carlos Reichenbach * * *
Betty Faria no melhor papel de sua carreira, e Carlão mais uma vez inspirado na mise-en-scène, como no maravilhoso Garotas do ABC. A cena de abertura, com um movimento de câmera que sai do subjetivo para o objetivo (como De Palma faz tão bem), e a cena do primeiro beijo entre a enfermeira e o filho do político corrupto, com fusões dos telhados, são dois exemplos de como se faz CINEMA, com maiúsculas. Visto no Arteplex 2.

O Jogador de Cartas – Dario Argento * *
Argento rindo de seu próprio estilo. Por alguns momentos, o pretendido vira um tiro no pé, mas na maior parte do filme, sobra o talento autocrítico do diretor, e a tradicional habilidade com a câmera e o corte. Duas cenas podem ser consideradas a chave de leitura pretendida por Argento: a comemoração da primeira vitória no viedo pôquer, com polícia envolvendo-se no jogo do criminoso (maravilha de sutil subversão); e quando a policial dá um tiro no cd player do carro, cessando a irritante música que acompanhava o clímax do filme. Visto no Arteplex 1, com platéia que ria quando era pra rir, e quando não era também.

sexta-feira, 29 de outubro de 2004

Filmes vistos no dia 28/out

Luzes Vermelhas - Cédric Kahn * *
Belo trabalho de atmosfera, com seus deslizes, mas nada muito comprometedor. Darroussin é um dos grandes atores do cinema francês, mas Kahn, que superou um pouco o razoável O Tédio (sorry, Bruno, ouvi dizer que você adora ofilme), ainda tem que mostrar mais. Por enquanto seu cinema mostra um potencial inegável, mas nem sempre bem realizado. Visto no Arteplex 2.

Eden - Amos Gitai *
Claude Berri baixou no diretor israelense. Filme todo falado em inglês (e não é por isso que deixa a desejar) com um andamento típico do cinema de qualidade francês. A primeira meia hora é boa, mas o filme vai perdendo o interesse na medida que Gitai parece ele próprio desinteressado. Coloca a câmera em qualquer lugar, enquadra com desleixo e abandona seu fetiche pelo plano-seqüência. Visto no Cinesesc.

Berlim Jerusalem - Amos Gitai * * *
Filme complicado de se analisar. Foi o primeiro filme de Gitai que vi. Agora na revisão, algumas coisas que me impressionavam muito decepcionaram dessa vez, como o travelling final, meio arbitrário e ingênuo. É um filme forte, ainda, pelo rigor de encenação e pelos enquadramentos fassbinderianos. Engraçado como a cada filme de Gitai que vejo, mais gosto de Esther, seu primeiro longa de ficção. Berlim Jerusalem foi visto no Cinesesc.

Memória del Saqueo - Fernando Solanas * *
Filme cheio de problemas, como a exploração de imagens chocantes para se chegar à oposição política pretendida pelo diretor. Um belo exemplo é a imagem do bebê subnutrido, bem desagradável de se ver. Mas até que ponto não é necessária sua revolta, sua intenção de que a memória da crise seja preservada. O desespero de Solanas, e sua fúria com os governos que abrem as pernas para os interesses dos banqueiros, justificam-se. A maneira como ele ordena os acontecimentos, longe de um didatismo, expõe melhor o porquê de sua revolta. É cinema de oposição, sim, como Michael Moore sonha em um dia fazer. Visto no Esp. Unibanco 1.

quinta-feira, 28 de outubro de 2004

Filmes do dia 27-out

Começando com um Kiarostami e terminando com dois. Todos no Cinesesc. Nem é necessário dizer mais. E A Vida Continua, o primeiro, e os dois últimos Dez Sobre Dez (uma aula sobre cinema em dez lições) e Cinco (uma aula sobre cinema em cinco falsos planos) me fizeram ter um dia mágico, pra ficar na história da Mostra. Nem sei o que dizer de Cinco, só que é imperdível. Vale até viajar só pra ver e voltar depois. Reprogramação necessária para revê-lo em outro dia.

Voltando ao mundo dos mortais, os outros filmes do dia foram esses:

Família Rodante - Pablo Trapero * *
Um simpático e agradável retrato de uma família que viaja ao nordeste da argentina para um casamento. Câmera na mão e o habitual senso de corte de Trapero garantem o interesse. Não me entusiamou tanto quanto a alguns amigos, mas El Bonaerense também não me faz tanto a cabeça, apesar de ser um bom filme. Parece que há uma limitação em Trapero, um medo de ir fundo nas suas propostas. Algo que sobra em Lucrecia Martel. Filme visto no DirecTV 1.

Borboleta - Yan Yan Mak 0
Pieguice tem limites. O filme tem momentos em que ameaça tornar-se alguma coisa, principalmente no final. Mas não consegue. Visto bravamente até o final no DirecTV1.

quarta-feira, 27 de outubro de 2004

Filmes do dia 26/out (todos vistos no Arteplex 2, exceto Diário de Campanha, visto no Arteplex 1):

Esther - Amos Gitai * * *
Primeiro filme de ficção do Gitai. Muito bem filmado, enquadrado e decupado, com travellings geniais (característica de Gitai) como o dos atores no final. Esse último travelling a princípio me pareceu cansativo, depois eu entendi qual era a dele e curti. Poderia ser menos didático nas panorâmicas, como na cena do enformacamento de Haman, quando meninos trajados como nos dias de hoje, portando até relógios, invadem metade do quadro. Ele insiste em dizer que está falando do presente (então 1985) e dá uma panorâmica para os carros passando na rua. Pensando depois, em casa, tendo visto mais um Gitai no dia, acabei reavaliando Esther em luz do que não gostei de Diário de Campanha. Ele faria melhor em Berlin Jerusalem, mas o filme tem força. Três estrelas, mas raspando.

Mate Seus Ídolos - Scott Crary *
Um filme que fala de punk e vanguarda em Nova York só pode ser bom de ver. Mas o tempo ágil e nada democrático das entrevistas, mais a estrutura meio reacionária da coisa deixam uma impressão de que poderia ser bem melhor. Se o diretor não estivesse o tempo todo preocupado em demonstrar sua tese de traição de um movimento, poderia ter feito um filme mais solto e agradável para os ouvidos. Aqueles anos correndo no início foi uma grande bobagem. E Lydia Lunch prova que não regula mesmo muito bem...taí os filmes de Richard Kern pra provar (três deles com trechos exibidos em Mate Seus Ídolos).

O Avental de Lili - Mariano Galperin 0
Bela bobagem que tenta, com humor ralo, dar conta da crise argentina. Que montagem mais titubeante, em dúvida se imprime um rítmo ágil ou explora as desilusões dos presonagens. Total perda de tempo.

Diário de Campanha - Amos Gitai *
Documentário imperdível pela importância histórica, mas que incomoda muito, e de uma maneira meio covarde. Gitai quer fazer um libelo pacifista, mas usa a câmera como arma, principalmente quando expõe soldados israelenses ao ridículo. Lembrou o Michael Moore no episódio Charlton Heston. Quando resolve botar a câmera do lado dos palestinos expulsos, ou dos libaneses, o filme cresce. Mas ele parece mais interessado em perseguir os soldadinhos de chumbo, que nada podem fazer.

20 Dedos - Mania Akbari *
Tudo que Kiarostami e Panahi fizeram pela condição feminina no Irã, faz deste filme um desnecessário, porque mal articulado, panfleto feminista. Tudo estava muito bem até a seqüência do teleférico. Depois a coisa começa a se complicar, pois Akbari parece mais interessada nos berros, ao invés da argumentação incisiva que ela mesma faz, como atriz, em Dez. Alguns bons momentos, num todo irregular demais para ficar a altura de discípula de Kiarostami. Esperemos um segundo filme, já que ela, percebe-se, tem muito a dizer.

terça-feira, 26 de outubro de 2004

Filmes do dia 25/out.

Crepúsculo das Ninfas de Gelo - Guy Maddin *
É o filme mais fraco deles, mas como os demais, tem coisas de interesse o suficiente pra dar uma estrela. O problema é que ele usa a música de uma maneira convencional demais pra quem posa de alternativo. E haja saco pra aguentar tanta música. Visto no Cinesesc.

Contos do Hospital Gimli - Guy Maddin *
É o melhor dele dos que vi, mas ainda assim fica aborrecido pois ele não consegue segurar sua própria bizarrice por muito tempo. Pelo menos neste ele não exagera na música, tendo até grandes momentos de silêncio. Visto no Cinesesc.

Linda Cidade - Asghar Farhadi * *
Filme de interesse, sem dúvida, nem que seja pra conferir uma das mulheres mais lindas do festival: a atriz que faz o papel da irmã do condenado. Há uma discussão interessante sobre o perdão como traição, e um desfecho triste apenas pressentido pelo final classudo. Film,e bem levado pelo diretor, com boa idéia de composição de plano. Visto no Cinearte 1.

A Oitava Cor do Arco-Iris - Amauri Tangará 0
Triste que a primeira bola preta do festival seja pra um filme brasileiro, mas enfim, fugimos das possíveis bombas dos outros países, então nem é motivo de comparações apressadas. Momento clássico: a ajoelhada da cabrita Pretinha, atriz de talento nato. Filme visto no DirecTV 1.

Porão - Eric Werthman 0
Ousadia engarrafada para público de festival. Escrevi a pílula para a Contracampo.

segunda-feira, 25 de outubro de 2004

28ª Mostra SP - Dia 24/out

Cuidadoso - Guy Maddin *
O homem parece que faz sempre o mesmo filme. O mesmo clima onírico, a mesma emulação de cinema mudo, a mesma trilha hipnotizante. Bom...pelo menos pelos dois filmes que vi (o outro é A Música Mais Triste do Mundo). Mas a julgar pelo que andam dizendo, é isso mesmo. Hoje confiro mais dois, vamos ver se o interesse continua. Visto no DirecTV 1.

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Pausa na Mostra para conferir o ótimo A Fortaleza, filme de 1974 de Satyajit Ray

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La Niña Santa - Lucrecia Martel * * * *
Enquadramentos estranhos, mas que funcionam perfeitamente, privilegiando detalhes e intenções dos personagens. Uma entrega inigualável e uma habilidade no corte que poucos cineastas possuem. Martel, em seu segundo filme, já é uma das mais importantes artistas deste novo século. O equivalente daquela maravilhosa cena de O Pântano, em que as meninas cantam diante do ventilador pode ser a menina imitando a dança da mulher diante do espelho. Impossível não chorar. O final, de novo na piscina, encerra com as possibilidades dramáticas para dizer que o que importa é a absorção da experiência. Visto no Arteplex 2.

Whisky - Juan Pablo Rebello e Pablo Stoll * * *
Whisky é o que dizem os retratados no momento do clique da máquina fotográfica. Ilustra muito bem a intenção dos diretores de examinar o interesse nas aparências. Mais importante que ser feliz, parece ser aparentar uma felicidade. Jacobo não consegue sair de sua redoma de incomunicabilidade (no sentido mais profundo da palavra), e quando sua solidão é ameaçada, parece querer defendê-la com unhas e dentes. O filme não mostra ação alguma no sentido de se abandonar essa letargia, mas a esperança existe, na não aparição de Marta, na não demonstração da leitura do bilhete e consequentemente, na expressão de Jacobo ao final da experiência enganadora. Não há o clima do derrotismo, notem que todos à volta de Jacobo são simpáticos, buscam a vida, a música. Mesmo Marta, com seu jeito calado, tem lá seu jeito de buscar a alegria. Rebello e Stoll foram muito felizes em mostrar a diferença entre querer ser feliz e querer muito ser feliz. Ficam obviamente do lado dos que querem muito. E o filme é um agradável alento. Última sessão do Arteplex 1.

domingo, 24 de outubro de 2004

Só um adendo ao post anterior. Esse negócio de estrelas é mesmo complicado. Tarnation é uma estrela, mas está mais próximo de Subida da Maré, que é duas, do que dos outros uma estrela de ontem. Isso dito, vamos aos filmes de ontem:

6 e 7 - Geno Tsaava * *
Precedido de um curta do mesmo diretor, 6 e 7 tem como proposta formal voltar ao cinema de Meliès e Epstein. Fusões, efeitos ingênuos e que remetem aos primórdios do cinema, elementos que servem para ilustrar a religiosidade do diretor. Cortes inusitados como o de um espelho se abrindo ao som da New Age para um pé agitando como um rabinho de cachorro fazem deste filme uma instigante pedida. Não é para todos os gostos, e parte da platéia viu-se extremamente incomodada com a ingenuidade pretensamente de vanguarda do diretor (que no curta chega a citar Hans Richter, papa da vanguarda alemã dos anos 20). Visto no Cinesesc.

Má Educação - Pedro Almodovar * *
O cinema referencial, neste mais do que nunca, de Almodovar desta vez não me empolgou. A concepção mais onírica dos flashbacks é o aspecto mais forte de um filme que fica muito aquém do que se poderia esperar dele depois de Fale com Ela (sua obra-prima). A contraposição de rostos, que no filme anterior, entre os dois personagens masculinos principais, foi genial, neste é didática e preguiçosa. Não que Almodovar se sentisse na necessidade de explicar que tratavam-se da mesma pessoa. Veremos mais adiante que sua preocupação não era exatamente essa, já que ele confunde propositadamente toda a apreensão dos personagens pelo espectador. Pareceu mais uma tentativa de diálogo formal com Fale com Ela, para capturar o olhar do espectador. Vale como intenção, mas é limitado como linguagem. Ainda assim, um filme a ser visto. Visto no Cinesesc.

sábado, 23 de outubro de 2004

Mostra SP - Primeiro dia (22-out)

A primeira surpresa foi perceber uma mudança na posição dos legendadores. Agora eles sentam onde vários cinéfilos que conheço gostam de sentar. No Arteplex nem tanto, mas nas salas do DirecTV eles ocupam o que muitos consideram o melhor lugar da sala. Na sala 1, o lugar que encobre (desde que a pessoa fique mais abaixada na poltrona) aquele luminoso horrível de saída. Na sala 2, o lugar na frente da grade que é uma delícia de por os pés (claro, se o lugar dos deficientes físicos não estiver sendo ocupado). De resto, é sempre bom o reencontro com vários amigos que de certa forma ditam sua expectativa. Dependendo da turma, dá pra esperar um filme mais ou menos convencional, mais ou menos pra festival. Pedaço da pizza bem decente (aquele perto do DirecTV) e um almoço no Arteplex garantem a maratona. Vamos aos filmes:

A Subida da Maré - Yolande Moreau & Gilles Porte * *
Um simpático e inesperado filme de amor, com cortes redondinhos e um casal charmoso. As imagens captadas dos espetáculos funcionam muito bem e o filme tem um final classudo, apesar de previsível. Pena que é limitado e não propõe nada de novo, não arrisca. Filme visto no Arteplex 1.

Paisagem que Flutua - Carol Lai Miu- suet *
Um filme morno além da medida, com alguns achados nas composições dos planos, mas em geral modorrento. Um belo anime, com bela música garantem a estrela solitária. Filme visto do DirecTV 1.

O Revólver Amado - Kensaku Watanabe *

O diretor daquele hediondo A História de Pupu volta cinco anos depois com um maneirismo estéril e desprovido de talento. No terço final do filme, parece que o diretor é trocado e o filme começa a fluir melhor, tendo até seus momentos. Mas a proposta pré-Griffithiana de deixar o personagem chave de cada cena no centro do quadro raramente dá certo. Kitano veio depois mostrar como se faz em Zatoichi, mas isso é história para dois tópicos abaixo. Visto no DirecTV2 (que teve uma sensível melhoria na projeção).


Tarnation (Tormento) - Jonathan Caouette *
Filme que funciona muito melhor quando o diretor aplica loucura à sua maneira de editar o filme. Quando resolve filmar a mãe, ou alguma outra pessoa fazendo loucuras o filme cai numa exploração desnecessária e oportunista. Mas é um filme de talento, não resta dúvida. Visto no Espaço Unibanco 1.

Zatoichi - Takeshi Kitano * * *
Desde já, o filme mais bizarro que vi neste ano, com uma mistura inusitada de gêneros. Com um invadindo o outro numa sucessão de imagens inesperadas e surrealistas. Kitano opera o nonsense de uma maneira curiosa. Ao invés de deixar claro o procedimento, para causar o riso sem a estranheza duradoura (como nos filmes dos Zuckers com Jim Abrahams), Kitano bota qualquer ordem no chinelo e deixa o espectador verdadeiramente atônito diante de tanto absurdo. Efeitos propositadamente fake e a maestria habitual de Kitano na decupagem fazem de Zatoichi um filme imperdível. Tão bom quanto Dolls e Sonatine. Filme visto no E. Unibanco 1.

Por hoje é só. Amanhã tem minhas impressões sobre 6e 7, um filme Georgiano, e sobre Má Educação, o Almodovar da vez.

quarta-feira, 20 de outubro de 2004

Bom...depois de amanhã começa o mergulho na Mostra SP, com uma parada no segundo dia para o casamento do meu primo-xará Eduardo. Lutarei para manter este blog atualizado. Verei muitos filmes e ainda escreverei para a Contracampo. Mas uma cobertura mais leve será feita aqui. Peço desculpas antecipadas aos blogs amigos aí do lado pois vai diminuir a freqüência das minhas visitas. Espero que compreendam. Pretendo postar algo, mesmo que só as cotações, para que funcione como guia e espaço de discussão. Para os inúmeros amigos de fora de São Paulo, deixo o convite: apareçam, nem que seja por um fim de semana. E avisem pra que a gente marque uma cerveja.

sexta-feira, 15 de outubro de 2004

Tenho que adiantar o trabalho aqui na loja pra entrar de corpo e alma na Mostra SP. Sobra tempo para os famigerados comentários apressados sobre os filmes vistos:

-Amor à Tarde é dos mais belos Rohmers. Mostra a capacidade de mise-en-scène do diretor, que é capaz de mostrar a dúvida, o desejo, a pulga atrás da orelha em planos ora elaborados, ora de uma simplicidade esfuziante. Com enquadramentos geniais e aquela capacidade de captar intenções que ninguém mais, a não ser Cassavettes (de outra forma), consegue.
-A Dona da História não é tão ruim quanto Cama de Gato e Viva Voz. Aliás, perto desses é obra-prima. Mas não escapa da digníssima bola preta, que insiste em lhe perseguir apesar de Débora Falabella ser um belo contraponto ao piloto automático de Marieta Severo e Antonio Fagundes. Da série, cinema imitando, e mal, a TV. Só que agora em scope.
-Quem Bate à Minha Porta? é uma decepção. Bem...eu já não gosto muito de Boxcar Bertha, mas sempre achei que essa opinião mudaria numa necessária revisão. Assistir a este primeiro longa de Scorsese, no entanto, me levou a considerar que ele só aprendeu a filmar em Caminhos Perigosos.
-Paixão à Flor da Pele é surpreendente. Um roteiro bobo, que o diretor filma com frescor e habilidade. Vários truquinhos que normalmente me incomodam aqui caem perfeitamente. Leveza é a palavra.
-Descobrindo Chang Cheh, cortesia China Video. Dois filmes: O Templo de Shaolin é muito bom. A Pancadaria corre solta no quarto final. Antes só o ritual de entrada no templo, com os anseios por aprendizado e a perseverança dos que querem entrar no templo. Muito bonito o uso do scope com o zoom. Confronto em Chinatown é simpático, pra dizer o máximo. Mas talvez sofra na comparação. Vi logo em seguida a O Templo de Shaolin. Confronto fala tam´bém de perseverança, de um sonho de progressão, mesmo em outra cultura. Dá pra ver, mas não se deve esperar muito.
-A grande nova foi descoberta na coletiva de imprensa da abertura da Mostra de SP. Ninguém menos do que Manoel de Oliveira vem com uma retrospectiva de sua obra. Mas só em 2005. Esperar é viver.
-Parem as rotativas. Cat in the Brain entra no pedaço pra não deixar pedra sobre pedra. O blog de Fernando Veríssimo promete muito. É mais um contracampista que entra para o rol dos blogueiros: http://catinthebrain.zip.net

sábado, 9 de outubro de 2004

Deu pra fazer ainda hoje, com pressa. Perdoem uma possível leviandade.

Os filmes que eu vi no Festival do Rio:

Era Uma Vez no Oeste – Sérgio Leone (Odeon) * * * *
O começo do festival em alto estilo. Não importa que era a cópia mutilada. Ver em tela grande o brilhante tratamento de espaço de Leone, e os movimentos de câmera perfeitos.
Somersault – Cate Shortland (Esp. Unibanco 2) 0
Os problemas de uma adolescente filmados por uma diretora sem a menor noção de enquadramento. Poderia até ser simpático, mas é só anódino.
The Woodsman – Nicole Kassell (Est. Botafogo 1) *
Muitos momentos interessantes e uma interpretação especial de Kevin Bacon (provando que Clint Eastwood ensinou-o a se portar diante de uma câmera) fazem ointeresse desse filme irregular.
Quando Explode a Vingança – Sérgio Leone (MAM) * * * *
Duck, you sucker! CABRUMMM. Antológico é pouco.
No Mundo de 2020 – Richard Fleischer (MAM) * *
Meio picareta, mas sempre interessante (principalmente por ser picareta). Não é dos grandes Fleisher, ficando a milhas de Os Novos Centuriões, o filme anterior.
Água Viva – Kyoshi Kurosawa (Esp. Unibanco 2) * *
Uma decepção, mas se trata de um bom filme, mais por planos isolados (e antológicos) do que por uma unidade de atmosfera nunca alcançada.
Casa dos Bebês – John Sayles (Est. Paissandu) * *
As imagens durante os créditos, a conversa de Maggie Gyllenhall com o namorado, e o final antológico já fazem deste um bom filme de Sayles, ainda que inferior ao Brother From Another Planet.
Capitão Sky e o Mundo de Amanhã – Kerry Conran (Est. Botafogo 1) *
Filme simpático que melhora na segunda metade, com a demolição de todas as possibilidades exageradamente românticas sendo bombardeadas.
O Coração é Traiçoeiro Acima de Todas as Coisas – Asia Argento (Esp. Unibanco 2) *
Mais um filme anódino. Não entendi a comoção do Valente e do Gardnier. Tem seus momentos, mas no geral é uma bobagem feita pra impressionar públicos de festivais.
Undertow – David Gordon Green (Est. Botafogo 1) * *
Outro filme irregular, mas que mostra o talento de Gordon Green. Preciso ver o filme anterior (Prova de Amor), muito elogiado por vários amigos.
Alexandria, Nova York – Youssef Chahine (Esp. Unibanco 1) *
Chahine desta vez não trabalhou muito bem a junção de kitch e subversão, magistral em A Outra. O filme se desgasta durante uma duração excessiva, que não se justifica. E a piada que de início parece uma boa sacada (americanos falando árabe) se esgota com meia hora de projeção.
Um Dia Quente de Inverno – Stéphane Vuillet (Esp. Unibanco 1) * *
Um dos melhores finais de filme do festival, o que engrandesce ainda mais este filme bem simpático, ainda que com momentos pouco inspirados, principalmente no início, com uma indecisão no posicionamento da câmera que incomoda bastante. Nesse caso, o desleixo formal parece limitação, antes de tentativa de imprimir estilo.
A Última Vida no Universo – Pen-Ek Ratanaruang (Esp. Unibanco 1) *
É o típico filme de festival, com posições estranhas (e burras) da câmera e um andamento que parece buscar a poesia a cada seqüência, raramente a encontrando.
Anatomia do Inferno – Catherine Breillat (Esp. Unibanco 1) * * *
O filme mais ousado (entre os que vi) de Breillat desde Une Vrai Jeune Fille. Ousadia sempre salutar, com questionamentos intelectuais que não incomodam e a tradicional habilidade dela em filmar olhares e corpos femininos se movimentando. Uma ode à condição feminina de deflagradora e ameaçadora ao mesmo tempo.
Por um Punhado de Dólares – Sergio Leone (E. Unibanco 1) * * * *
Joe...Oh, Joe...Joe.

Não tenho como mandar o balanço final e parcial (15 filmes) do Festival do Rio hoje. Mando na segunda sem falta. Queria só colocar o link de um novo blog, o de Leandro Caraça, que achei bem legal. Outro que vale a pena seguir:

http://buchinsky.zip.net/

quinta-feira, 7 de outubro de 2004

Ainda não vi uma obra-prima neste Festival do Rio, tirando claro os dois Leone vistos em tela grande (meus primeiros Leone vistos como se deve). Um deles, Quando Explode a Vingança, já era o meu preferido dele, e continua sendo um filme maravilhoso em todos os aspectos. Era Uma Vez no Oeste, mesmo picotado (era a versão americana), deixa qualquer cinéfilo com o coração na boca pelo tratamento genial do espaço e pelos movimentos de câmera perfeitos, alternando com os mais belos closes do cinema.
Tirando Leone, vários bons filmes, dos quais os melhores talvez sejam Água Viva, de Kyoshi Kurosawa; e Casa dos Bebês, de John Sayles. Mas amanhã (sexta) tem o dia mais corrido do festival, onde verei cinco filmes no mesmo cinema, e depois pegarei o ônibus pra sampa, onde trabalharei no dia seguinte. Tem Chahine, Breillat e mais um Leone. Promete ser o melhor dia do festival. Pena que será o último. Por outro lado...a mostra de SP já vai começar...

terça-feira, 5 de outubro de 2004

Um acidente na Dutra fez com que o ônibus atrasasse duas horas. Cheguei em cima da hora para ver Era Uma Vez no Oeste, com uma cópia picotada e bem riscada nos finais de rolo. Mas o filme, em tela grande, sobrevive a qualquer coisa. Se transformado num clipe de cinco minutos seria, ainda assim, uma obra-prima. Depois, dois filmes perdíveis. O australiano (Somersault) é bem fraco. The Woodsman tem coisas boas, mas não chega a ser bom. Quando eu achar um cyber-café mais veloz eu mando um outro boletim.

sexta-feira, 1 de outubro de 2004

Setembro vergonhoso, graças ao novo apê. Revisões em itálico:


Os Guardas Chuvas do Amor - Jacques Demy (DVD) * * * *
Garotas do ABC - Carlos Reichenbach (Esp. Unibanco 1) * * *
Fragmentos de um Filme Esmola - João Cesar Monteiro (CCBB) * * * *
Que Farei eu com Esta Espada? - João Cesar Monteiro (CCBB) * *
A Vila - M. Night Shyamalan (Bristol 1) * * *
Colateral - Michael Mann (Arteplex 5) * *
Bubba Ho-Tep - Don Coscarelli (DVD) *
Redentor - Claudio Torres (Arteplex 6) * *
Primavera Verão Outono Inverno...e Primavera - Kim Ki-Duk (Arteplex 9) 0
Antes do Pôr do Sol - Richard Linklater (Arteplex 1) * * * *
Diário de uma Paixão - Nick Cassavettes (Gemini 2) * * *
O Homem do Braço de Ouro - Otto Preminger (DVD) * * * *
Josey Wales, O Fora da Lei - Clint Eastwood (DVD) * * * *
Hard Eight - Paul Thomas Anderson (DVD) * *
Cama de Gato - Alexandre Stockler (Esp. Unibanco 2) 0
Nashville - Robert Altman (DVD) *
Hatari - Howard Hawks (DVD) * * * *
Freddy Got Fingered - Tom Green (DVD) * * *
Kill Bill Vol.2 - Quentin Tarantino (Arteplex 3) * * *
La Cifra Impar - Manuel Antin (Cinesesc) * *
O Terminal - Steven Spielberg (Alto Cafezal 1) *
Masques - Claude Chabrol (DVD) * * *

quarta-feira, 29 de setembro de 2004

Muitas coisas boas em O Terminal, mas é o pior dos últimos filmes de Spielberg. Cai muito no terço final, com um gosto exagerado pelo açucarado, e uma insistência em terminar e fechar o ciclo dos personagens. Um bom exemplo disso é o final, que deveria ser com Hanks assistindo ao show do jazzista. Mas o diretor acredita na necessidade de fazer com que o personagem alcance seu objetivo. Entre uma e duas estrelas.

Mudando de assunto, hoje é dia de Blow Up, de Antonioni, no Cinesesc. Passa dentro da mostra de filmes inspirados em Júlio Cortázar. Eu só vi em tela pequena, então se eu desaparecer, procurem nos hospitais.

Dentro dessa mostra, vi o filme de Manuel Antin, o interessante La Cifra Impar. O filme é bem devedor de Antonioni e Resnais, mas segura seu interesse principalmente pela habilidade de Antin de construir uma atmosfera onírica. Pelo jeito ele deve ter visto O Ano Passado em Marienbad umas oitenta vezes. A confusão proposital entre o que se passa em Buenos Aires ou Paris também depõe a favor do filme. Especialmente em paralelo à relação entre o passado e o presente que o diretor não se esforça nem um pouco em tornar didática, ainda bem. Segundo um amigo que conhecia muito bem as duas cidades nessa época (1961-62), era muito fácil pensar que estava em uma quando se estava na outra.

quinta-feira, 23 de setembro de 2004

Negócio é o seguinte: Kill Bill vol 2 é infinitamente inferior ao primeiro, apesar de ser um belo filme. O negócio de dizer que os dois são o mesmo filme é um delírio mastodôntico. Não importa o que o diretor diz. É só ver com o mínimo da atenção. O tratamento é totalmente diferente, não tendo o nº2 a estrutura musical / sinfônica do primeiro. A preocupação com o espaço cênico persiste, mas é bem menos rigorosa. E a concepção dos confrontos chega a ser oposta. Se existe frieza em algum dos filmes é neste. E isso é uma provocação bem direta ao novo ermitão. Kill Bill vol 2 é o terceiro melhor filme de Tarantino.

terça-feira, 21 de setembro de 2004

Nashville (1975) Robert Altman *
Quem gosta do diretor deve adorar esse filme que tem todos os problemas que os detratores dele geralmente encontram espalhados pelo filme. Portanto, ao identificar os problemas (ausência de entrega; planificação dos personagens de uma maneira canhestra, apenas para provar a genialidade do autor; ausência de foco narrativo - artifício muito difícil de funcionar, mas que quando funciona vai muito bem), é incrível como o filme ainda se segura (mal e porcamente apoiado em dois ou três planos geniais) e escapa da bola preta. Há um plano que basta para isso: quando o country star começa uma canção de amor e pelo olhar dele, as outras pretendentes percebem que a canção se dirige a uma outra, que está isolada no fundo do salão. Um momento digno de quem sabe filmar, mas só atinge o status de artista nas raras vezes que abandona suas pretensões de deflagrador das mazelas desses seres tão inferiores, os humanos.

Diário de uma Paixão (2003) - Nick Cassavettes * * *
O que surpreende não é que o filho do grande Cassavettes seja um bom diretor, o que surpreende é a capacidade de tornar um filme algo digno de se desprezar a partir de um trailer que acentua os seus problemas. Pois o que o filme do filho tem de pior (a música over e piegas e uma tendência a fazer imagens de cartão postal), e que é tornado trunfo pelo trailer, é diminuído durante a projeção porque está bem inserido na trama. A música não é onipresente como parecia e as imagens de cartão postal têm justificativa, justamente por mostrar o lado campestre da relação, uma possível moldura para um relacionamento feliz e de acordo com a personalidade dos amantes. Um belo melodrama, legitimo afilhado de John Stahl e Douglas Sirk.

quinta-feira, 16 de setembro de 2004

Mais comentários rápidos sobre filmes vistos:

Colateral é mais uma prova da habilidade de Michael Mann. Se não é tão bom quanto Fogo Contra Fogo (ainda seu melhor filme), também não tem tantos problemas quanto O Informante. O único problema é que o filme segue em banho maria, apesar de muito bem filmado, até a seqüência do tiroteio na casa noturna, a dois terços do final do filme. Daí em diante o filme melhora, tendo inclusive uma outra grande seqüência (que poderia durar mais), de perseguição em um prédio comercial sem iluminação.

Redentor é, como disse o Inácio Araújo, o filme mais interessante da Conspiração. Ainda que Claudio Torres seja meio tateante entre o rebuscamento mau feito e a segurança de explorar os atores (Pedro Cardoso, por exemplo, está irrepreensível - é sua melhor atuação). Alternar plongée com contra-plongée é um artifício que só os grandes sabem fazer. E Torres fez muito mal. Mas o filme se segura bem, especialmente depois que fica despirocado.

Sobre Primavera, Verão, Outono, Inverno e... Primavera não tenho algo a dizer, a não ser que é um dos maiores convites ao sono que testemunhei neste ano. Kim Ki-Duk sempre me pareceu um embuste, mesmo com aquela enganação chamada A Ilha.

O melhor filme de Richard Linklater é, sem dúvida, Before Sunset. Aqui, ao contrário dos demais filmes do diretor, é justo falar em Rohmer, pois como ele, Linklater capta muito bem as intenções dos personagens, o momento em que eles hesitam em seguir seus impulsos. A entrega existe, e era o que faltava a Before Sunrise, que é um bom filme, mas se perde numa busca por um estilo que sufoca o que não está na superfície dos personagens. E o final é de antologia.

sábado, 11 de setembro de 2004

Edital do Minc + mudança de endereço (pra um lugar mais perto da loja, finalmente) me deixaram bastante atolado, com diversas pendências. Nem tenho visto filmes, pelo menos em casa. Vi dois Monteiros que não conhecia, na saleta de video do CCBB (com platéia ruidosa e burra): Fragmentos de um Filme Esmola, verdadeira obra-prima equivocada, irregular à beça, mas maravilhoso na maior parte. E Que Farei eu com Esta Espada?, meio panfletário e tolo, mas com grandes momentos, como é de praxe no diretor. Ainda assim é seu filme mais frágil.
Vi A Vila, e não achei tudo isso, embora o texto do Junior, que começa esquisito, mas termina muito bom, me tenha feito reavaliar positivamente. Talvez seja o melhor filme dele. E é melhor que Sinais fácil fácil.
Pra terminar, mais um blog adicionado: www.melodiadoolhar.blogger.com.br, do assíduo Zé do Cinema. Vale a pena acompanhar.

quarta-feira, 1 de setembro de 2004

Agosto em filmes (em itálico as revisões):

Sabu - Takashi Miike (DVD) *
Hellboy - Guillermo Del Toro (Bristol 5) * * *
Starsky & Hutch - Todd Phillips (Bristol 7) * *
The Royal Tenembauns - Wes Anderson (DVD) * * *
Fahrenheit 9/11 - Michael Moore (Bristol 1) *
Ringu - Hideo Nakata (DVD) * *
Incubus - Leslie Stevens (Cinesesc DVD) * * *
Audition - Takashi Miike (Cinesesc DVD) * * * *
Mulheres Perfeitas - Frank Oz (Bristol 4) *
Vive L'Amour - Tsai Ming-Liang (Cinesesc) * * * *
Minha Mãe Gosta de Mulheres - (Cinesesc) *
O Rio - Tsai Ming-Liang (Cinesesc) * * *
Deus Vomita os Mornos - Robert Guédiguian (CCBB) * *
O Buraco - Tsai Ming-Liang (Cinesesc) * * * *
Hellboy - Guillermo Del Toro (Bristol 5) * * *
Below - David Twohy (DVD) * *
Perfect Strangers - Larry Cohen (DVD) * * *
Efeito Borboleta - Eric Bress/J.Mackye Gruber (DVD) *
Sul Vermelho - Robert Guediguian (CCBB) 0
Legally Blonde - Robert Luketic (DVD) *
Legally Blonde 2: Red, White and Blonde - Charles Herman-Wurmfeld (DVD) *
Ligado em Você - Peter & Bobby Farrely (DVD) * * *
À Beira da Loucura - John Carpenter (DVD) * * * *
Rastros de Ódio - John Ford (DVD) * * * * * * * * * * * * * * * * * * * *
Pecados de Guerra - Brian De Palma (DVD) * *
Out of the Past - Jacques Tourneur (DVD) * * * *
Amores Expressos - Wong Kar-Wai (CCBB) * * *
One False Move - Carl Franklin (DVD) * * * *
In Hell - Ringo Lam (DVD) * *
Meu Nome é Coogan - Don Siegel (DVD) * * *
Copacabana Mon Amour - Sganzerla (Cinesesc) * *
Testemunha de Acusação - Billy Wilder (VHS) * * * *
Young Mr. Lincoln - Jonh Ford (VHS) * * * *
Donnie Darko - Richard Kelly (DVD) * *
Eu, Robô - Alex Proyas (Bristol 3) * *
Olga - Jayme Monjardim (Bristol 1) 0
Freaky Friday - Mark Waters (DVD) * *
Passion - Jean-Luc Godard (Top Cine 2) * * * *
La Marquise D'O - Eric Rohmer (Top Cine 2) * * * *
O Agente da Estação - Thomas McCarthy (DVD) * *
Grande Menina, Pequena Mulher - Boaz Yakin (DVD) *
Garotas do ABC - Carlos Reichenbach (Esp. Unibanco 1) * * *
A Inglesa e o Duque - Eric Rohmer (DVD) * * *

sábado, 28 de agosto de 2004

Blade II é ainda mais referencial do que Hellboy, onde cada imagem parece homenagear alguém. Um belo momento: a referência a Rastros de Ódio, como Wesley Snipes pegando o Kristofferson no colo dizendo "Let's Go Home". Alguns trejeitos que seriam melhor explorados em Hellboy, inclusive o final surpresa pós resolução da trama. Bem melhor que o primeiro, sem dúvida, mas ainda aquém do que Guillermo Del Toro poderia fazer.

www.cineimperfeito.com.br

para reparar um grande esquecimento. Só ontem percebi que não tinha link aí do lado.
Dossiê Carlos Reichenbach imperdível.

E Garotas do ABC é bonito à beça. Um dos melhores dele. Até uma referência que poderia ser óbvia (a Fritz Lang) vira momento mágico. Pau a pau com Alma Corsária.

quarta-feira, 25 de agosto de 2004


o filme em questão


cena genial, filme idem.


donnie darko

hehe...prometo que um dia eu aprendo a mexer nesse troço das fotos.

Filmes que valem (ou não) um comentário:

Donnie Darko
Caí feito um patinho na picaretagem do estreante Richard Kelly. Filme com diversos momentos muito bons, principalmente pela capacidade do diretor de criar abstrações, como a do clipe logo no começo, e algumas coisas mal trabalhadas também, no romance com a esquisitinha e nas cenas do colégio. Nem sei se Jake é um bom ator, me parece que depende muito do papel e do diretor, mas neste filme ele convence, e muito. O clima de suspense criado em cima de Harvey, ops...Frank, o amigo imaginário é eficiente e o filme peca um pouco pela crença inflexível no destino. É meio como se todo o filme girasse em falso, pois é construído sobre uma hipótese descabida. Mas me engana que eu gosto. Fora que na trilha tem uma excelente versão para "Mad World", excelente canção do primeiro e genial disco dos Tears For Fears. Kelly é um diretor a se acompanhar.

Sexta-Feira Muito Louca
Mais um nome a ser seguido é o do diretor Mark Waters, cujo Meninas Malvadas pode ser tudo, menos desinteressante. Seu cinema sonha com a compreensão, com a aceitação de uma pessoa totalelmente diferente de você, e a partir dessa aceitação, com a mudança de si mesmo pela capacidade de aprender com as diferenças. Meninas Malvadas é mais bem acabado, mas aqui já se ficava clara essa preocupação humanista, antes de qualquer intenção de provocar o riso. Que vem, menos pelas gags do que por uma identificação meio envergonhada do absurdo que é nossa mente.

Olga
Disse no blog do Peerre que não ia mais escrever sobre o filme, pois o texto dele tá muito bom, assim como o do Werneck para a Contracampo, mas de uma maneira diferente. Pena que Monjardim, quando tem uma idéia razoável (copiar Scorsese e Fassbinder), o faz mal e porcamente. Alguém lembra de seus jogos com reflexos, que ficam até bonitos, mas são estragados por um corte hediondo; ou com a banalização do close, algo que não é exclusivo da TV, mas deve ser usado com parcimônia, ou ter uma proposta construída para isso (Cabo do Medo, de onde ele tirou os efeitos com o foco – além de Vivendo no Limite, no caso do efeito das bolas coloridas).

Eu, Robô
Um bom filme, principalmente da metade pro fim. Com um plano final de assustar, como há muito não se fazia. Sonny é especialmente fotogênico, e isso é um mérito evidente. Piscadelas a parte.

A Mocidade de Lincoln
Grande filme. Não é excessivamente reverente como eu havia percebido na primeira vez em que o vi. Filme que valoriza o contraplano de uma maneira absurda, que devia servir de lição para os Monjardins da vida.


segunda-feira, 23 de agosto de 2004

Terceira visão de Copacabana Mon Amour, que continuo achando bem inferior a Sem Essa Aranha. O desleixo formal incomoda mais que em qualquer outro filme (excetuando aqueles que são ruins) da épóca. Mas o que mais incomoda é uma sensação de não saber direito onde se quer chegar. Parece provocação e nada mais, e como tal, é talentosa, mas limitada. Lembro que o saudoso Jairo Ferreira não gostava da magia negra do filme, contrapondo-a a seu genial uso em Perdidos e Malditos, de Geraldo Veloso.
Curioso, não dou * * * pra nenhum do Sganzerla. Bandido, Mulher de Todos e Sem Essa Aranha são * * * *, Abismu é 0, Todos os outros são * *. Vamos ver se a revisão de seus filmes em cinema muda esse quadro.

Testemunha de Acusação (1958) – Billy Wilder * * * *
Increditável como Wilder subverte o que deveria ser um filme de tribunal, mas acaba sendo uma ode ao romance da terceira idade. O par romântico central é na verdade o advogado que acaba de sair do coma e sua enfermeira (Charles Laughton e Elsa Lanchester), e passa o filme se maldizendo. Mas no último e genial plano, saem abraçados do tribunal. Tyrone Power, o astro, passa o filme inteiro como corno manso, e depois revela-se como o mais mau-caráter. Dietrich (que não gostou de trabalhar com Wilder) começa como a sacana e termina como a passional injustiçada. Wilder subverteu até o whodonit habitual de Agatha Christie. Criou contra planos que renegam, ao mesmo tempo em que fingem enaltecer, o engenhoso estilo da escritora. Exemplo máximo nas cenas entre os advogados no escritório, todos vulneráveis (principalmente Laughton) à inspeção mental da câmera. Wilder se apega aos detalhes, mas separa-os da caracterização positiva que Agatha Christie usualmente fazia do personagem, para alçá-los como excentricidade pura e simples, sem que isso queira dizer habilidade de raciocínio (como o Laughton brincando com as pílulas). É o jogar xadrez como exercício para melhor jogar xadrez. E o que é aquele plano com a estátua da justiça em obras? Parece ter sido um delicioso acaso. Havia o perigo de tornar desinteressantes as cenas em que Laughton não estivessem, mas isso não aconteceu. A maestria de Wilder (que tinha uma enorme noção de enquadramento e de onde colocar a câmera, ao contrário do que muita gente pensa) consiste também no corte no momento certo. Ele dita o ritmo perfeitamente. E a decupagem alcança o sublime nas cenas do tribunal. Principalmente quando a câmera focaliza a enfermeira, ou quando está atrás do juiz, ou atrás da testemunha da vez. É aí que fica claro do que o filme trata. Poucas vezes um amor que que tem medo de aflorar, apesar das evidências, foi tão bem captado por uma câmera.

sábado, 21 de agosto de 2004

Meu Nome é Coogan (1968) - Don Siegel * * *
Adorável comédia, e desbragada, de Siegel. Com a clássica confrontação cowboy-urbano do cinema americano. Dá pra rir muito, e inclusive com Lee J. Cobb, inspirado como tenente de polícia. Depois o filme se perde um pouco no retrato da psicodelia. carrega nas tintas e perde o timing, mas continua como um bom policial. Se a troca de gêneros não foi operada tão bem como se esperava de Siegel, Clint está muito à vontade, e a trilha de Lalo Schifrin é muito bem explorada. Só havia visto o filme em cópia dublada.

One False Move (1991) - Carl Franklin * * * *
Pequena obra-prima que se insinua noir, e tem mesmo elementos do gênero, mas vai em direção oposta. Um brilhante ensaio sobre o desejo como algo norteador de toda a vida. caminhos que se tomam e nos tornam prisioneiros de um destino inglório. Um belo roteiro de Thornton, antes de virar xodó. Só o preconceito racial, quando explicitado, poderia ter um tratamento melhor, mas nada que comprometa a estrutura humanista do filme. Que aliás, fala de tantas coisas, sugere tantos caminhos, que fica difícil não acompanhar o diretor Franklin, mesmo depois do insatisfatório Out of Time (esqueci o nome em português). No começo, parece que a interpretação de Bill Paxton vai incomodar, mas depois terminamos achando-a muito boa, com seu jeitão caipira do Arkansas. E o plano final é um dos mais belos que vi nos últimos anos. Digno do melhor Eastwood. Ainda retomei contato com a música de Pete Haycock, líder de uma banda muito boa dos 60/70 chamada Climax Blues Band. A trilha, na maior parte composta por ele em seu modesto estúdio caseiro, é muito bonita. Acentua o clima de desolação, em contraposição à vida maluca de L.A.. Contraposição, aliás, muito bem explorada no desejo de Paxton de ser um policial de verdade, já que em sua pacata cidade ele nem precisava usar sua arma. Ajudando os tiras da California, ele se sentiria mais útil à sociedade, mais herói americano. Filme de sensações, antes de qualquer coisa.

Amores Expressos (1994) - Wong Kar-Wai * * *
Belo filme, sem dúvida. Trabalhado com uma noção estética bem peculiar, e algo devedora da estética buscada nos anos 80 (principalmente a francesa, de Carax e Beinex). O filme cresce muito quando entra em cena a maluquinha Faye, viciada em California Dreaming. E com o belíssimo final, com os afazeres do dia-a-dia sendo trocados como forma de se aproximar da pessoa amada.

quarta-feira, 18 de agosto de 2004

Achei este texto no meio dos meus arquivos. Pela data, acho que o escrevi pensando no texto enorme sobre ele para a Contracampo. Não sei por que abandonei essa linha, bem diferente da que acabei tomando. Talvez o texto ficasse melhor...

DAVID CRONENBERG

Cronenberg é filho de maio. Nasceu no dia 15, ano de 1943, auge da Segunda Guerra Mundial. Sua inspiração é norteada pelos ventos frios da primavera do hemisfério norte. Sua cidade natal, Toronto, queria pertencer aos Estados Unidos, dada a extrema voluptuosidade de sua cultura. Seu cinema parece apátrido, quando não toca no cerne da dualidade inglês-francês de seu país. Não é a toa que alguns de seus filmes, especialmente os primeiros, sejam ambientados em Quebec, onde a língua francesa se impõe. Cronenberg gosta da ambigüidade. Sente-se bem no território do "será que é isso mesmo" no qual seus filmes habitam. Falando em língua francesa, o médico de nome francês (Saint-Luc) de Calafrios, responsável pela saúde dos moradores de um condomínio numa ilha no Canadá francês, irrita-se com o casal de idosos que mal entendem seu inglês. Parece haver aí uma zombaria com a condição de Quebec de oásis francófono. Mas essa dispersão só seria possível até seu terceiro filme. À partir de Rabid (1977), seu cinema torna-se obsessivo e técnico, com uma frieza peculiar, como a de um cientista maluco que acredita ter a fórmula do melhor viver. Por isso a ciência está sempre presente em seus filmes, invariavelmente e acintosamente como propulsora de males involuntários que colocam o ser humano em risco. Mas o que é ser humano para Cronenberg?

sábado, 14 de agosto de 2004

Top 10 Godard: (se o blogger não sabotar novamente)

1) Pierrot le Fou
2) O Desprezo
3) Weekend
4) Passion
5) Elogio ao amor
6) Prénom: Carmen
7) O Pequeno Soldado
8) Alphaville
9) Alemanha Nove zero
10) JLG por JLG

quarta-feira, 11 de agosto de 2004

Below (2002) - David Twohy * *
É melhor do que os dois com Vin Diesel. Zé do Cinema tinha razão. O diretor consegue criar um clima claustrofóbico de primeira. Pena que a trama resolva-se de maneira meio tacanha quando eles escapam do submarino. Até então o filme estava sendo bem levado. Optou-se pelo descarte do sobrenatural, visto como um peso na consciência dos oficiais. Seria melhor ter assumido sua porção terror. E voltado a explorar os reflexos e sombras que existem pelo filme.

Efeito Borboleta - Eric Bress/J.Mackye Gruber (2004) *
" " Director's Cut (DVD) 0

(quem não viu, não leia. eu conto o final...um deles, que seja...hehe)

É muito estranho quando se arruma um jeito de voltar ao passado para consertar algo que deu errado e no final termina-se por desistir de sua própria existência. Pois o director's cut desse filme cult que ainda está em cartaz por aqui propõe exatamente isso. Na faixa de comentários, eles dizem, dando risada, que seria difícil uma platéia gostar de um final assim. Cada um dos diretores, no final que eles desejavam (se é que isso é pra ser levado a sério) beija uma das atrizes no final. Hummm...e ainda dizem que é bom ser diretor numa hora dessas...OK. Fica avisado que no próximo filme dos dois podemos encontrar belas mulheres, escolhidas a beijos...mas uma péssima crença no ser-humano. Nas duas versões, por exemplo, em um dos possíveis futuros que o personagem tem, ele vê sua mãe morrendo de câncer porque começou a fumar depois de um acontecimento envolvendo ele quando criança. Hummm...propaganda anti-tabagista. Filme simplório de dar dó, apesar de algumas sacadas interessantes nos movimentos de câmera.


quinta-feira, 5 de agosto de 2004

Sessão Dupla do Comodoro

Eu já havia visto Incubus, com certa dificuldade pois o DVD travou na hora que William Shatner pega a mão de Alysom Ames. Tive que progredir até o final com a velocidade em 1/4. Na revisão, ficou claro que não se apega ao filme por sua incursão no gênero terror, mas por sua elaboração formal, nada menos que fascinante, onde cada plano adquire uma força enigmática. Um trabalho com geometria dentro do plano e muitos contrastes de luz e sombra. Muito se deve a Conrad Hall, que assina a fotografia , mas, como bem disse o amigo Eduardo Aguilar, pouco sei onde acaba a idéia visual de Hall e começa a de Stevens, já que nada mais vi desse diretor.
Audition, o segundo filme, é o melhor trabalho de Takashi Miike entre os que vi. Gozu acho mais interessante do que bom (bem...na verdade, é BOM), com uma loucura bem-humorada e que deixa uma agradável sensação de que perdemos o sentido da coisa. Mas tem um ritmo um tanto equivocado, de um toque só, o que prejudica as cenas mais delirantes (pois não as vemos com tanto interesse como mereciam ser vistas). Sabu é filme de arte, acadêmico, mas muito bem filmado. Decepcionante porque se espera de Miike muito mais do que a simples convenção. Audition é outra coisa. Um filme que dá um nó em sua própria estrutura de filme romântico sensível - muito bem construída, diga-se de passagem - para entrar num onirismo que só tem paralelos atualmente em David Lynch. Pensei no genial Kyoshi Kurosawa, com seus planos rígidos para mostrar a incapacidade de se entender o sobrenatural. Mas Miike não se leva a sério. Brinca com o espectador a todo momento, como fica claro na hora em que o pé é decepado, onde a câmera só é colocada do lado de fora da janela para filmar o pé sendo jogado contra o vidro, deixando uma incômoda mancha de sangue. O riso é inevitável, mas tenso. Rimos do absurdo, da crueldade inusitada de uma menina tímida. Rimos sobretudo para afrouxar o crescente desespero em que a seqüência nos coloca.

segunda-feira, 2 de agosto de 2004

Filmes de julho (em itálico os revistos):

Shrek 2 - Andrew Adamson + 2 (Arteplex 6) *
Vento do Leste - Godard (CCBB) * * *
Brève Traversé - Caterine Breillat (DVD) * * *
Incubus - Leslie Stevens (DVD) * * *
Monster - Patty Jenkins (DVD) 0
Homem Aranha 2 - Sam Raimi (Bristol 1) * * *
Santa Sangre - Alejandro Jodorowski (Cinesesc) * * *
Cannibal Holocaust - Ruggero Deodato (Cinesesc) * * * *
Pickpocket - Robert Bresson (Cinesesc) * * * *
Os Amantes de Katie Tippel - Paul Verhoeven (DVD) * * *
O Quarto Homem - Paul Verhoeven (DVD) * * * *
As Damas do Bosque de Bologna - Robert Bresson (Cinesesc) * * *
Business is Business - Paul Verhoeven (VHS) *
Operação França - William Friedkin (DVD) * * *
Meninas Malvadas - Mark S.Waters (Bristol 4) * *
Robocop - Paul Verhoeven (DVD) * * * *
O Vingador do Futuro - Paul Verhoeven (DVD) * * *
Instinto Selvagem - Paul Verhoeven (DVD) * * *
Tropas Estelares - Paul Verhoeven (DVD) * * * *
Conquista Sangrenta - Paul Verhoeven (DVD) *
Antes do Amanhecer - Richard Linklater (DVD) * *
O Analista do Presidente - Theodore J. Flicker (DVD) * *
Confidence - James Foley (DVD) *
Sadomania - Jess Franco (DVD) *
Eclipse Mortal - David Twohy (DVD) *
A Batalha de Riddick - David Twohy (Bristol 7) *
Soldado de Laranja - Paul Verhoeven (DVD) * *
O Homem Sem Sombra - Paul Verhoeven (DVD) 0
Showgirls - Paul Verhoeven (DVD) * *
Zombie - Lucio Fulci (VHS) * * *
Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças - Michel Gondry (Bristol 1) *
Jogo de Sedução - Matthew Parkhill (Bristol 6) * *
Passion - Jean-Luc Godard (Top Cine 1) * * * *
Spartan - David Mamet (DVD) * *
Fantasmas de Marte - John Carpenter (DVD) *