segunda-feira, 25 de outubro de 2004

28ª Mostra SP - Dia 24/out

Cuidadoso - Guy Maddin *
O homem parece que faz sempre o mesmo filme. O mesmo clima onírico, a mesma emulação de cinema mudo, a mesma trilha hipnotizante. Bom...pelo menos pelos dois filmes que vi (o outro é A Música Mais Triste do Mundo). Mas a julgar pelo que andam dizendo, é isso mesmo. Hoje confiro mais dois, vamos ver se o interesse continua. Visto no DirecTV 1.

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Pausa na Mostra para conferir o ótimo A Fortaleza, filme de 1974 de Satyajit Ray

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La Niña Santa - Lucrecia Martel * * * *
Enquadramentos estranhos, mas que funcionam perfeitamente, privilegiando detalhes e intenções dos personagens. Uma entrega inigualável e uma habilidade no corte que poucos cineastas possuem. Martel, em seu segundo filme, já é uma das mais importantes artistas deste novo século. O equivalente daquela maravilhosa cena de O Pântano, em que as meninas cantam diante do ventilador pode ser a menina imitando a dança da mulher diante do espelho. Impossível não chorar. O final, de novo na piscina, encerra com as possibilidades dramáticas para dizer que o que importa é a absorção da experiência. Visto no Arteplex 2.

Whisky - Juan Pablo Rebello e Pablo Stoll * * *
Whisky é o que dizem os retratados no momento do clique da máquina fotográfica. Ilustra muito bem a intenção dos diretores de examinar o interesse nas aparências. Mais importante que ser feliz, parece ser aparentar uma felicidade. Jacobo não consegue sair de sua redoma de incomunicabilidade (no sentido mais profundo da palavra), e quando sua solidão é ameaçada, parece querer defendê-la com unhas e dentes. O filme não mostra ação alguma no sentido de se abandonar essa letargia, mas a esperança existe, na não aparição de Marta, na não demonstração da leitura do bilhete e consequentemente, na expressão de Jacobo ao final da experiência enganadora. Não há o clima do derrotismo, notem que todos à volta de Jacobo são simpáticos, buscam a vida, a música. Mesmo Marta, com seu jeito calado, tem lá seu jeito de buscar a alegria. Rebello e Stoll foram muito felizes em mostrar a diferença entre querer ser feliz e querer muito ser feliz. Ficam obviamente do lado dos que querem muito. E o filme é um agradável alento. Última sessão do Arteplex 1.