sábado, 11 de dezembro de 2004

Júlio Bressane quer confundir, sempre. Lendo suas entrevistas, sempre fico mais perdido do que antes, são muitas pistas falsas, muitas palavras sem idéias e idéias sem palavras. O que julgava de fácil compreensão se revela hermético. O Gigante da América é um compêndio de tentativas de investigação da sexualidade do homem brasileiro. O homem bressaniano (Em A Agonia era Joel Barcelos, em O Gigante da América é Jece Valadão) luta para entender as mulheres, mas acaba sobrepujando-as. No filme irmão, Joel se vê diante dos mais diversos sonhos e pesadelos, vítima de um filme em processo, como sempre em Bressane, que deixa mais arestas do que seria aconselhável para se ganhar um público, que seja, mínimo. Bressane não está nem aí. Quer investigar sua mente, e seu próprio processo de criação. É por isso que seu cinema, mesmo quando claramente equivocado (Miramar, Monstro Caraíba), desperta o maior dos interesses. Se O Rei do Baralho é um filme pornográfico, exclusivamente por seus diálogos, e pela forma com que o casal protagoniza a construção de uma chanchada moderna e nostálgica ao mesmo tempo, A Agonia é quase casto, com o quase-bebê Joel falando suas várias vozes, ou fugindo de ceroula de um carro numa estrada deserta. A gênese do homem, o nascedouro de todos os seus dilemas. O Gigante da América é pleno de sexualidade, por vezes doentia, por vezes cheia de escárnio. Jece é o cafajeste, como Lewgoy lembra durante o filme. Bressane além de tudo faz um inventário do macho no cinema brasileiro.