Filmes do dia 29-out
(lembrando que a maior parte dos filmes aqui comentados tem textos na Contracampo – link à direita)
Um Dia Depois do Outro – Amos Gitai *
Não dá pra saber onde Gitai queria chegar com essa obsessão em mostrar casais tentando fazer sexo sem culpa. Os amantes traem, rejeitam, esbravejam, se desculpam, mas o sexo continua sendo uma enorme fonte de tensão entre eles. Poderia ser interessante, se Gitai se entregasse um pouco mais aos personagens, ao invés de se contentar com imagens que parecem existir só pra dizer: “vejam como são bobos esses burgueses, vejam como são tolamente obcecados por sexo”. Filme visto no DirecTV 2, tela com furos enormes, depois de um belo prato de arroz e feijão.
Los Muertos – Lisandro Alonso *
Carlos Reygadas fazendo escola. Mas em Japon havia uma densidade por trás do ritmo que Alonso não consegue imprimir. A proposta é louvável, ao adequar nosso ritmo ao ritmo do personagem, mas Alonso não sabe muito bem onde colocar a câmera, criando um limite de frieza que não parecia ser a intenção. O filme começa muito bem, com a câmera percorrendo a mata e revelando, vez por outra, defuntos. E tem belos momentos, mas tem também uma gratuidade em mostrar as pequenas coisas, como no final pretencioso. Um filme neo-acadêmico visto no Cinesesc. Projeção nota 10.
Bens Confiscados – Carlos Reichenbach * * *
Betty Faria no melhor papel de sua carreira, e Carlão mais uma vez inspirado na mise-en-scène, como no maravilhoso Garotas do ABC. A cena de abertura, com um movimento de câmera que sai do subjetivo para o objetivo (como De Palma faz tão bem), e a cena do primeiro beijo entre a enfermeira e o filho do político corrupto, com fusões dos telhados, são dois exemplos de como se faz CINEMA, com maiúsculas. Visto no Arteplex 2.
O Jogador de Cartas – Dario Argento * *
Argento rindo de seu próprio estilo. Por alguns momentos, o pretendido vira um tiro no pé, mas na maior parte do filme, sobra o talento autocrítico do diretor, e a tradicional habilidade com a câmera e o corte. Duas cenas podem ser consideradas a chave de leitura pretendida por Argento: a comemoração da primeira vitória no viedo pôquer, com polícia envolvendo-se no jogo do criminoso (maravilha de sutil subversão); e quando a policial dá um tiro no cd player do carro, cessando a irritante música que acompanhava o clímax do filme. Visto no Arteplex 1, com platéia que ria quando era pra rir, e quando não era também.
sábado, 30 de outubro de 2004
Postado por Sérgio Alpendre às 14:02
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