quinta-feira, 5 de agosto de 2004

Sessão Dupla do Comodoro

Eu já havia visto Incubus, com certa dificuldade pois o DVD travou na hora que William Shatner pega a mão de Alysom Ames. Tive que progredir até o final com a velocidade em 1/4. Na revisão, ficou claro que não se apega ao filme por sua incursão no gênero terror, mas por sua elaboração formal, nada menos que fascinante, onde cada plano adquire uma força enigmática. Um trabalho com geometria dentro do plano e muitos contrastes de luz e sombra. Muito se deve a Conrad Hall, que assina a fotografia , mas, como bem disse o amigo Eduardo Aguilar, pouco sei onde acaba a idéia visual de Hall e começa a de Stevens, já que nada mais vi desse diretor.
Audition, o segundo filme, é o melhor trabalho de Takashi Miike entre os que vi. Gozu acho mais interessante do que bom (bem...na verdade, é BOM), com uma loucura bem-humorada e que deixa uma agradável sensação de que perdemos o sentido da coisa. Mas tem um ritmo um tanto equivocado, de um toque só, o que prejudica as cenas mais delirantes (pois não as vemos com tanto interesse como mereciam ser vistas). Sabu é filme de arte, acadêmico, mas muito bem filmado. Decepcionante porque se espera de Miike muito mais do que a simples convenção. Audition é outra coisa. Um filme que dá um nó em sua própria estrutura de filme romântico sensível - muito bem construída, diga-se de passagem - para entrar num onirismo que só tem paralelos atualmente em David Lynch. Pensei no genial Kyoshi Kurosawa, com seus planos rígidos para mostrar a incapacidade de se entender o sobrenatural. Mas Miike não se leva a sério. Brinca com o espectador a todo momento, como fica claro na hora em que o pé é decepado, onde a câmera só é colocada do lado de fora da janela para filmar o pé sendo jogado contra o vidro, deixando uma incômoda mancha de sangue. O riso é inevitável, mas tenso. Rimos do absurdo, da crueldade inusitada de uma menina tímida. Rimos sobretudo para afrouxar o crescente desespero em que a seqüência nos coloca.