Filmes do dia 3/nov
Caçados por Sonhos – Buddhadeb Dasgupta * *
Um belo filme, prejudicado por um imenso sono que me arrebatou durante sua metade final. Dois planos se destacam: o plano final, filmado como um reencontro místico; e o plano da dança das sombras numa tela improvisada de cinema. Visto em uma constante luta contra o sono no Esp. Unibanco 1.
Bem-vindo a São Paulo – vários diretores *
Irregular à beça, mas com seus momentos. Espera-se que a estrutura um tanto confussa seja melhorada na cópia definitiva. Destaques para os episódios de Tsai Ming-Liang, de Daniela Thomas e de Wolfgang Becker. Visto com o som incrivelmente ruim do Cinearte 1.
Terra Prometida – Amos Gitai *
Filmado em digital, o que explica a claudicância (êta palavra estranha) de sua mise-en-scène. Tem seus momentos, mas também exagera na falta de tom, pegando pesado em alguns momentos (o do felatio forçado, por exemplo). Mas o final é bonito, com a tragédia sendo ofuscada pela liberdade das moças. Visto no Arteplex 1.
Sobre o próximo filme, último do dia, visto às 23h no Arteplex 2, é necessária uma resposta aos amigos contracampistas, que odiaram o filme em bloco:
Por que Noiva das Trevas (de William Wai Lun Kwok * *) está longe de ser bola preta:
- porque é um filme de terror infantil, com adultos interpretando papéis de crianças, por isso não faz sentido atacar as atuações, propositadamente infantilizadas. Achei que fossem idiotas ao final da projeção, mas depois a ficha caiu: são mesmo crianças aprisionadas em corpos adultos, o que por si só já é um elemento de terror. Temos o menino tímido e que se tornará homossexual, temos a menina saidinha, que gosta de brincar de médico com dois meninos, um deles (Sissi) o amiguinho querido, o outro sendo aquele durão que enfrentava os muleques da turma da rua de cima (no filme, os gangsters), e que desperta o lado mais sensual da menina, em sua pré-puberdade. O uso da trilha explica o porquê de se intuir o sobrenatural, como as crianças imaginam um monstro debaixo da cama, ou a espreita atrás de uma porta. Tem até ranger de móveis, fator sempre amedrontador em crianças.
- porque faz um comentário, por vezes equivocado, mas muito interessante dos experimentos do "filme de arte" (por favor, leiam as áspas), desde Tarkovski (de quem o diretor William Kwok chupou descaradamente A Infância de Ivan no plano final). Mas as citações não param aí: Kwaidan, do Kobayashi; Eros+Massacre, do Yoshida; Lola Montés, do Ophuls (e quem disser que estou viajando, lembre-se que freqüentemente há algo vermelho em foco, deixando tudo mais desfocado - não é uma citação direta, mas uma homenagem, já que Ophuls usa muito vermelho em Lola, e sempre coloca um objeto em primeiro plano, entre a lente e o rosto dos atores). Bom...eu disse que nem sempre essas citações funcionam...
- porque tem bons enquadramentos, sim, apesar de alguns clichês de "cinema de arte".
-sobre a falta de foco, ainda não sei se foi por causa da cópia mal tirada ou da opção ophulsiana (já mencionada dois tópicos acima) elevada ao extremo.
Por que está longe de ser 4 estrelas:
- porque é mal decupado à beça, com cortes sempre precipitados, e tem vários momentos em que o diretor não tem a menor idéia de como desenvolver a rasa trama que tem em mãos.
quinta-feira, 4 de novembro de 2004
Postado por Sérgio Alpendre às 14:25
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