sábado, 23 de outubro de 2004

Mostra SP - Primeiro dia (22-out)

A primeira surpresa foi perceber uma mudança na posição dos legendadores. Agora eles sentam onde vários cinéfilos que conheço gostam de sentar. No Arteplex nem tanto, mas nas salas do DirecTV eles ocupam o que muitos consideram o melhor lugar da sala. Na sala 1, o lugar que encobre (desde que a pessoa fique mais abaixada na poltrona) aquele luminoso horrível de saída. Na sala 2, o lugar na frente da grade que é uma delícia de por os pés (claro, se o lugar dos deficientes físicos não estiver sendo ocupado). De resto, é sempre bom o reencontro com vários amigos que de certa forma ditam sua expectativa. Dependendo da turma, dá pra esperar um filme mais ou menos convencional, mais ou menos pra festival. Pedaço da pizza bem decente (aquele perto do DirecTV) e um almoço no Arteplex garantem a maratona. Vamos aos filmes:

A Subida da Maré - Yolande Moreau & Gilles Porte * *
Um simpático e inesperado filme de amor, com cortes redondinhos e um casal charmoso. As imagens captadas dos espetáculos funcionam muito bem e o filme tem um final classudo, apesar de previsível. Pena que é limitado e não propõe nada de novo, não arrisca. Filme visto no Arteplex 1.

Paisagem que Flutua - Carol Lai Miu- suet *
Um filme morno além da medida, com alguns achados nas composições dos planos, mas em geral modorrento. Um belo anime, com bela música garantem a estrela solitária. Filme visto do DirecTV 1.

O Revólver Amado - Kensaku Watanabe *

O diretor daquele hediondo A História de Pupu volta cinco anos depois com um maneirismo estéril e desprovido de talento. No terço final do filme, parece que o diretor é trocado e o filme começa a fluir melhor, tendo até seus momentos. Mas a proposta pré-Griffithiana de deixar o personagem chave de cada cena no centro do quadro raramente dá certo. Kitano veio depois mostrar como se faz em Zatoichi, mas isso é história para dois tópicos abaixo. Visto no DirecTV2 (que teve uma sensível melhoria na projeção).


Tarnation (Tormento) - Jonathan Caouette *
Filme que funciona muito melhor quando o diretor aplica loucura à sua maneira de editar o filme. Quando resolve filmar a mãe, ou alguma outra pessoa fazendo loucuras o filme cai numa exploração desnecessária e oportunista. Mas é um filme de talento, não resta dúvida. Visto no Espaço Unibanco 1.

Zatoichi - Takeshi Kitano * * *
Desde já, o filme mais bizarro que vi neste ano, com uma mistura inusitada de gêneros. Com um invadindo o outro numa sucessão de imagens inesperadas e surrealistas. Kitano opera o nonsense de uma maneira curiosa. Ao invés de deixar claro o procedimento, para causar o riso sem a estranheza duradoura (como nos filmes dos Zuckers com Jim Abrahams), Kitano bota qualquer ordem no chinelo e deixa o espectador verdadeiramente atônito diante de tanto absurdo. Efeitos propositadamente fake e a maestria habitual de Kitano na decupagem fazem de Zatoichi um filme imperdível. Tão bom quanto Dolls e Sonatine. Filme visto no E. Unibanco 1.

Por hoje é só. Amanhã tem minhas impressões sobre 6e 7, um filme Georgiano, e sobre Má Educação, o Almodovar da vez.