quarta-feira, 17 de novembro de 2004

Zatoichi – Takeshi Kitano * * *

Alguém viu Ralé, do Kurosawa? A mesma tentativa de mesclar musica, riso e ação que se encontrava lá, está muito melhor trabalhada por Kitano neste belo exemplo de cinema multi-gêneros. Se Kurosawa trabalhava muito bem a comicidade musical de seus personagens, mas se esquecia de imprimir um bom ritmo às cenas de ação, Kitano extrapola, testa os limites dessa comicidade chegando perto da fronteira do ridículo. E é esse risco evidente que torna Zatoichi um belo filme. Tenta-se o tempo todo ilustrar uma luta, mais do que mostrá-la, com efeitos hiperbólicos, propositadamente artificiais, entregando a origem mangá do filme. Lembro de ter dado muitas risadas (eu que nem sou de rir muito no cinema, rio para dentro, só eu escuto). Gargalhadas espontâneas, que se fossem proibidas sairiam do mesmo jeito. Lembrei de ralé o tempo todo. De como o filme antigo (visto na Cinemateca) poderia ser muito melhor. Zatoichi parece ser a confirmação de que Ralé poderia, mesmo, ser muito melhor. Termina com uma espécie de bloco carnavalesco, com forte percussão, como se Kitano resolvesse encerrar uma etapa de sua filmografia. É muito diferente do que se poderia esperar dele, mesmo depois de Dolls, o brilhante relato das obsessões. E deixa uma expectativa maior ainda para os filmes que virão. O que será o próximo? Um pornô-soft? Um filme de zumbis? Ou apenas mais um Kitano-movie?