segunda-feira, 27 de dezembro de 2004

Comentários rápidos e rasteiros sobre os filmes vistos nesses dias malucos e consumistas:

Finalmente vi Elephant, do Alan Clarke, graças ao período de férias dos irmãos Furtado/Martins na Lasermania. Bem...o filme é inacreditável. Nem dá pra falar muito sobre ele, para não estragar a experiência de quem puder vê-lo. A influência sobre Van Sant fica clara não só nesse filme, onde a influência é confessa, mas também nos outros que pude ver de Clarke (The Firm e Made in Britain). Prefiro The Firm, onde um grupo de hooligans é acompanhado pela câmera cirúrgica. Clarke realiza belos travellings acompanhando os personagens pelas ruas, como Van Sant faz pelos corredores do colégio, e Gary Oldman está muito bem como o mártir. E Made in Britain também é um bom filme, com um belo retrato das tentativas (infrutíferas?) de recuperação de um criminoso em potencial. Faltou um pouco mais de coerência ao personagem de Tim Roth (que abre mão de sua ideologia fascista em prol de certa ajuda nos seus atos de vandalismo). Mas é um belo filme.

Suspeita é o quarto filme de Hitchcock com dinheiro americano e se mostra um progresso em relação a Rebbeca, é um claro retrocesso em relação a Correspondente Estrangeiro (não vi Uma Dupla do Barulho). Nas entrevistas, nada se falou de uma possível misoginia, mas ela é evidente. Joan Fontaine faz, talvez, a mais imbecil das heroínas de Hitchcock. A mulher que adora perdoar o marido cafajeste. E Cary Grant tem uma recaída moral no final que aparentemente se quer entendido. Mas o próprio ator, excelente, dá uma pista das intenções sacanas de seu personagem. Fontaine será uma infeliz, e isso está muito longe do final feliz que sempre atribuiram ao filme.

Código 46 não é "tão" ruim quanto disseram. Assim como o diretor (Winterbottom) não é a desgraça que gostam de dizer. Só que a atmosfera necessária nunca é atingida, e a montagem paralela no final é de uma pobreza impressionante. Além de simplista e chantagista com o público. Não escapa da bola preta.

Sim...eu gostei de Alexander, um dos poucos filmes de Oliver Stone em que suas contradições trabalham a favor. O personagem é mergulhado nelas, a ponto de ora confundir àqueles que procuram mensagens anti Bush, ora desagradá-los.

Texasville é muito bom. Bogdanovich fala de desilusões e das dificuldades de se entender um relacionamento. Jeff Bridges, casado há 20 anos com Annie Potts (maravilhosa), é incapaz de entendê-la. De resto, um cachorro é mostrado como um cachorro. E não é necessário humanizá-lo para que ele brilhe, mesmo quando desprezado no plano. Um filme um tanto estranho, e que exige revisões para se compreendê-lo satisfatoriamente. Como a vida.

Não gostei de Alfie, o Sedutor, filme que me pareceu extremamente conservador, apesar de vir com uma roupagem moderninha. Ou talvez por isso mesmo. Arthur Hiller nos seus filmes mais quadrados incorporava os truques de estilo de sua época (anos 60 e 70). Mas fazia filmes conservadores. Charles Shyer é o Arthur Hiller da vez, apesar de estar na luta há mais de vinte anos. Quando tenta entender a mente masculina, então, Shyer fracassa com pompa e circunstância, como um decorador afetado que mal tem o que dizer, mas insiste em posar de artístico. Não é necessário ver os outros filmes de Shyer (Presente de Grego à frente) pra se saber de sua mediocridade.

Aliás, muito se falou em mediocre nos últimos posts. Pois fiquem sabendo que em Portugal, a palavra medíocre tem outro significado. É horrível mesmo. Peguei uma Première portuguesa e nas legendas das cotações, 2 estrelas é ruim, 1 estrela é medíocre. Ora, vejam só...