quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

O Rosto de um Outro (Tanin no Kao, 1966), de Hiroshi Teshigahara
* * * *

Vendo esse filme fica fácil perceber que Teshigahara, junto de Kiju Yoshida, foram os cineastas japoneses que mais se embebedaram dos franceses da nouvelle vague. Vi A Mulher das Dunas sem legendas no CCSP (circa 1993). No programa informava que tinha legendas, e aí eu fui e me danei. Lembro apenas do abuso do zoom. O Rosto de um Outro não é diferente. Há, na verdade, um certo abuso dos tiques da época: zooms rápidos, congelamentos de imagem, flashbacks cortantes. Mas eu já disse aqui que não ligo nem um pouco para o fato de um filme ser datado. O cenário da foto é do consultório do psiquiatra, cientista louco que resolve fazer uma máscara usando o molde de um outro rosto. Ele acredita que a máscara muda a personalidade da pessoa, e é a responsável pelo comportamento diferente do paciente. As melhores cenas são as que mostram a relação dele com a mulher, principalmente no reencontro, antes de sabermos se a mulher sabe que é ele ou não. O uso da música, ora clássica, ora abstrata, realça as alternâncias de humor do personagem, mas às vezes briga justamente pelo contrário. Parece que a música é colocada - incidental ou não - para acalmar o personagem, ou para irritá-lo. Brilhante, nesse sentido, é o show da cantora no bar alemão. Ela olha para a câmera - para ele? - de um jeito inquisitivo, como se quisesse saber o que está por trás daquela máscara que ela não vê, mas intui. O filme se divide claramente entre antes e depois desse show, e essa divisão é marcada por cenas que se repetem, quadro a quadro, simbolizando o espelho que deve ser vencido para que ele assuma sua nova vida. Seduzir sua própria mulher seria apenas o começo. O ideal é a liberdade eterna, a solidão recompensadora de uma mente que se prepara para cometer o que antes era crime. Apesar dos cacoetes, ficamos com o personagem até o fim.