Recorro às imagens do DVD Beaver porque não sei muito bem o que dizer de Jigoku (Inferno, 1960), de Nobuo Nakagawa. Com um visual impressionante, uma visão do inferno que deve ter sido referência para o nosso Mojica, o filme tem momentos de deixar embasbacado. Mas também tem uma barriga meio protuberante no miolo, talvez porque aconteça uma queda no fantástico, e uma ocorrência maior de um humor tipicamente japonês. Não lidei muito bem com essa mistura de tom, mas é coisa que geralmente se resolve numa revisão. A meia hora final e os primeiros 15 minutos são quase perfeitos esteticamente, com o brilhante uso do cenário escurecido (como no inferno). No DVD da Criterion tem entrevistas com membros da equipe, e com Kiyoshi Kurosawa, que herdou de Nakagawa o gosto pela ausência de definição do caráter dos personagens. São bons e maus, pecadores e santos, levianos e hipócritas, tudo ao mesmo tempo. Há um único personagem bem definido, que é uma decorrência da mente perturbada do protagonista. Daqui a uns dois anos devo saber o quanto gostei desse filme.
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