A primeira metade de Sangue Negro (There Will Be Blood, 2007), de Paul Thomas Anderson, é um primor. Fiquei com a impressão de que veria o melhor filme do diretor, disparado. Quando o menino é mandado embora, logo após a chegada do falso irmão, algo começa a desandar. O Daniel Plainview de Daniel Day-Lewis se torna unicamente cruel, e as comparações com outro personagem tornam-se inevitáveis. É como se PTA quisesse deixar clara a homenagem a Scorsese e a Bill the Butcher, personagem vivido pelo mesmo ator em Gangues de Nova York, e acentuasse todas as características do perfurador de poços que sugerissem a semelhança com aquele personagem marcante. Em um filme (o de Scorsese), é o medo e a violência impondo respeito e conquistando a costa leste da América. No outro, é quase a mesma coisa na costa oeste, com a diferença de que a ascensão financeira é muito mais salientada e, parece, também mais almejada pelo personagem. Sugere ainda uma segunda conquista desse oeste, agora muito mais sob o espectro da ambição do que do progresso que se seguiu à Guerra Civil Americana. Esse aumento de intensidade da maldade no protagonista faz com que Sangue Negro termine soando derivativo, e faz com que perca parte de sua força. Não ajuda muito que Anderson pareça menos eficaz na violência mais evidente da segunda metade do filme do que na ambiguidade construída em torno da relação do personagem com as pessoas do vilarejo. Apesar desses problemas de modulação, Day-Lewis merece mais um Oscar. E a trilha sonora, que é de fato bem bonita, incomoda em alguns momentos pela onipresença.
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