quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Os Amantes de Montparnasse (Montparnasse 19, 1957), de Jacques Becker
* * * *

Corrigindo outra grave lacuna cinematográfica de minha parte. É o penúltimo filme de Jacques Becker, inferior ao último, A Um Passo da Liberdade, mas superior ao antepenúltimo, As Aventuras de Arsène Lupin. Queria colocar um cartaz que achei por aí, com Lino Ventura como a grande atração do filme, mas o blogger não aceitou. Por que Lino Ventura? Primeiro porque Gérard Philipe não é um grande ator, como muita gente considera. Ele dá o máximo, e tem até uma de suas maiores performances como o pintor Modigliani, mas quando Anouk Aimée está em cena ninguém quer olhar para Philipe. Não digo isso simplesmente como um homem admirando uma mulher bonita. A questão é de presença de cena. Aimée brilha diante da câmera, e se torna mais bela do que ela realmente é por causa dessa fotogenia. Philipe não. Ele sua, se embebeda, cai pelas tabelas, mas nunca deixa de parecer um príncipe brincando de teatrinho. Não compromete, mas também não acrescenta.

Lino Ventura é a razão de ser do filme. A ausência mais presente. É a morte, o merchand que quer se aproveitar da fraqueza do pintor, para lucrar com seus quadros quando ele morrer. É o cara que fica à espreita, um lobo devorador, posando de anjinho. Uma presença de filme de terror, e não é a toa que o filme termine com ele olhando os quadros, na frente da mulher que nem sabe que já é viúva. Um homem assustador. Uma outra seqüência é torturante: quando Modigliani, a mulher e o melhor amigo oferecem quadros a um milionário americano. Ali, naquele curioso boçal, estão presentes todas as características abominadas pelo pintor: a soberba, o exibicionismo, a ambição. Nessa pequena cena a humilhação pela qual Modigliani passa não é humana, é algo que viria a ser praxe nos dias de hoje, uma humilhação vinda da força acultural, da pujança do raso, do pragmático, do racional.