quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Parceiros da Noite (Cruising, 1980), de William Friedkin
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Esse eu só tinha visto dublado e, suspeito, cheio de cenas censuradas. Algumas cenas são fichinha perto do que alguns diretores já haviam feito; outras sugerem coisas pesadas, daquelas que só se encontra em cinema extremo. Friedkin nunca havia ido tão longe na perturbação que acomete o herói. Al Pacino de fato fica incomodado com a missão. Ele termina o filme de modo muito diferente de como começou. Daí, pode-se interpretar duas coisas excludentes: a) Friedkin enxerga o homossexualismo como uma doença contagiosa, que não poupa o mais empedernido dos homens (se é que se pode dizer isso do personagem, pois ele se abre muito fácil à afetação do local que precisa frequentar); b) o homossexualismo é algo que se descobre um dia, e bastou a necessidade para que Pacino descobrisse a preferência sexual que ele, instintivamente, queria esconder. Não é um filme fácil de ser taxado, como queriam alguns bobocas na época. Friedkin é esperto o suficiente para embaralhar sua visão de mundo com a visão que o protagonista deve ter, e com essa ambiguidade ficamos perturbados também, porque não temos as respostas fáceis que se esperam de filmes policiais mais comuns. O olhar de Pacino no espelho é o mais próximo de conclusivo a que o filme chega, e isso é saudavelmente incômodo.