quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

John and Mary (1969), de Peter Yates
* * * *

Sempre li que esse filme era datado, cheio de cacoetes da época. Mas não creio que ser datado seja um problema a priori. Se o desejo de ser parte de um estilo de determinada época for maior que o desejo de expressar sentimentos ou idéias, aí o fato de ser datado pode se tornar um problema. Peter Yates, como demonstraria novamente no futuro, em filmes como O Fiel Camareiro (1983) e Pesadelo na Rua Carroll (1988), soube contornar muito bem esse perigo sem deixar de se afiliar a um modismo. John and Mary tem uma estrutura que remete ao final dos anos 60, às experiências com flashback e aos cortes bruscos que funcionam como ruídos, quebrando a harmonia com o espectador. É um grande quebra-cabeça sobre o início de um relacionamento amoroso. O casal se conheceu numa noite, e ela foi para o apartamento dele. Na manhã seguinte, ambos ficam sem jeito, ela pela invasão, ele por se deixar ser invadido. A dúvida persiste - abrir-se ao outro ou manter-se num abrigo emocional -, enquanto cenas de envolvimentos passados dos dois vão se misturando ao que eles sentem. Ao mesmo tempo, ouvimos o que eles pensam durante as falas, suas estratégias erradas e mancadas num sussurar em off. Muito cálculo da parte deles, que vai se desmantelando, conforme vão se envolvendo realmente. Quando o filme ameaça virar apenas nuvem de fumaça com seus efeitos moderninhos (para a época), já perto do final, fica próximo de uma comédia romântica tradicional, e é aí que fica clara a habilidade de Peter Yates ao fazer com que torçamos para que os dois terminem juntos. A última cena fez escola - o quarto ao fundo, com eles se despindo fora de quadro, um corredor na penumbra entre nós e eles -, e os nomes comuns dos dois deixam a insinuação de que o filme fala para todos os homens e mulheres. É bem melhor que Bill, Carol, Ted & Alice, de Paul Mazurski, e Ânsia de Amar, de Mike Nichols, filmes até parecidos em diferentes aspectos (o de Mazurski pela ligação com a época, o de Nichols pelo tom levemente liberal). Mas a comparação, já muito feita por aí, não tem tanto sentido se nos atermos às motivações dos personagens, que acabam, graças também ao belo par de atores (Dustin Hofmann e Mia Farrow), a sobrepujar o estilo exibicionista da época.

Outros filmes vistos de Peter Yates:

Bullit (1968) * * * *
Seu Último Combate (Murphy's War, 1971) * * *
Os Quatro Picaretas (The Hot Rock, 1972) * * * *
Os Amigos de Eddie Coyle (The Friends of Eddie Coyle, 1973)
* * * *
Nossa, Que Loucura (For Pete's Sake, 1974) * *
A Louca Ambulância (Mother, Jugs & Speed, 1976) * * *
O Fundo do Mar (The Deep, 1977) * *
O Vencedor (Breaking Away, 1979) * * *
Testemunha Fatal (The Eyewitness, 1981) * * *
Krull (1983) * * *
O Fiel Camareiro (The Dresser, 1983) * * *
Sob Suspeita (Suspect, 1987) * * *
Pesadelo na Rua Carroll (The House on Carroll Street, 1988)
* * *
A Revanche Final (An Innocent Man, 1989) *

----------------------------------------------
obs: queria muito ver Eleni (1985) e One Way Pendulum (1964). E preciso rever A Revanche Final, que na época que saiu em VHS me decepcionou muito.