domingo, 3 de fevereiro de 2008

As Deusas (1972), de Walter Hugo Khouri
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Após sua obra-prima, O Palácio dos Anjos, Khouri filma As Deusas, um de seus filmes mais pessoais, e que conta com uma Kate Hansen no auge da beleza, e uma Lilian Lemmertz absurdamente bonita com o cabelo preto e os olhos se esverdeando conforme o filme se encaminha para o fim. São literalmente duas deusas do cinema brasileiro. Como sempre em Khouri, os homens são predadores, insaciáveis, infantis em seus quereres; e as mulheres enigmáticas, sensuais e problemáticas. As Deusas pode muito bem ser o Persona dele, pela transferência de culpas e dramas que há entre uma mulher e outra. Transferência também de sensualidade, de um lado, e de neurose, de outro. O filme se perde um pouco numa das marcas registradas do diretor: filmar esculturas, quadros e natureza como forma de ilustrar simbolicamente as emoções de seus personagens. E a mão pesa um tanto no final, que parece girar em falso. Mas o filme tem tantos momentos altos, em especial nas cenas de sexo - filmadas de perto, com detalhes dos corpos e muitas sombras - e nas danças de olhares entre os três únicos atores (há uma empregada que é mostrada de longe), que é facilmente um de seus trabalhos mais fortes entre os que são cheios de problemas - pela própria tendência em procurar sempre o verniz psicológico das coisas. Khouri, no entanto, sabia o que fazia. E seu filme tem uma atmosfera doentia e asfixiante que poucos diretores sabem imprimir.