quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Hoje, terminada a projeção de Onde os Fracos Não Tem Vez, o belíssimo filme dos irmãos Coen, na sala 2 do Arteplex lotada, um casal levanta para sair, logo no começo dos créditos, e a moça diz em alto e bom som: "é por isso que a crítica gosta". O moço que estava com ela responde: "filme mais besta, e concorre a oito oscars". Claro, filme lento, em que as coisas acontecem não muito claramente, e com o final meio enigmático, não mastigado, é filme para a crítica. O que seria filme para tal casal? Não sei se fico mais intrigado com o casal de má vontade, que não quis pensar nem um pouquinho no que o filme tem a dizer depois da projeção, ou se encasqueto com o "por isso que a crítica gosta". Porque esse tipo de raciocínio, que existe uma única crítica, e que todos os críticos têm o mesmo gosto, por mais imbecil que seja, é muito difundido, nem temos como mudar. Mas o fato de alguém dizer isso bem alto, para que todos possam ouvir, me deixa pensando que se trata tão e somente de uma auto afirmação muito grande, do tipo "se eu não gostei, é porque não é bom", e a crítica gosta porque costuma gostar de filmes chatos. Uma outra mulher, um pouco mais atrás, narrava tudo que ela achava que ia acontecer, também em alto e bom som, como manda a educação típica de quem anda freqüentando os cinemas. Aos poucos, ela percebeu que nada do que ela antevia acontecia, e foi se decepcionando cada vez mais com o filme. Quando apareceu o inevitável "tradução de fulano de tal", ela logo falou (antes do casal citado acima levantar): "ah, não acredito - que bosta". Lembro que reações desse tipo aconteciam com filmes muito mais rigorosos como Através das Oliveiras ou Sob o Sol de Satã. Hoje em dia, acontece com quase tudo que não seja da cartilha do espectador preguiçoso, de acordo com o que ele espera que aconteça. É triste mesmo, ou estou envelhecendo?