sábado, 2 de fevereiro de 2008

Em alguns momentos de Ao Lado da Pianista (La Tourneuse de Pages, 2006), de Denis Dercourt, fica muito fácil lembrar de Claude Chabrol. A comparação fica até óbvia demais. Estão lá a burguesia, o piano, as emoções camufladas por uma etiqueta de classe social que não se conquista facilmente e, acima de tudo, uma protagonista que faz da crueldade e da paciência suas grandes aliadas para chegar à execução de uma vingança perfeita. Mas é com essa comparação que Dercourt quase se complica, pois Chabrol não entrega nada de mão beijada ao espectador. Em seus melhores filmes, é muito comum ficarmos sem saber aonde seremos levados. Vemos o comportamento das pessoas como se fossem insetos examinados por um entomologista - uma das maiores ligações de Chabrol com Buñuel é justamente essa. Em Decourt, o maior mérito é não vermos no rosto da jovem viradora de páginas o dom da vingança. Ela parece a todo momento sucumbir à relação com a personagem de Catherine Frot, deixando-se levar pelas fraquezas de seu objeto de vingança - na verdade, uma examinadora que, ao conceder um autógrafo bem no meio do teste da viradora quando criança, faz com que ela perca totalmente sua concentração e seja reprovada. A dubiedade do olhar de Deborah François, nossa traumatizada heroína, é o ponto forte do filme, mas nos faz pensar, pela influência nítida, o que o mestre que dirigiu Mulheres Diabólicas teria feito com esse material.