quinta-feira, 30 de junho de 2005

Finalmente vi a série Star Wars em sequência, alugando os episódios IV, V e VI. Não entendo como é quase unânime o desprezo pelo Retorno do Jedi, talvez o melhor episódio de toda a série. Até concordo que os Ewoks são meio fofinhos demais, e que o filme ganha contornos infantis com eles, mas em todos os episódios, o que menos interessa é acompanhar os rebeldes, os mocinhos. Os filmes sempre crescem quando os vilões estão em cena. São deles as melhores falas, são com eles que se dá toda a atmosfera necessária para que a saga não ficasse com jeito de aventura exclusivamente para crianças. Nesse ponto, tirando o episódio I, os episódios filmados por último levam vantagem, pois em meio aos chatos jedis e suas filosofias rastaqueras tinha sempre um Palpatine e um Anakin para desequilibrar o conjunto com seus rompantes de humanismo (por vezes doentio, como no caso de Palpatine). Han Solo, na trilogia antiga, era o responsável por esse equilíbrio, mas sua progressiva conversão ao polianismo é compensado em O Retorno de Jedi por uma maior participação dos malvados, e por uma curiosa caracterização do "lar" de Jabba.

Em O Retorno de Jedi, temos também o melhor confronto mocinho/bandido de toda a série, com o duelo entre Luke e Vader sendo travado sob o olhar irônico de Palpatine. É quando a máscara de Vader interpreta. O que ele tem de humano salta aos olhos, e é muito interessante também como pai e filho se comunicam por pensamento. A montagem paralela, a exemplo do A Vingança dos Sith, atrapalha (ainda que um pouco menos), pois queremos ver o duelo e não a batalha com as naves (algo muito bom de se ver só pra quem é fanático por efeitos especiais).

Richard Marquand é um diretor melhor que Lucas e Kershner. Nota-se que os enquadramentos do Retorno... são bem diferentes (e um tanto melhores) dos do resto da série, o que me leva a crer (e eu ainda não pesquisei se procede) que Lucas não se envolveu tanto nas filmagens quanto em Império Contra-ataca. Quando Vader está em cena, há uma preocupação em revelá-lo sempre por detrás de alguma coisa muito escura, como na bela cena das luzes aparecendo e indicando que a porta estaria sendo aberta para sua entrada. Ou no brilhante duelo, quando Vader praticamente predomina no quadro, e percebe-se o seu amor pelo filho desde o primeiro contato entre os sabres. Há uma atenção maior aos elementos que compõem o quadro. Uma mise-en-scène mais elaborada.

Enfim, se todos os episódios, excetuando o desastroso A Ameaça Fantasma (do qual mal se aguenta ver dez minutos) são muito próximos em qualidade, com vários problemas e vários acertos em todos eles, graduações de * * (às vezes, graduações de 7 e 7,5 - complicado, não?), não consigo deixar de pensar que O Retorno de Jedi é o melhor deles. Arrisco um top, sujeito a mudança de opinião:

(entre parênteses a nota, de zero a 10)

1- O Retorno de Jedi (7,5)
2- A Vingança dos Sith (7,5)
3- O Império Contra-Ataca (7)
4- O Ataque dos Clones (7)
5- Uma Nova Esperança (7)
6- A Ameaça Fantasma (4)

quarta-feira, 29 de junho de 2005

Já está em pré-venda nas casas do ramo a edição dupla da obra-prima de Martin Scorsese, Cassino, prometida para dia 13/07, dessa vez em formato correto de 2.35:1 (da outra vez lançaram por aqui em 1.85:1, conforme informação da capa, pelo menos). Obrigatório para quem quiser entender a progressão de sua carreira, e o ensaio imagético definitivo para um relacionamento amoroso em todas as etapas. E que liberou o diretor para tentar entender melhor o mundo em que vive, geralmente voltando a um passado recente (Vivendo no Limite) ou remoto (Gangues, Aviador, Kundun), e deixando sua vida sentimental em um plano menor, mas que não deve ser subestimado, dentro dos filmes.

quarta-feira, 22 de junho de 2005

O Guia do Mochileiro das Galáxias está bem longe de ser um mau filme. Mas está em igual distância do memorável. Nesse meio termo espaçoso alguns momentos valem destaque:

- a leveza de tratamento, abrindo caminho para algo que correria o risco de virar uma desritmada sucessão de climaxes.
- os atores, que dão conta do recado e caem perfeitamente em seus papéis
- a arma do ponto de vista, principalmente no último e derradeiro uso dela dentro do filme (algo antológico mesmo.

Por que não empolga tanto? Talvez pelo fato de ter inúmeras idéias, sendo que apenas algumas delas funcionam. Uma atropela a outra (às vezes uma tira a graça da outra). Garth Jennings é um diretor acadêmico, o que talvez não seria tão indicado para essa adaptação. Mas se caísse nas mãos de um Guy Ritchie da vida poderia ser bem pior.

segunda-feira, 20 de junho de 2005

Momento inconsequente e possível num blogue: Pele de Asno é o melhor musical feito fora dos EUA, a não ser que eu esteja me esquecendo de algum outro. Também é a melhor adaptação de uma fábula infantil para o cinema. E também deve ser a grande comédia romântica do cinema francês. Jacques Demy ainda conseguiu o feito de fazer a melhor experiência com cor que vi em muito tempo. Uma obra-prima mesmo. O que o Estação está esperando pra lançar esse filme no Cinesesc com pompa e circunstância? Michel Legrand é um dos grandes, como Burt Bacharach.

sexta-feira, 17 de junho de 2005

A grande curiosidade de Following (filme de 1998) é que na porta de um dos apartamentos invadidos pelos dois aventureiros tem o símbolo do Batman. Será que Nolan tem dons premonitórios?

Following, o primeiro de Christopher Nolan, foi vendido como novidade, influenciada por Hitchcock e Nicholas Roeg. Não vi graça alguma no pobre artifício de embaralhar todos os acontecimentos, pelo contrário, acho que se fosse linear o filme ganharia força, pois a trama não é de todo má. Com vinte minutos de filme, já estava me perguntando a que horas tal patacoada iria acabar. O filme tem apenas 71 minutos, mas parece que tem muito mais. Chris Nolan continuou pastel de vento em Memento, tornou-se medíocre em Insônia, e um competente artesão em Batman Begins. Vamos ver aonde vai dar essa evolução.

quinta-feira, 16 de junho de 2005

Finalmente fui conhecer o Reserva Cultural (da Imovision), espécie de espaço elitista que aplica a velha e batida lei do "se não for caro, o pessoal pensa que é ruim", pensamento estúpido e muito comum em São Paulo. O problema é que o folhado de peito de peru se desmancha todo antes de ser comido, e o que é ingerido não vale os R$3,20 gastos. Beleza, já sei que comer lá não é uma boa pedida, apesar de que meu masoquismo me impede de ignorar aqueles sanduíches que devem custar o triplo (não tinha plaquinha com o preço), mas parecem não desmanchar no ar. Uma outra vez, quem sabe? Projeção boa, embora em janela errada para Mulher, filme de 1931 de Octávio Gabus Mendes (pai do Cassiano?). Passou em 1:1,66 (o certo seria 1:1,33, modificado como o próprio letreiro de abertura diz para 1:1,37). A tela da sala 3 me pareceu um tanto pequena, mais ou menos como a do DirecTV 2, mas pode ser que a sala 1, que exibia Clean, tenha uma tela maior. O espaço é interessante, lembrando um pouco o Espaço Unibanco da Augusta, e o do Rio também, só que mais labiríntico. Na sala 2, o horroroso Conversações com Mamãe, que todos pareceram gostar na última Mostra. E a Rain continua ameaçando, com publicidade intensiva esse novo espaço que se diz mais propenso ao cinema de arte. É mais uma sala, e espero que vingue (já tendo quase certeza que irá vingar). Mas poderia ser menos afrescalhada nos comes, não é? O filme Mulher? Muito bom, com um erotismo próprio dos anos 30 e contraplanos muito interessantes.

terça-feira, 14 de junho de 2005

Batman Begins é o melhor filme de Christopher Nolan. Também é o melhor de todos os Batmans, que me perdoem os fãs das crias de Burton. Tenho de dizer que não gosto muito dos dois que Burton dirigiu, então dá pra relativizar o meu entusiasmo com esse novo (um duas estrelas convicto). Lia muito os gibis do Batman nos meus anos de faculdade, conhecia bem as histórias, o personagem. Agora tudo é meio nebuloso na minha memória. O que me parece, sobretudo, é que Nolan fez o Batman mais fiel ao que foi criado por Bob Kane. Mas não é por isso que o filme é bom. Uma conjunção de fatores o fazem: desde a melhor interpretação do outrora insuportável Christian Bale, até a presença luminosa de Katie Holmes. Mas também porque Nolan tenha abandonado a vontade de ser "autor", na pior acepção do termo, servindo ao filme como um competente artesão (foi também co-roteirista). O vilão é o mais sombrio da série, o que talvez justifique a quase ausência de humor. É de longe o filme menos humorado da série. Na época do primeiro Batman, achei que o humor que surgia, principalmente pelo talento de Jack Nicholson, lutava contra o que Tim Burton queria: uma caracterização lúgubre envolvendo um personagem carregado de sentimento de morte. Nesse novo, a ênfase nesse aspecto nem é tão forte, mas é fortalecida pelos ideias do sinistro vilão, o que confere uma unidade surpreendente ao filme. Descontados alguns momentos didáticos, outros de um academicismo berrante, um divertido filme se impõe.

Todo Mundo Quase Morto (Shaun of the Dead, 2004), de Edgar Wright, caminha na corda bamba até um terço do filme. Há qualquer coisa de interesse na maneira como o diretor pretende criticar a sociedade inglesa, e especificamente a londrina, mostrando todos como zumbis desde o começo do filme. Nas primeiras cenas pós-crédito o protagonista Shaun se depara com coisas estranhas a seu redor, no que seria uma interessante maneira de apresentar o terror sem abrir mão de uma construção de personagem que justifique a crítica social. Conforme os zumbis (os mortos-vivos mesmo, não os zumbis da sociedade) vão se multiplicando, Shaun passa a não perceber mais que o ambiente que o cerca definitivamente está muito estranho. O filme também vai perdendo o interesse, talvez porque esse personagem não seja bem construído, abandonando de vez a possibilidade crítica para se concentrar em cansativas brincadeiras com o cinema do gênero e com a música pop. Apenas o "kill the queen", referindo-se à música do queen que toca na jukebox, mas entendido como um "matar a rainha da inglaterra", garante boas risadas. O final também tem seu charme, com os zumbis sendo domesticados como mascotes (referência óbvia ao Dia dos Mortos de Romero), mas não redime o filme de ser apenas uma inconsequência raramente divertida.

terça-feira, 7 de junho de 2005

Como faz tempo que eu não posto um Top, aí vai: Top 10 John Ford (ou...a coisa mais calhorda que alguém pode fazer). Obviamente o décimo é obra-prima, assim como muitos que ficaram de fora.

1- Rastros de Ódio (1956)
2- Caravana de Bravos (1950)
3- O Homem Que Matou o Fascínora (1962)
4- Audazes e Malditos (1960)
5- Depois do Vendaval (1952)
6- No Tempo das Diligências (1939)
7- As Vinhas da Ira (1940)
8- Sete Mulheres (1966)
9- Médico e Amante (1931)
10- Legião Invencível (1949)

segunda-feira, 6 de junho de 2005

Rififi é um filme estranho. Tem uma cara de Jean-Pierre Melville, um quê de Clouzot, mas Jules Dassin parece mais interessado em alguma renovação de linguagem, o que sinceramente não sei se ele consegue. Aliás, não sei bem o quanto gosto do filme, mas sei que em alguns momentos ele fica meio chato de se ver. Há um longo momento sem diálogos (que deve durar mais de vinte minutos) na hora do assalto. O final é bonito, quase, mas apenas quase descambando para o patético à lá Salário do Medo. Mas o restante do filme não conseguiu me deixar plenamente concentrado, o que talvez seja minha culpa, talvez seja culpa da frieza do filme.

Visto no mesmo dia, um pouco antes, Médico e Amante (Arrowsmith, 1931) é um dos mais belos filmes dos anos 30. E mostra que John Ford estava muito longe mesmo do classissismo, aproximando-se mais das vanguardas dos anos 20. A pesquisa formal do filme, incorporando as sombras como formas geométricas de exclusão ou inclusão dos personagens. Nesse sentido a tragada fatal no cigarro contaminado é exemplar. Uma mulher involuntariamente isolada, aprisionada por sentimentos de subordinação e impotência. Um homem, que só não transa com uma mulher pelo sentimento de culpa (ele também é dividido pelas sombras de seu quarto, enquanto percebe a andança da amante em potencial no quarto ao lado). Nunca Ford esteve tão próximo de Bracque e Mondrian quanto nesse filme.

sexta-feira, 3 de junho de 2005

A Garota da Motocicleta é um filme de culto para cinquentões (ou quase) que gostavam de rock no final dos anos 60, mais precisamente no adorável ano de 1968. Jack Cardiff tinha bela reputação como diretor de fotografia, tendo trabalhado em filmaços como Sob o Signo de Capricórnio, A Condessa Descalça e Sapatinhos Vermelhos. Na direção, derrapa feio com um filme que parece ter vergonha de ser o que é. O final, que provavelmente já existia no livro no qual o roteiro se baseou (e que podia ter sido alterado), é de uma estupidez gritante. Lars Von Trier preza a felicidade de suas personagens perto de Jack Cardiff. Bizarro o costume de disfarçar as cenas de sexo com efeitos bem ridículos de cromatismo duvidoso (Marianne Faithful avermelhada, com cabelos azulados). Até Roger Corman ficou envergonhado de usá-los em The Trip, e usou com muito mais economia. Ela, por sinal, com aquela beleza estranha e cativante, está muito mal dirigida. Que ela é má atriz todos já sabiam, mas custava pedir pra deixar as caras e bocas de lado? Coisa mais ridícula. Pode passar como uma versão feminista de Easy Rider, mas não gosto muito dessas comparações. Auto-descoberta através da exploração dos próprios traumas (Alain Delon sendo o maior deles). Poderia até ser um filme charmoso. Mas Cardiff, de quem também vi o desastroso Estranhas Mutações (desastroso na nota, mas não lembro de coisa alguma do filme), não era o diretor indicado a fazê-lo.

quarta-feira, 1 de junho de 2005

O infalível post dos filmes de Maio (revisões em negrito)

Blue Gardenia - Fritz Lang (DVD) * * *
Pas Sur la Bouche - Alain Resnais (DVD) * *
The Reckoning - Paul McGuigan (DVD) * *
Kinsey - Bill Condon (Arteplex 2) * * *
Mais Uma Vez Amor - Rosane Svartman (Arteplex 5) *
O Posto - Ermanno Olmi (DVD) * * * *
La Cotta - Ermanno Olmi (feito p/TV) (DVD) * * * *
Chove na Montanha - King Hu (Cinesesc DVD) * * *
Paganini - Klaus Kinski (Cinesesc DVD) *
Sexy Beast - Jonathan Glazer (DVD) 0
Sister Sister - Bill Condon (DVD) * * *
Assassinatos por Escrito - Bill Condon (VHS) * * *
Tragam-me a Cabeça de Alfredo Garcia - Sam Peckimpah (DVD) * * *
A Família Fuleira - Jerry Lewis (VHS) * * *
Pink Flamingos - John Waters (DVD) 0
Operação Babá - Adam Shankman (Avenida Center 3 - Maringá) *
Husbands - John Cassavetes (VHS) * * * *
Uma Mulher para Dois - John McNaughton (DVD) * *
Casa de Areia - Andrucha Waddington (Arteplex 3) * * *
Refém - Florent Emilio Siri (Arteplex 7) * *
A Woman Under the Influence - John Cassavetes (DVD) * * * *
Corrida em Busca do Amor - Reichenbach (CCBB) *
The Brown Bunny - Vincent Gallo (Top Cine 2) * *
Ep. 1 - A Ameaça Fantasma - George Lucas (DVD) 0
Ladrão de Diamantes - Brett Ratner (DVD) *
Inimigo Meu - Wolfgang Petersen (DVD) * *
A Vida Marinha com Steve Zissou - Wes Anderson (E. Unib.2) * * *
The Sword of Doom - Kihashi Okamoto (DVD) * * *
X Men II - Bryan Singer (DVD) *
Mikey & Nicky - Elaine May (DVD) * * *
Melinda & Melinda - Woody Allen (E.Unibanco 1) *
Quanto Vale ou é por Quilo? - Sérgio Bianchi (e.Unibanco 1) *
Ep. II - O Ataque dos Clones - George Lucas (DVD) * *
Adeus, Amor - George Sidney (DVD) * * * *
O Alucinado - Luis Buñuel (DVD) * * * *
Terra em Transe - Glauber Rocha (Arteplex 7) * * * *
A Dama da Lotação - Neville D'Almeida (TV) *
The Five Obstructions - Jorgen Leth & Lars Von Trier (DVD) *
I Heart Huckabees - David O' Russel (DVD) * *
The Heartbreak Kid - Elaine May (DVD) * *