quarta-feira, 31 de março de 2004

"mamble jamble...mamble jamble...mamble jamble..."

Frank Langella (esse sim, gênio) em O Último Portal, de Roman Polanski.

terça-feira, 30 de março de 2004

se você quiser um filme que te faça entender melhor a guerra do Vietnan ou a crise dos mísseis de 1962, desista de Sob a Névoa da Guerra. Mas, se você quiser entender o que se passava na cabeça de Robert McNamara quando era Secretário da Defesa dos EUA, e de tabela saber de suas impressões a respeito da vida e de como ela é abalada pela "necessidade" da guerra, ou sobre como ele lida com os efeitos devastadores de uma guerra na consciência de quem a deflagrou, eis "o" filme. Como em um dos planos finais, com a metáfora do reflexo nos óculos para se apreender sua visão de mundo, o filme é bem instigante. A metáfora pode até ser simples (ou até manjada), mas funciona muito bem.

sábado, 27 de março de 2004

da série Picaretagem não tem limites: Top 10 Eastwood

1) Os Imperdoáveis
2) Honkytonk Man
3) Sobre Meninos e Lobos
Crime Verdadeiro
As Pontes de Madison (não consigo escolher um entre esses três)
6) Cowboys do Espaço
7) Poder Absoluto
8) Bird
9) O Estranho sem Nome
10) Josey Wales, o Fora da Lei

sexta-feira, 26 de março de 2004

também não curti Na Captura dos Friedmans, apesar de reconhecer que o filme tem certo interesse. Concordando com o que disse o Filipe, o diretor Jarecki estraga muita coisa, como comprova o trecho de video caseiro, pouco antes do epílogo, com uma música piegas toda vida.

A Filha do Chefe (2003) - David Zucker 0
O que mais irrita não é ver que a carreira de Zucker degringolou. O pior é ver que pelo primeiro terço do filme, que nos leva ao riso facilmente, poderia se esperar muito mais. Mas o resultado é equivalente a uma sucessão de erros que faz com que cada gag se desfaça pelas situações bobocas criadas. Disse bobocas, não absurdas, pois Jerry Lewis tirava gags geniais de situações absurdas e inverossímeis. O problema com Zucker (qué pode ser detectado também em Scary Movie 3) é que em vez de se fazer a piada de forma gratuita, riso pelo riso, nonsense absoluto, o que funcionava em Apertem os Cintos... e Top Gang, cria-se toda uma situação para que ela aconteça, e Zucker claramente não se sai bem nisso

quinta-feira, 25 de março de 2004

A Outra Face (1997) - John Woo * * * *
Se The Killer era a súmula perfeita da obra de Woo em Hong Kong, A Outra Face, com muitas similaridades com The Killer, o que é óbvio com a troca de identidade entre policial e terrorista, é o equivalente em relação a sua obra nos EUA, ainda que antes desse ele só tenha rodado os irregulares O Alvo e A Últimas Ameaça. Mas há também uma diferenciação notória. A Outra Face, como um comentário sobre o cinema de ação americano, encerra-se num maniqueísmo proposital e catártico. Sean Archer odeia Castor Troy terrorista, mas o odeia ainda mais por ter matado seu filho. Ele não vai se contentar enquanto não acabar com a vida de Troy para fechar a cicatriz, tomando também seu filho, como uma substitução ao filho perdido. O filme esbanja incorreção política, pois o desejo de matar de Travolta/Archer (que de resto parece uma pessoa de caráter impecável, o que acentua ainda mais a incorreção política) em nada difere do de Bronson na famigerada série Desejo de Matar. Woo, em compensação, está milhas a cima de um Michael Winner da vida e sabe que toda a truculência de seu filme é compensada pela mais espetaculosa mise-en-scène do cinema de ação. As quebras de eixo da perseguição de lanchas, o tiroteio na casa de Gina Gherson, o gato-pega-rato da maternidade, tudo colabora para que o espetáculo de violência coreografada que fez a fama de Woo volte com requintes de textura nunca antes vistos. A bala explode fazendo vários pontos laranja luminosos num efeito surpreendente e deflagrador. Woo é, antes de tudo, um esteta. Seus planos não são simples balé de balas, ao contrário, convidam o espectador a algo mais, uma reflexão do que se está vendo, além dos efeitos especiais. O espectador fica como a mulher de Archer, sem saber direito se o que está vendo é o que realmente acontece. Isso geralmente dura segundos, mas em alguns momentos Woo, seja pela câmera lenta, seja pelos movimentos de câmera, retarda esse estranhamento. A cena da queda da lancha é um exemplo disso com seus diversos ângulos em câmera-lenta. E a do jogo de espelhos também, com travellings laterais de fazer Michael Bay morrer de inveja. Só Woo consegue transformar oóbvio em obra de arte. E Nicholas Cage na pele de Castor Troy (o melhor nome de vilão depois de Max Cady) tem o papel da sua vida. Histriônico e sutil ao mesmo tempo.

terça-feira, 23 de março de 2004

hmmmm...call me Snake.

pow...Iñarritu pousou no sesc e resolveu remontar Tess de Polanski. Alguns acharam que era flashback, outros que era um director's cut. Acharam que o filme era muito grande e resolveram tirar fotogramas, reduzindo sua duração em vinte minutos. Iñarritu ainda botou um filtro sépia no espelho do projetor (provando que detesta o Palmeiras pois o verde do filme sumiu) e desligou o ar-condicionado. Quis testar a capacidade de concentração da platéia. Bela cena: Angel carrega as quatro meninas no colo. Tess, meio sem jeito, sendo a última, tenta passar pela encosta. Angel diz: eu carreguei as outras três só pra poder te carregar... Bonito.

segunda-feira, 22 de março de 2004

Penso que a platéia do circuito de arte pode, sim, mudar a apreciação de um filme, o que depende de inúmeros fatores, inclusive da absorção ou não das intenções do diretor. Polanski concebeu O Inquilino como uma purgação de suas paranoias. Seu personagem não é aterrorizado por fantasmas, mas por sua própria incapacidade de se relacionar em um ambiente opressivo. A Paris retratada pelo filme (creio que não foi provocação do diretor) é uma cidade claustrofóbica, com pessoas estranhas, mas tudo pode estar filtrado pela mente do protagonista. Ele vê dessa maneira. O filme é muito feliz em nos deixar perdidos diante de acontecimentos estranhos. E essa estranheza não é desprovida de certo humor, principalmente na primeira metade do filme. Mas a platéia do CineSesc ria desbragadamente com tentativas de suicídio, gritos desesperados, como se estivesse vendo uma comédia. Lembro que da primeira vez que vi, no Espaço Unibanco (na época Espaço Banco Nacional, em 1984 - cinema lotado), as pessoas saíram tensas, perturbadas, sem saber direito o que tinham acabado de ver. Não sei se os espectadores mudaram, nem mesmo sei se os que riam a todo momento captaram o filme melhor do que eu. Apenas imagino o quanto uma platéia acostumada a aplaudir qualquer coisa, platéia de Jô Soares, pode dar um outro sentido a um filme, tirando parte da graça de assistí-lo. E aí? Seria culpa do filme, do diretor, ou da minha capacidade baixa de concentração?

quinta-feira, 18 de março de 2004

A Colônia (1997) - Tsui Hark * *
"You always plays defense", de Van Damme para Dennis Rodman. Essa é a tônica do filme, não se levar a sério em minuto algum. É seu maior trunfo. Mickey Rourke como terrorista convence bem, e Van Damme continua péssimo, mas who cares? Algumas seqüências são muito boas, Hark comprova seu talento (eu só havia visto Time and Tide, do qual gosto bastante) para cenas de ação. E, sabendo que diálogos não são seu forte, insere várias piadas, algumas visuais, com a situação dos EUA naquele momento, e a maioria visando o basqueteiro Rodman. Imagino que deve haver piadas com outros filmes do Van Damme, mas aí já é intuitivo.

quarta-feira, 17 de março de 2004

post curto, pois tenho muitas leituras pela frente (e a contracampo nova está demais). dois filmes nacionais vistos ontem no CCSP. Hitler 3ºMundo e Jardim de Guerra. Hitler é muito superior, mas talvez tenha sido injustiça com Neville deixar seu filme de rebeldia ginasiana depois da despirocada talentosa de Agripino. Se bem que fica difícil aturar Jardim de Guerra depois que Joel Barcelos é capturado. A segunda metade do filme torna-se insuportável, mal filmada e óbvia em sua cutucada nos militares. Hitler 3º Mundo também é óbvio, mas existe um vigor na direção que impede que o filme seja apenas inconsequente. É datado, sim, como o de Neville, mas daí vem parte de seu encanto, ao contrário do outro. Às vezes me parece que defender o cinema de Neville D'Almeida é um desrespeito com o gênio imagético de Candeias.

terça-feira, 16 de março de 2004

Gangues do Gueto (2001) - Abel Ferrara * * *
Ferrara sempre foi melhor quando mais comedido. Como se quando filmasse mais passionalmente, ou sob influência de drogas, seus filmes sucumbissem (ou quase)pelo excesso de estilo, pela falta de sobriedade formal. New Rose Hotel parece ser a exceção em sua carreira. Um filme ousado, experimental, excessivo, e muito bom e plenamente auto-consciente de seus excessos. Não se pode dizer o mesmo de Blackout e Olhos de Serpente, filmes que se perdem em delírios formais que permanecem distantes do espectador. Gangues do Gueto é dos filmes "sóbrios", como The Funeral e Vício Frenético (sim, porque nesse é o personagem que despiroca, não o filme). Mas tudo nele é anti-convencional. Sabemos com quinze minutos de filme que o casal principal (vivido por Lillo Brancatto e Drea de Matteo) é traficante. Percebemos a tensão que envolve a distribuição da droga e, como diz a mulher, alguma besteira pode acontecer. É aí que Ferrara subverte tudo que se poderia esperar de um filme de traficantes. Os sequestradores, liderados por Ice T, estão preocupados com o dinheiro, mas também com a situação das ruas. Querem que o dominicano (é assim que eles chamam o personagem de Lillo Brancatto) pare de distribuir sua droga nociva nas ruas. Querem a limpeza que Giuliani faria a partir do ano seguinte. Não por acaso, a ação se passa no final do mandato do prefeito anterior, em 1995. Se o filme expõe muito bem o clima que rondava as ruas de Nova York, com policiais corruptos dividindo as ruas com os drug dealers, Ferrara mantém-se o tempo todo em chave menor, quase minimalista, privilegiando a casa, a família, a intimidade do casal. É nisso que ele realiza com precisão o que melhor faz em seu cinema, as relações entre as pessoas e como são abaladas pela impossibilidade de se manter imune à violência. The Funeral é um outro belo exemplo disso, mas Vício Frenético também, ainda que o personagem de Harvey Keitel lide mais com ele mesmo e com suas inseguranças, disfarçadas pela truculência. São os momentos dentro da casa, na companhia de sogra, filha e tios e tias que engrandecem um filme que tem tudo para decepcionar os desavisados. Ao esperarem tiroteios e reviravoltas, perderão um filme de rara humanidade.

vi Noites de Lua Cheia do Rohmer e não tenho muito a dizer sobre ele, exceto que é um dos mais fracos que ele filmou. É certo que Rohmer é sempre interessante, mas desta vez é quase impossível interessar-se pelos personagens. Fabrice Luchini sempre foi chato e sempre será, e Pascale Ogier é fraca demais, mesmo que dentro dos padrões rohmerianos de atuações pouco dramáticas.

A Vingança de Ulzana (1972) - Robert Aldrich * * *
Aldrich quando acerta, faz belos filmes. Como depois de Triângulo Feminino (The Killing of Sister George) tudo que vi dele me pareceu fake (no mau sentido) ou mal encenado, estava com pé atraz com este faroeste interpretado muito bem por Burt Lancaster. Richard Farnsworth é um dos batedores, mas não consegui reconhecê-lo numa primeira visão. O filme é muito bem realizado. Estruturado de acordo com a busca que a cavalaria americana realiza pelo rebelde apache Ulzana. As cenas de violência (sugeridas, na maioria das vezes) não impressionam pra quem estava habituado ao cinema de Aldrich, e quem viu Triângulo Feminino sabe que ele constantemente se arrisca contra a censura. Há um certo didatismo na composição de Ulzana, o que me fez temer pela hora do encontro com Ke-ni-Tay. Mas a cena é a mais bela do filme, com Ulzana chorando pelo filho morto num ritual apache tocante e que o deixa propositadamente vulnerável. O cerne do filme parece estar na cena em que Burt Lancaster diz que não odeia Ulzana, "seria como odiar o deserto por ele não ter água".

segunda-feira, 15 de março de 2004

para Scorsese, a melhor seqüência de batalha já filmada pertence a Chimes at Midnight, de Orson Welles. Conta que se inspirou nela para a batalha de Gangues de NY. Eu não vi o filme do Welles, lamento, mas a sequência de gangues cresce a cada revisão. E a música de Peter Gabriel que a acompanha cada vez mais se encaixa. "Uma elegia" nas palavras do mestre.

Os Amantes (1991) - Vicente Aranda *
Um amigo, o Cid, me cobra a revisão desse filme, um de seus preferidos. OK, o filme tem belas cenas, em especial a do suicídio de Maribel Verdú (linda, linda). Mas tem uma muleta que se chama Jorge Sans. Ele é muito ruim, principalmente quando contracena com Victoria Abril, que pode não ser uma grande atriz, mas tem uma presença muito forte. Quem viu Ata-me sabe. Não sou fã do cinema de Aranda. Só tem um filme dele que gosto, o tocante Ciúmes que o Cinemax da TVA exibia tempos atrás. Os Amantes e O Amante Bilíngue me parecem filmes meio engessados num formato de cinema de arte, com algumas (poucas) cenas visando o escândalo. Nesse quesito, o igualmente irregular Bigas Luna pelo menos é mais contundente.

Cinzas de Guerra (2002) - Tim Blake Nelson *
Nada de novo sobre o holocausto. Nelson filma muito bem, mas seu filme é desigual. Demora pra começar, o que só acontece quando entramos num território mais conhecido dos filmes do tipo, com nazistas atirando de surpresa na cabeça e tentativas de levantes. O que poderia ser novo, a rivalidade entre judeus húngaros e judeus poloneses, perde-se pela necessidade de se falar em inglês. Ou seja, eles admitem não entender o que o outro fala, por ser em outra língua, mas estão todos falando inglês. Não se trata de pedir veracidade, mas de querer que se evite um desconforto que não faz nada bem ao filme.

revisão de Os Imperdoáveis, a primeira depois de Sobre Meninos e Lobos. Tudo a ver. O mesmo desejo de compreender a gênese da violência. A mesma disposição para mostrar que matar por vingança resulta numa impossibilidade de paz de espírito, sintoma agravado pela sensação de tirar uma vida. Os extras da edição dupla são muito bons, incluindo um episódio da série Maverick em que Clint atua.

sábado, 13 de março de 2004

O Pagamento (2003) - John Woo * * *
Woo em seu território. Identidade ameaçada por perda de parte da memória. Aqui tem mais elementos tradicionais que de costume. A maior sacada do filme é ao mesmo tempo sua maior concessão às convenções do thriller: o personagem que, sabendo que irá perder a memória, prepara tudo para salvar seu futuro. Sacada que permite que Woo brinque com passado e futuro num jogo confuso e envolvente. Há muito maneirismo no filme, mas sempre justificável. A cena da tampa do açucareiro pode ser considerada genial, pois a visão distorcida da mulher passa pela percepção embaçada que Mike tem da realidade. O personagem é ao mesmo tempo obrigado a desconfiar de todos e confiar em sua estratégia anterior à perda de memória. Um subtexto pode ser apreendido disso tudo. A constatação ou não de que sob essa mesma circunstância iríamos fazer exatamente a mesma coisa antes e depois, ou seja, tudo que Mike preparou na antevisão, ele intuia que iria executar quando chegasse a hora. Woo interessa-se menos em provocar "nossos amigos verossímeis" do que em analisar a possibilidade de isso acontecer, como se não mudássemos ou, se mudássemos, acabaríamos pensando de forma parecida por circularidade. Complicado e angustiante, mas pertinente em tempos de mudanças de atitude de políticos do mundo inteiro.
Elogio da encenação (e não concordo com a ausência de balé apontada por Inacio araújo), O Pagamento nutre-se de uma série de implausibilidades para se aventurar num terreno caro ao diretor, a perda de identidade. Dessa forma, em quinze minutos de projeção, já sabemos, pela mise-en-scène, que estamos vendo um filme de John Woo, com angulações originais e ação coreografada . O filme ressente-se apenas de um final meio rastaquera para o que estava sendo muito bem articulado. Algo como uma mudança do tecno para o pop adolescente. Mudança que Woo não realiza muito bem.

sexta-feira, 12 de março de 2004

já que o Francis cantou a bola no blog dele, mando também o meu top 10 John Carpenter:

1) Fuga de Los Angeles
2) À Beira da Loucura
3) Fuga de Nova York
4) Starman
5) Enigma de Outro Mundo
6) Cidade dos Amaldiçoados
7) Eles Vivem
8) Memórias de um Homem Invisível
9) Vampiros
10) Assault on Precint 13

Quase tudo do que tinha pra dizer sobre o novo filme dos irmãos Farrelly, Ligado em Você (2003) * * *, Eduardo Valente escreveu em seu texto na contracampo. Não sobra muita coisa antes de uma revisão, mas vamos lá.
Sobre a cena que serve como carta de intenções, a da expulsão do grandalhão do restaurante no começo do filme, é obviamente uma síntese do cinema dos irmãos. Na verdade, Ligado em Você, antes de ser um passo ousado, como disse o Eduardo, é uma depuração de seu cinema. No filme está contido todo o cinema prescedente dos irmãos, desta vez mais trabalhado, com mais atenção para a força das imagens, menos explosivo e, por incrível que pareça mais engraçado. Porque antes seus filmes, além de ser um pouco presos a um formato paródico, careciam de apuro no enquadramento, algo que desautorizava as comparações com Frank Tashlin (mestre da gag de enquadramento) e Jerry Lewis, ainda que com esse último possuiam o humor físico em comum. Com Ligado em Você eles chegam ao ápice de sua procura por um cinema solto, libertário e humano, além de um acerto tremendo no tempo cômico, algo que nem sempre dava certo em seus filmes. As piadas verbais multiplicam-se com um rítmo invejável ("we lost them" - de um médico no hospital, "I'm alone" - de Bob para um rastafari logo após a separação, "that's gay" ou coisa parecida - de Bob sobre a música escolhida por Walt para o reencontro...). A comparação com Jerry Lewis finalmente procede. Como ele, Peter & Bobby Farrelly sabem que o espaço cênico nunca deve ser menosprezado, e que um enquadramento pode ter muita força política, como mostram com precisão neste belo filme, o melhor de suas carreiras.

quinta-feira, 11 de março de 2004

revendo Os Bons Companheiros, cheguei à conclusão que suspeitava, a de que o filme é, sim, inferior a Cassino, apesar de obra-prima. Não tem a mesma força no tocante às relações amorosas. É certo que não é o principal e talvez Scorsese tenha deixado realmente esse assunto meio encoberto pela identificação com o ideal de ser um gangster. Mas quando ameaça partir para esse lado, Goodfellas revela-se meio tateante, como se Scorsese não tivesse muita noção do que queria dizer. E a longa seqüência do patrulhamento por helicóptero não tem o ritmo que se esperava em um filme dele. No top 10, Os Bons Companheiros desce para a décima posição, sendo ultrapassado por todos os outros. É nisso que dá esperar quase 14 anos pra rever um filme muito querido.

quarta-feira, 10 de março de 2004

Ontem descobri que Londrina, apesar de bem mais populosa do que Maringá, tem menos salas de cinema (9 contra 14). Além de ter bem menos filmes em cartaz. Nas duas cidades, as salas servem para passar dois ou três filmes, com alternância de horários. Em Londrina, a sala alternativa, que era programada pela UEL (Universidade Estadual de Londrina) e ainda ostenta uma arquitetura de cinema anos 50 bem bonita, está desativada desde 2001 por falta de incentivo do governo, conforme me informou o segurança na porta. Funciona lá apenas o teatro universitário. Triste constatação de um dia muito triste.

Por um Triz (2003) - Carl Franklin *
Há uma regra para filmes desse tipo, e que um bom diretor consegue burlar tranquilamente, que diz que se for para enterdemos o que está se passando, que seja muito bem construído, sem subestimar a inteligência do espectador. Pois se Carl Franklin foi competente em O Diabo Veste Azul, deixando-nos à margem do que acontece para privilegiar a criação de climas, aqui ele se complica justamente por querer explicar demais. Complica-se mais por não saber lidar com os elementos que tinha em mãos do que por uma suposta ineficiência como diretor. As únicas cenas que funcionam a contento são as que envolvem John Billingsley, ator de grandes possibilidades cômicas e que proporciona alguns momentos realmente engraçados, vivendo o médico legista Chae. São dele as melhores falas de um filme sem sal e com final engessado, pois reducionista (no desfecho amoroso) e conservador (na lição de moral que o personagem parece ter tido).

terça-feira, 9 de março de 2004

Pânico na Floresta (2003) - Rob Schmidt *
Trabalhar com os clichês do gênero é o que pretendia Rob Schmidt, assim como o Kassovitz de Na Companhia do Medo. Mas o filme nunca deixa de ser uma derivação não desprovida de interesse de Wes Craven (penso em Quadrilha de Sádicos). Há boas coisas (a atmosfera opressiva da floresta, as cenas nos galhos das árvores...) e uma seqüência que não foi bem filmada, e seria muito importante que fosse, a do ataque final à cabana dos mutantes. Coluna do meio.

Na Companhia do Medo (2003) - Mathieu Kassovitz 0
Kassovitz trilhando o terreno do terror. O caminho escolhido pedia que ele tentasse envolver o espectador, o que acontece até a loucura de Halle Berry. A partir desse momento, o filme vai perdendo pela necessidade de se explicar tudo - e há uma seqüência medonha no meio do filme mostrando realmente o que aconteceu - e pela indecisão entre explorar a loucura da personagem ou simplesmente provocar sustos na platéia.

segunda-feira, 8 de março de 2004

Muita gente falando maravilhas do novo dos irmãos Farrelly. Só vou poder ver o filme na quinta-feira, mas toda essa babação de ovo me deixa com receio. Filipe Furtado chegou a fazer, no anotações, comparações com Jerry Lewis. Ver um filme com tanta expectativa não é muito legal, mas é um belo teste para o discernimento crítico.

sábado, 6 de março de 2004

já que não vou poder ver filmes nem hoje nem amanhã, mando mais um post picareta, pra aproveitar a retrospectiva do Polanski que começa dia 19 no cinesesc. aqui vão minhas cotações para os filmes do homem:

Faca na Água (62) * * *
Repulsa ao Sexo (65) * * *
Armadilha do Destino (66) * * *
Dança dos Vampiros (67) * *
O Bebê de Rosemary (68) * * * *
Macbeth (71) * * * *
O Quê? (73) * *
Chinatown (74) * * * *
O Inquilino (76) * * * *
Tess (79) * *
Piratas (86) *
Busca Frenética (87) * *
Lua de Fel (93) * *
A Morte e a Donzela (94) * * *
O Último Portal (99) * * *
O Pianista (02) * * *

sem contar curtas e episódios.

sexta-feira, 5 de março de 2004

Chinatown (1974) - Roman Polanski * * * *
Polanski é um excelente criador de atmosferas. Aqui, a recriação do cinema noir, à partir de um roteiro de Robert Towne, é perfeita. Interessa mover-se no terreno da narrativa clássica, como vários outros filmes do diretor, sem prejuízo da encenação. A câmera está sempre no lugar certo, os planos duram sempre o tempo certo. Luzes e rítmo num jogo sépia envolvente, apesar de complicado. John Huston sublime e uma bela cena de sedução entre Nicholson e Faye. Aliás, o detetive Gittes, vivido por Nicholson, empolga na medida em que não é extraordinário. Passa o filme fazendo movimentos errados e sofre o diabo por isso. Não é um herói, mas um abelhudo sem noção de perigo. Na entrevista que vem de bônus no DVD, Polanski diz que gostariam de Jane Fonda no papel de Evelyn, ao que Polanski bate mesa, pois sabia que era um papel para Faye Dunaway. Estava certo.

The Wall (1982) - Alan Parker 0
Alan Parker é um diretor bem irregular. Seus filmes podem até acertar, mas são sempre limitados por uma forma espetaculosa e com aspecto de lustra-móveis, foto cheia de truques, montagem tendenciosa, onde há uma força muito grande para conduzir o espectador, coisa que dificilmente ele conseguiria com a mise-en-scene. Dito isso, tenho medo de rever os filmes que gosto dele, com exceção de Evita. The Wall eu já não gostava, mas como surgiu o DVD em minhas mãos resolvi dar uma olhada. Ficou pior. Sucessão interminável de imagens falsas para ilustrar uma rebeldia de ingenuidade sem limites. Tem a música, que eu gosto, mas não dá pra salvar o filme.

quinta-feira, 4 de março de 2004

uma lista bizarra e egocêntrica, mas curiosa: os 5 filmes que me fizeram mudar mais sensivelmente a opinião com uma revisão:
(para o bem)

1- Síndrome de Caim
2- Boda Branca
3- Os Últimos Passos de um Homem
4- Twin Peaks
5- Casanova

todos filmes que eu não gostava e passei a gostar bastante.

(para o mal)

1- Amarcord
2- Gaviões e Passarinhos
3- Três Reis
4- O Ilusionista
5- Desafio no Bronx

todos filmes que achava obra-prima (os dois primeiros) ou quase e que continuo gostando, mas bem menos que antes.

Para Minha Irmã (2001) - Catherine Breillat * *
Só há uma possibilidade de leitura em Para Minha Irmã, e esta é perfeitamente correspondente às obsessões de Breillat, assim como impõe suas limitações. O filme é construído sob o ponto de vista de Anaïs, irmã mais nova Elena, que está na expectativa da perda da virgindade. O cinema de Breillat ganhou notoriedade por retratar de forma sensível, mas não raramente recalcada, o inferno hormonal das adolescentes e as tensões que a descoberta da sexualidade provoca. Em Para Minha Irmã, descobrimos que teremos uma visão subjetiva (a de Anaïs) do primeiro romance de Elena, quando Anaïs sussurra de um lado para outro da piscina, simulando cochichos amorosos com dois pretendentes imaginários. Mas Breillat deixa claro que trata-se de um faz-de-conta da menina. Tenta, apesar de tudo indicar para outro lado, manter certo distanciamento. Ou seja, a visão é parcialmente subjetiva. É esse o principal problema do filme. O que impede a aceitação da meia-hora final, com as reclamações sobre a falta de civilidade dos franceses (eles não jogam restos de comida no lixo, buzinam constantemente nas estradas e seus caminhões ultrapassam em alta velocidade, quando não trafegam pela esquerda), culminando na explosão de violência que, ao mesmo tempo que vem a ser o mote principal do filme, com a realização da vontade de Anaïs, imaginária ou não (o que pouco importa do jeito que é colocado), acaba sendo também a pitada de recalque presente em quase todos os filmes de Breillat. Se ela assumisse que toda a realidade é filtrada por Anaïs, teríamos uma entrega salutar ao personagem. Do jeito que ficou, o que colar, colou. A realidade pode ser dura a ponto de chocar o espectador (ou uma machadada fatal na cabeça não choca mais, mesmo que necessária ao que a diretora quer dizer?). Desde que melhor trabalhada em sua ambigüidade. Seria delírio ou real? O espectador escolhe. Existem filmes que pedem essa dúvida, não é o caso deste. Pior é que Breillat ficou muito perto de fazer um filmaço. A cena das duas irmãs conversando em frente a um espelho está entre as coisas mais belas e humanas filmadas nos últimos anos. Instantes que fazem o interesse de seu cinema.

pretendia rever Ken Park, até pra ver se continuo achando o mesmo que escrevi para a Contracampo. Mas, sinceramente, meu masoquismo não chega a tanto. E eu tenho quase certeza que minha opinião não mudará. Lembro bem do filme, tem muita coisa ali que considero repulsivo demais, com um sensacionalismo besta. Preferi jogar sinuca.

quarta-feira, 3 de março de 2004

adendo ao post anterior: esqueci da genial seqüência do metrô, com o executivo fugindo do lobisomem. a câmera está no topo da escada rolante. tudo indica que o lobisomem vai atacar por ali, mas ele aparece na parte de baixo da tela, devagar, sabendo da impossibilidade de fuga da vítima. mais um exemplo de como brincar com os clichês de um gênero.

Um Lobisomem Americano em Londres (1981) - John Landis * * * *
--Say knoc knoc
--Who's there?
--No. You say knoc knoc.
--knoc knoc.
--Who's there?
--Who?

Mais um da série filmes-vistos-no-início-da-cinefilia-devem-ser-revistos. Não achava grande coisa este filme que sempre me pareceu bem inferior ao de John Dante (Grito de Horror, 1981). Vendo a belíssima edição em DVD do filme, fica claro que Landis, antes de pretender qualquer entrelinha de cunho político, algo que mesmo assim não é descartado, lançou-se num verdadeiro estudo do gênero. O terror adolescente com pitadas de humor, e que ganhou o apelido de terrir, ainda viraria moda naquela mesma decada de mortos vivos e reanimators. Landis não quis assustar, aterrorizar sua platéia, mas dialogar inteligentemente com os ingredientes do universo do filme de terror. É um filme, antes de tudo, para cinéfilos. Vale lembrar duas seqüências geniais que comprovam o desinteresse de Landis pela simples manipulação do espectador em favor a um ludismo com as regras estabelecidas pelo gênero: a do sonho, onde David se vê, no pântano, deitado numa cama de hospital e sendo observado pela enfermeira - passagem rápida que introduz o terror psicológico no filme - e toda a parte em que ele entra no cinema a procura de Jack, o cadáver. Vemos o filme que passa na tela do cinema, uma piada em si, e genial. Em seguida Jack apresenta os outros cadáveres, ainda frescos, vítima da ferocidade de David quando lobishomem. As várias versões de Blue Moon mais Moondance de Van Morrison fazem da trilha uma delícia maior.

terça-feira, 2 de março de 2004

Casanova (1976) - Federico Fellini * * *
Casanova é um filme que já nasceu megalomaníaco. Um exagero pelo qual Fellini não seria poupado. Mesmo os admiradores do diretor insistem em atirar pedras no filme. Seria Casanova um fracasso retumbante? Teria Fellini se acometido de uma obsessão por suas próprias características cinematográficas, prejudicando seu senso estético, a ponto de transformar o filme numa sucessão de imagens grandiloqüentes e vazias, desprovidas de amor pelo cinema? Minhas lembranças de quando vi na TV, no início dos 90s, corroborariam essa tese. Um filme arrastado, com muitas imagens de grife, algo perdido em meio a um personagem mais forte do que o próprio Fellini. Na revisão, porém, ficou claro que o projeto nada tem de megalomaníaco. Trata-se de um dos filmes mais tristes do diretor. Casanova é um herói que luta o tempo todo para evitar sua evidente decadência. O decadentismo, tema tão caro a italianos como Visconti e Bolognini, volta aqui em outra amarga faceta. Se Fellini imprime sua marca circense, ao contrário do classissismo dos outros diretores, é porque não teme a abordagem que lhe convém. Não se dobrou a um personagem difícil, inquietante, e que dá muitas chances de excessos rococós. Fellini fez aqui seu filme mais barroco, onde nada é gratuito, e todos os detalhes têm sua função. Quem não gosta do diretor odeia o filme, já quem admira seu onirismo devia (re) ver Casanova sem preconceitos. A direção de fotografia é um assombro. Faz de suas imagens algo muito belo, mas que está a serviço do filme. O filme tem que ser belo. A noção de derrocada pede esse deslumbramento visual e quem lembra de Giuseppe Rotunno (talvez o melhor de todos os diretores de fotografia) por O Leopardo, Dois Destinos e Roma, sabe do que ele é capaz. Não seria exagerado considerar a foto de Casanova como a melhor de qualquer filme de Fellini. Seu trabalho com as sombras é impressionante e, mais uma vez, não chama atenção para si. O barroquismo pede esse requinte de cores, ora vibrantes (quando Casanova ainda está no auge como amante), ora esmaecida (para ilustrar seus dias menos priápicos). É episódico, como quase todo Fellini, e irregular, como (podem atirar pedras) Amarcord. Mas é Cinema, com tudo que a letra maiúscula insinua de majestoso. Com acertos e erros que provam que Fellini não era de se acomodar, mesmo quando se encerra numa caixinha de música.

segunda-feira, 1 de março de 2004

gostei da idéia dos blogs amigos de postar os filmes vistos em cada mês, mas como só anoto os vistos em cinema, vou postar só esses de fevereiro e em março já começarei a anotar tudo que vejo e onde. fevereiro, então, foi assim nos cinemas:

Revelações - Robert Benton (DirecTV 1) *
Encantadora de Baleias - Niki Caro (Cinesesc) *
Narradores de Javé - Eliana Caffé (Arteplex 7) *
O Último Samurai - Edward Zwick (Arteplex 9) *
Mestre dos Mares - Peter Weir (Aspen 5-Maringá) * *
School of Rock - Richard Linklater (Mt. Santa Cruz 5) * * *
School of Rock - Richard Linklater (Central Plaza 5) * * *
Cold Mountain - Anthony Minghella (Bristol 1) **
Sonho Azul - Tian Zhuangzhuang (Cinesesc) *
Terra de Sonhos - Jim Sheridan (Arteplex 4) *
Big Fish - Tim Burton (Arteplex 1) *
A Colecionadora - Eric Rohmer (Top Cine 2) * * *
Quero Ficar com Polly - John Hamburg (Bristol 1) *
O Monge à Prova de Balas - Paul Hunter (Marabá) * *