terça-feira, 29 de junho de 2004

Bajo California, o Limite do Tempo (1998) Carlos Bolado * * *
Uma bela surpresa. Filme que vi quase amarrado ontem, porque encasquetei que alguém tinha me falado muito mal dele. Acho que confundi. Apesar de bem maneirista (alguns dos maneirismos não têm razão de existir), o filme é sincero e apaixonado, feito com muito tesão por cinema. Nos melhores momentos, lembra Manoel de Oliveira. Sua entrega à herança da civilização mexicana é sensível e faz valer a pena procurar o filme para baixar, alugar (não sei se tem), ou lutar por sua programação em algum cineclube. O filme passou com legendas em português.

segunda-feira, 28 de junho de 2004

Revisões servem pra nos fazer de bestas, principalmente quando descobrimos que aquele filme que nós sempre achamos genial não passa de um truque barato pra nos deixar impressionados. Caí muitas vezes nesses truques, e acho normal que isso aconteça. Mas o que mais gosto (ok, quem não gosta?) é rever um filme que eu já achava bom, mas que cresce na revisão a ponto de me levar às lágrimas. Foi assim com Josey Wales, o Fora da Lei, retrato impressionista dos resultados da Guerra da Secessão, com uma foto primorosa, em verdes e marrons, com filtro azulado na construção do mito Josey Wales, o que ocupa os créditos. Uma verdadeira obra-prima, um libelo pacifista com Clint Eastwood em estado de graça, e um rítmo perfeito. Talvez seja o mais pictórico de seus filmes, com referências (propositais ou não, não sei) à pintura de Pissarro, mestre impressionista. Um scope muito bem trabalhado, com atenção especial às formas (dunas de areia, margens de rios, e as árvores se confundindo e formando uma pasta bege-esverdeada de matar Karel Reisz de inveja (quem viu A Mulher do Tenente Francês sabe do que estou falando). Filme obrigatório pra quem quiser entender cinema, e suas possibilidades.

domingo, 27 de junho de 2004

Só agora pude ver Shrek (o primeiro), nem perto de ser bom como vários amigos falaram, mas muito longe do lixo que alguns (amigos também, claro) contracampistas pregam. É triste ver que, para Fiona casar com Shrek ela tem de assumir sua condição de monstrenga, mas o mais grave é que, fosse o filme fiel às suas intenções de brincar inteligentemente com as fábulas, não haveria tal planificação de A Bela e a Fera, com a total destruição das sutilezas psicológicas lá contidas (eu disse psicológicas, não psicologizantes). Pega-se um material rico e torna-o simplista e conformista. Tem seus momentos, mas poderia ser bem melhor, e agredir menos a inteligência do espectador.
Timeline, de Richard Donner, começa bem esquemático, com cenas que só servem para apresentar didaticamente os personagens. Depois engrena, e ameaça ficar bem legal, com uma divertida viagem pelo tempo e uma interessante discussão sobre a necessidade de se aprender com o passado. Quando o filme revela sua estrutura pouco ambiciosa, ele patina, pois Donner parece muito pouco interessado em filmar cenas de ação.

quarta-feira, 23 de junho de 2004

Violent City (1970) Sergio Sollima * * *
Meu primeiro Sollima, e isso me envergonha. Lembro que o Inácio Araújo vivia recomendando seus filmes na coluna dele, mas nunca pude conferir. Violent City (Città Violenta no original) proporciona uma experiência inusitada. Pouco se entende a trama do filme, que envolve um matador profissional (Charles Bronson) e traições de sua amada (Jill Ireland) e de antigos amigos. Os diálogos beiram a indigência e pouco importam para o bom desenrolar do filme. É a encenação de Sollima que importa. A primeira seqüência de ação é uma perseguição motorizada que é um primor, um dos melhores momentos de cinema físico. Ao final da perseguição, muito se espera do filme, e isso acaba sendo um problema, pois tirando uma ou outra cena, como a da aranha na cela da prisão ou a lembrança de que Jill Ireland entrou naquele carro, o resto é morno demais. Quando a frustração ameaça derrubar o filme, surge mais uma seqüência de tirar o chapéu: o assassinato do amigo e da amada no elevador panorâmico, culminando com a entrega de Bronson à morte redentora. Por esses dois momentos, suficientes para considerar Sollima um gênio, o filme eleva-se a uma categoria que o distingue de um mero exercício de ação.

sábado, 19 de junho de 2004

Não conheço muito bem a carreira do diretor Monte Hellman, mas me parece, pelos dois filmes e um trailer que vi, que ele constrói seus personagens, e toda a parte dramaturgica de seus filmes, a partir da dúvida. Essa parece ser a maior constante em seus filmes, e me ficou claro em Two-Lane Blacktop, no trailer de Cockfighter e, principalmente no admirável faroeste Ride in the Whirlwind. Os diálogos são todos brilhantemente construídos para acentuar personalidades conflitantes, ou melhor, são desconstruídos já que aparentam improviso o tempo todo. Nesse sentido, (Harry) Dean Stanton, até mais que Jack Nicholson, parece o ator ideal para Hellman. Ao final do filme (estou falando de Ride...) fica uma vontade imensa de rever, pois na camada de sutilezas parece sempre ter escapado algum detalhe genial. Filmes maravilhosamente incompletos. Quero mais Monte Hellman.

quinta-feira, 17 de junho de 2004

Depois de A Fantástica Fábrica de Chocolate, a nova cobaia para uma revisão anos após constantes visões do filme na Sessão da Tarde foi A Nova Viagem de Simbad (The Golden Voyage of Simbad, 1974), visto em DVD região 1, no formato correto de 1:85. Mas ao contrário do outro, este decepciona. Hessler não tem muita idéia de que pode fazer uma bela fantasia juvenil, com uma mise-en-scène de cartão de ponto que torna o filme burocrático demais. Nem os efeitos de Ray Harryhausen, que adquiriu fama por seus efeitos em Jasão e o Velo de Ouro, este sim, um belo filme de aventuras, salvam o filme de ser apenas mais uma aventura de Simbad. Mas a beleza inusitada de Caroline Munro segura o interesse até o fim.

quarta-feira, 16 de junho de 2004

Revisão Clint Eastwood

Rota Suicida continua bom como sempre foi, infelizmente. Gosto de mudar de opinião, para o bem ou para o mal, mas o filme tem problemas sérios de ritmo, além de uma gratuidade que nada traz de convincente, plasticamente ou de justa inserção na trama, a não ser um desejo do diretor de ver como ficava a execução de sua idéia. Nada de muito errado nisso, mas a longa seqüência do ataque ao ônibus, no meio da cidade de Phoenix, não é bem filmada. Simples. Poderia deixar-nos aflitos, ou anciosos para que eles saiam vivos. Não é o que acontece. Um climax que não se justifica como tal. Sondra Locke foi a surpresa, já que nunca fui muito fã dela, e agora me encantei com sua prostituta afável, louca de amores pelo policial beberrão feito por Clint. Todas as cenas de carinho entre os dois, principalmente a que vem logo depois do quase estupro do vagão de trem, são muito boas.
Impacto Fulminante é mais problemático. Em certos momentos pode-se perceber o desinteresse do diretor. E o que é aquele musak horroroso no início? Aquilo atrapalha a digestão do filme até pelo menos um terço de sua duração. Alguns belos momentos salvam o filme da mediocridade (climax no parque de diversões, o mafioso sendo atacado por Harry Callahan bem no casamento de sua filha, o primeiro olhar apaixonado de Sondra Locke para Harry). Vindo do diretor, poderia se esperar bem mais. Um duas estrelas justas. (sorry, Bruno)


terça-feira, 15 de junho de 2004

Dois filmes vistos: Cazuza e Doze é Demais. Cazuza vai bem mal até a metade, com Cazuza retratado como um imbecil que andava por aí dizendo frases feitas. Um pastiche dionisíaco. Um processo hagiográfico (admitindo-se que seja um elogio à excentricidade do artista) já cometido por Oliver Stone no fraco The Doors. Depois que ele fica sabendo que está com AIDS, o filme toma um ritmo mais contemplativo, com o artista amargurado, e consequentemente mais humano. Não é bom, mas está longe de ser um lixo. Doze é Demais é um filme agradável de se ver, muito pelo trabalho de atores (e Steve Martin e Bonnie Hunt estão ótimos). Levy tinha um belo trunfo nas mãos e não desperdiçou. Só que o filme é conservador pacas, e carrega nas tintas do preconceito contra interioranos (dá uma falsa impressão de que todo americano de cidade grande é fascista). Mesmo o diretor do time que contrata Martin desdenha de sua opção pelo campo. A equação entre crítica e sátira não foi muito bem feita. Vi no blog do Renato e fiquei com vontade de ver, mas provavelmente nunca iria pegar na locadora. Aí veio o Beto, com quem divido o apartamento, com esse e Lance de Sorte da locadora. Escolhi esse, apesar de não ter visto ainda o filme do Jordan. Não posso dizer que me arrependi.

segunda-feira, 14 de junho de 2004

Qualquer suspeita de esquizofrenia é reiterada quando percebo que Gosto de Cereja é ao mesmo tempo uma obra-prima e um filme frustrante. Obra-prima porque é indiscutivelmente um dos maiores libelos pela vida jamais feitos e uma seqüência - a que o velho taxidermista enumera as coisas que ele nunca mais iria ver caso se suicidasse, quando a estrada toma cores bem mais vivas, em contraste com a aridez da região transitada - seria o bastante para alça-lo como um exemplo de força imagética, que é frequentemente subestimada nos filmes do diretor. Frustrante porque, apesar do final ser o maior postulado das idéias defendidas por Kiarostami (a melhor cena é onde a câmera não está = a vida é mais importante que o cinema; o caminho diz muito mais que a concretização do desejo), é insatisfatório quando se quer conhecer o destino do personagem, tão sutil quanto fantasticamente construído. Por causa dessa frustração, paradoxalmente, Kiarostami fez seu melhor filme. Confuso? Culpem a esquizofrenia.

Um Mundo Perfeito (1993) Clint Eastwood * * *
Das revisões que havia prometido por conta de indignações do Bruno: este filme de Eastwood, que não havia me convencido na época em que estreou nos cinemas e cresceu após uma revisão em vídeo, provavelmente uns três anos depois, melhorou ainda mais, mas não tem o mesmo impacto de obras como Mystic River e Os Imperdoáveis, para ficar em dois que acho bem parecidos, pela postura inquieta frente aos pré estabelecidos conceitos de marginalidade (claro que todos esses filmes têm muito mais do que isso, mas considero essa postura um importante ponto em comum entre eles). Clint exagera no tom quando resolve explorar o tratamento paterno, ainda que esse seja sua maior preocupação. Ou seja, ele se esforça demais para mostrar a intolerância de Haynes para com pais enérgicos, um pouco a mais do que seria necessário. Mas a beleza de inúmeros planos, o uso perfeito da trilha, e a atuação dos antagonistas que se identificam (Eastwood e Costner) são suficientes para que o filme esteja entre os dez mais do diretor (viu, Bruno?). Entre os cinco, nem a pau.

terça-feira, 8 de junho de 2004

Gremlins (1984) Joe Dante * * *
Dante só peca em um aspecto, menor, mas suficiente para deixar um pequeno senão ao filme: seus personagens, devido à necessidade de dar prosseguimento ao carrossel de emoções, comentem verdadeiros absurdos de burrice. Como não sou REF, isso não atrapalha muito, mas Dante saberia evitar essa armadilha em pelo menos dois de seus filmes: Gremlins II e Pequenos Guerreiros, possivelmente suas melhores obras. Uma seqüência é paradigmática de seu talento: a mãe chorando na frente de um aparelho de TV que exibe A Felicidade Não Se Compra, enquanto descasca cebolas. O que eu não lembrava, já que não revia o filme há mais de dez anos, é que os Gremlins já eram usados como um comentário sobre o consumismo Yankee. Os yuppies dominavam o mercado financeiro (há uma bela piada sobre isso no início do filme) e Dante aproveita-se para questionar a voracidade de suas intenções frente ao sempre crescente problema social, ameaçando, mas apenas ameaçando, entrar num terreno muito perigoso da demagogia. Dante é inteligente para fugir disso, e tempera o filme com boas sacadas sobre a xenofobia norte-americana (como na cena em que Dick Miller reclama de um filme estrangeiro que passa na TV) e sobre o conservadorismo de sua sociedade.

O maior elogio que se pode fazer a O Galante Rei da Boca, de Alessandro Gamo e Luis Rocha Melo (que conheci numa reunião da contracampo no Plebeu) é que se sai do filme com vontade de iniciar projetos. Os diretores captaram muito bem a vontade contagiante daqueles amantes do cinema artesanal e feito com muito coração (palavra esta muito usada no papo pós filme). Além disso, as entrevistas foram editadas numa ordem muito inteligente, o que ora permite que acompanhemos a cronologia dos acontecimentos, ora nos envolve diretamente com a energia deflagradora dos criadores, como acontece na entrevista com Severino Dadá e com Carlos Reichenbach.

segunda-feira, 7 de junho de 2004

"expect no mercy, gorgonite ally"

Sylvia (2003)- Christine Jeffs 0
Gwyneth Paltrow está bonita, ao contrário do que disseram por aí, mas o filme se esforça ao máximo pra parecer um subproduto do cinema artístico inglês. Infelizmente, na maioria das vezes ele consegue, com um excesso de câmeras lentas e músicas entrando para acentuar o drama e fazer as pessoas sensíveis chorarem de emoção. Um filme covarde, que nada faz para que entendêssemos a angústia da poetisa Sylvia Plath, ou como um sentimento de inferioridade se transforma numa depressão profunda. Lembra o igualmente insosso Iris, com Judi Dench. A marca da qualidade. Blearghhh.

sábado, 5 de junho de 2004

Estou com uma baita dor de cabeça hoje, o que impossibilita que eu fique muito tempo no computador. O post é só para entrar o blog do Vébis nos links, e reparar uma injustiça, já que só me dei conta dele ontem. Desculpe aí, Vebis...

quinta-feira, 3 de junho de 2004

The Singing Detective (2003) - Keith Gordon * * *
Uma indicação do RD que, lendo o blog do Filipe, me toquei que não havia seguido. Só vou dizer uma coisa: logo no começo, Adrien Brody ouve no rádio How Much is that Doggie in the Window, cantada por Patti Page. Na hora que o cachorrinho faz "au au", Adrien Brody dubla o cachorrinho. A música é repetida mais vezes no filme, com o cachorrinho sendo sempre bem audível. Uma brincadeira musical de quem conhece e tem sensibilidade para ouvir música. Fora isso um monte de clássicos de Gene Vincent e outras coisas muito boas dos fifties na trilha.

quarta-feira, 2 de junho de 2004

Do Outro Lado da Rua (2004)- Marcos Bernstein *
Não há nada, nem um plano sequer, que justifique uma menção ao trabalho de mise-en-scène de Bernstein. Como diretor estreante, tudo que ele faz é dar campo para seus atores brilharem. Raul Cortez e Fernanda Montenegro são dos maiores atores em atividade, no mundo, mas o tema da solidão, e como ela pode ser combustível para delírios paranóicos e inseguranças de diversos tipos, merecia um tratamento intimista cinematográfico, algo que Bernstein não se preocupou em fazer. Tudo é feijão com arroz demais, sobrando apenas a arte das estrelas. Se cinema fosse uma arte de atores...

terça-feira, 1 de junho de 2004

Filmes vistos em maio: em itálico (já que agora o template permite) os revistos.

A Cat in the Brain - Lucio Fulci * *
Cuidado com a Puta Sagrada - R.W.Fassbinder * * *
O Despertar dos Mortos - George Romero * * *
Madrugada dos Mortos - Zach Snyder * * *
Satansbraten - R.W.Fassbinder *
O Comerciante das Quatro Estações - R.W.Fassbinder * * * *
O Machão - R.W.Fassbinder * * *
Two Evil Eyes - Romero & Argento * * *
O Pântano - Lucrecia Martel * * * *
Strait-Jacket - William Castle * * *
Osama - Siddiq Barmak * *
O Prisioneiro da Grade de Ferro - Paulo Sacramento * * * *
The Knack or How to Get it - Richard Lester * * *
Como se Fosse a Primeira Vez - Peter Segal * *
Diários de Motocicleta - Walter Salles 0
Waking the Dead - Keith Gordon * *
Benjamin - Monique Gardenberg 0
Help - Richard Lester * *
La Vallée - Barbet Schroeder *
Van Helsing - Stephen Sommers *
A Última Saída - Budd Boetticher * *
Correio do Inferno - Henry Hathaway * * *
Valentin - Alejandro Agresti * * *
Minha Vida sem Mim - Isabel Coixet *
O Rei de Nova York - Abel Ferrara * * * *
Kill Bill Vol.1 - Quentin Tarantino * * * *
Bruiser - George Romero * * *
Femme Fatale - Brian DePalma * * * *
O Pântano - Lucrecia Martel * * * *
Winchester 73 - Anthony Man * * * *
Kill Bill Vol.1 - Quentin Tarantino * * * *
Como se Fosse a Primeira Vez - Peter Segal * * *
Um Certo Capitão Lockhard - Anthony Man * * * *
Viva Voz - Paulo Morelli 0
Roger e Eu - Michael Moore *
Girl With a Pearl Earring - Peter Webber 0
De Corpo e Alma - Robert Altman * *
Buffalo 66 - Vincent Gallo * * *
La Fleur du Mal - Claude Chabrol * * *
Underworld - Len Wiseman * *
Auto Focus - Paul Schrader * *
Filme de Amor - Júlio Bressane * * * *
A Vida de Brian - Terry Jones * * *

Como eu perdi os dados do template antigo, acabei esquecendo de adicionar os últimos links que eu havia colocado. Já foram colocados. Peço desculpas.