terça-feira, 26 de dezembro de 2006

Blog em recesso até janeiro. Boas festas e um maravilhoso 2007 para todos.

Ano que vem promete: Clints, Maria Antonieta, Alfred, e a Paisà #7 sai em fevereiro, com os melhores de 2006.

quarta-feira, 20 de dezembro de 2006

Na impossibilidade de ver todos os filmes produzidos no Brasil, um crítico deve ver o que der, certo? Se uma retrospectiva como a do Cinesesc propicia a chance de ver o que se perdeu durante o corre corre do circuito, temos que aproveitar essa chance, certo? Pois é, acontece que dos três filmes que eu vi na retrospectiva até agora, o melhor pode ser considerado razoável com muito custo. Sim, porque Morro da Conceição, de Cristiana Grumbach, assistente de Coutinho, repete fórmula (entrevistas cavocadoras de histórias) e câmera (Jacques Cheuiche) de Edifício Master, mas parece que alguma coisa meio inexplicável esteve ausente durante a projeção. Seria Coutinho, com seu dom natural para arrancar as mais desinibidas confissões? Seria um ritmo mais claramente episódico, sem os irritantes planos fixos de ruelas e ladeiras (simpáticas, mas um tanto cansativas)? Acho que o que faltou mesmo foi uma amarra mais convincente para o recorte do filme. Ainda assim, dá pra ver. O que não se pode dizer de Intervalo Clandestino, decepcionante documentário invasivo de Eryk Rocha. Por que invasivo? Porque ele simula uma invasão de um programa apartidário, mas claramente cutucador, e por isso podendo ser considerado de oposição, no espaço de propaganda política da TV. Como é clandestino, o som falha, a captação de imagens por vezes é sofrível, mas, francamente, precisava abusar dos zooms sem sentido? Se o entrevistado era uma mulher com problemas dentários, taca zoom em sua boca, se era um senhor com sobrancelhas grossas e de fios rebeldes, soca sobrancelha na tela inteira. Essa falta de tato irrita, por mais que a intenção fosse dar uma cara mais amadorística à intervenção. Nada amadorística, entretanto, são as abstrações inseridas durante o filme. Algo que Carlos Adriano ou Joel Pizzini já fizeram muito melhor, e a que Rocha parece dar um valor excessivo, tirando bastante a cara de clandestinidade da coisa, pois o que cheira a experimentalismo, tem muito mais a ver com uma certa concepção fechada de obra, contrastando com o aspecto "ver no que dá" do restante do filme. Pior ainda é Gatão de Meia Idade, de Antonio Carlos da Fontoura. O que aconteceu a esse diretor? Se a intenção é fazer cinema comercial, que se faça decentemente, que se conheça um mínimo da linguagem cinematográfica. Sei que Fontoura a conhece, mas a sucessão de cenas e planos constrangedores parece dizer que não (flashback das ex-namoradas, cenas com a ninfeta e a amiga, as crises do gatão, o overacting de Alexandre Borges). De um cara que já fez Copacabana Me Engana e Rainha Diaba se espera muito mais.

terça-feira, 19 de dezembro de 2006



Maria Antonieta, de Sofia Coppola, é bem mais bizarro do que eu esperava. Sim, a trilha é aquela salada pop que todos falaram, com Siouxie and the Banshees, Bow Wow Wow, Adam & the Ants, The Cure e outros oitentistas. Mas a frieza conseguida com essa idéia de colocar músicas pops atuais às vezes é exagerada. Quando engrena, no entanto, o filme flui muito bem. E muito dessa fluência vem, por incrível que pareça, da trilha mais conservadora, mais próxima do que se espera de um filme dessa época (a proximidade da Revolução Francesa). Ou seja, a opção que poderia ser a mais radical de Coppola acaba não sendo tão radical assim, e ainda ameaça ir contra o filme. Mas a estranheza prevalece, principalmente porque não estamos habituados a um filme do século 18 que tenha atuações e entonações que não pretendem disfarçar que estamos no século 21, em pleno revival do início da década de 80. É um filme neo-romântico, como o que Simon Le Bon, o vocalista do Duran Duran, teria feito em 1981. É também um filme desigual e talentoso, o mais fraco de Sofia Coppola, mas disparado o mais arriscado. Tomara que faça sucesso.

obs: o filme foi visto no Cine Olido, dentro de um festival sobre figurinos que promete, em 2007, uma ampla retrospectiva com os filmes de figurinos mais interessantes da história do cinema desde os anos 20. Vamos ver no que dá essa doideira...

terça-feira, 12 de dezembro de 2006




















Paisà # 6

- Um passeio pelo cinema brasileiro em 2006
- os segundos filmes
- os veteranos do cinema novo
- documentário/ficção
- políticas do cinema brasileiro

- Críticas de O Labirinto do Fauno, Filhos da Esperança, Dias Selvagens, Babel, Entreatos e Peões, Trilogia das Cores, Sans Soleil, Macunaíma...

- 20 grandes filmes de guerra

- ensaio de Adrian Martin

- cobertura da Mostra SP e do Festival do Rio

- Os Sete Samurais reloaded

e mais... já nas bancas de São Paulo e Rio de Janeiro (bem, no Rio a partir de quinta)

boa leitura

sábado, 9 de dezembro de 2006

Dois filmes de Martin Campbell. O primeiro, Fuga de Absolom, é bem fraco, e seu único interesse vem do paralelo que se pode fazer entre a trama que se desenvolve numa ilha presídio e a história da Austrália, antiga colônia penal britânica. Como Campbell é neozelandês, imagino que alguma analogia tenha sido pretendida pelo diretor. Se é que há mesmo uma rivalidade entre Austrália e Nova Zelândia. De resto, sobram soluções ridículas, vilões sem interesse e até mesmo um subtexto homossexual muito mal desenvolvido entre o personagem de Ray Liotta e o de Kevin Dillon.

Limite Vertical, por outro lado, é bem interessante, ainda que abuse das soluções dramáticas rasas, principalmente com as mudanças de atitude drásticas e previsíveis de Scott Glen. O personagem de Bill Paxton é de longe o mais interessante, mas a lição de moral que o filme tenta passar às custas dele quase joga por terra a boa aventura que acompanhamos. Formalmente, trata-se de um portfólio de imagens aéreas e gruas onipresentes, mas não dá pra negar que haja certo encanto no desafio à natureza que o filme propõe e no branco que invade o filme. Esse desafio, no entanto, só é possível graças à teimosia sem limites do personagem de Paxton, e de sua falta de escrúpulos. Porém, Paxton tampouco é um vilão. Quando muito ele é um elemento desestabilizador. Mas no final, percebemos que o fator complicador da história toda é menos a natureza indomável e mais a nitroglicerina, traiçoeira e cheia de manhas.

quarta-feira, 6 de dezembro de 2006



Menina dos Olhos (2004), de Kevin Smith, não é ruim como falaram na época. Em alguns momentos, ele é bem simpático, principalmente quando é centrado nos diálogos mais mornos, que não servem muito para que a trama avance. Nesses momentos, a inteligência de Smith prevalece. Destaco o incrível diálogo com Will Smith, pivô - sem saber - dos maiores infortúnios profissionais do personagem de Ben Afleck. Pena que o diálogo termine com a mudança de postura do protagonista, ainda que seja perceptível a sua falta de convicção em um possível retorno à vida de executivo do show business. Uma cena apaziguadora durante a apresentação perto do final faz arrepiar, pelo sorriso da pequena atriz que faz a filha de Ben Afleck. Um filme a que se assiste sem esforço.

terça-feira, 5 de dezembro de 2006














Mais sobre Cassino Royale quando o filme estrear. Por enquanto, adianto que Daniel Craig tem tudo para ser o melhor ator a viver o personagem. Para mim, o posto já é dele. O filme é dos melhores da série, pau a pau com A Serviço de Sua Majestade, Goldfinger e A Chantagem Atômica. Cassino Royale foi dirigido por Martin Campbell, que já havia dirigido Goldeneye, um dos bons episódios com Pierce Brosnan no papel. Como Campbell fez também o charmoso A Máscara do Zorro, pode-se dizer que é um dos mais interessantes diretores a dirigir filmes da série.

sábado, 2 de dezembro de 2006

A regra aqui é falar de cinema. Mas como toda regra existe para ser quebrada, me senti na obrigação de postar aqui algo que já postei no menos frequentado melomania:

Não há nada, nada remotamente próximo do que os Novos Baianos atingiram em seus discos. Escuto agora Novos Baianos FC (1973), antes escutei o igualmente mágico Linguagem do Alunte (nome oficial: Novos Baianos, disco de 1974). Mas poderia ter escutado Acabou Chorare (1972), Ferro na Boneca (1970), Vamos pro Mundo (1975) ou Caia na Estrada e Perigas Ver (1976). Minha reação é sempre a mesma. Nenhum artista popular atingiu o absurdo do genial como esses malucos fizeram. É antídoto para qualquer tipo de infelicidade.

Obs: a foto que ilustra o post é da capa original do LP Acabou Chorare.