quarta-feira, 29 de setembro de 2004

Muitas coisas boas em O Terminal, mas é o pior dos últimos filmes de Spielberg. Cai muito no terço final, com um gosto exagerado pelo açucarado, e uma insistência em terminar e fechar o ciclo dos personagens. Um bom exemplo disso é o final, que deveria ser com Hanks assistindo ao show do jazzista. Mas o diretor acredita na necessidade de fazer com que o personagem alcance seu objetivo. Entre uma e duas estrelas.

Mudando de assunto, hoje é dia de Blow Up, de Antonioni, no Cinesesc. Passa dentro da mostra de filmes inspirados em Júlio Cortázar. Eu só vi em tela pequena, então se eu desaparecer, procurem nos hospitais.

Dentro dessa mostra, vi o filme de Manuel Antin, o interessante La Cifra Impar. O filme é bem devedor de Antonioni e Resnais, mas segura seu interesse principalmente pela habilidade de Antin de construir uma atmosfera onírica. Pelo jeito ele deve ter visto O Ano Passado em Marienbad umas oitenta vezes. A confusão proposital entre o que se passa em Buenos Aires ou Paris também depõe a favor do filme. Especialmente em paralelo à relação entre o passado e o presente que o diretor não se esforça nem um pouco em tornar didática, ainda bem. Segundo um amigo que conhecia muito bem as duas cidades nessa época (1961-62), era muito fácil pensar que estava em uma quando se estava na outra.

quinta-feira, 23 de setembro de 2004

Negócio é o seguinte: Kill Bill vol 2 é infinitamente inferior ao primeiro, apesar de ser um belo filme. O negócio de dizer que os dois são o mesmo filme é um delírio mastodôntico. Não importa o que o diretor diz. É só ver com o mínimo da atenção. O tratamento é totalmente diferente, não tendo o nº2 a estrutura musical / sinfônica do primeiro. A preocupação com o espaço cênico persiste, mas é bem menos rigorosa. E a concepção dos confrontos chega a ser oposta. Se existe frieza em algum dos filmes é neste. E isso é uma provocação bem direta ao novo ermitão. Kill Bill vol 2 é o terceiro melhor filme de Tarantino.

terça-feira, 21 de setembro de 2004

Nashville (1975) Robert Altman *
Quem gosta do diretor deve adorar esse filme que tem todos os problemas que os detratores dele geralmente encontram espalhados pelo filme. Portanto, ao identificar os problemas (ausência de entrega; planificação dos personagens de uma maneira canhestra, apenas para provar a genialidade do autor; ausência de foco narrativo - artifício muito difícil de funcionar, mas que quando funciona vai muito bem), é incrível como o filme ainda se segura (mal e porcamente apoiado em dois ou três planos geniais) e escapa da bola preta. Há um plano que basta para isso: quando o country star começa uma canção de amor e pelo olhar dele, as outras pretendentes percebem que a canção se dirige a uma outra, que está isolada no fundo do salão. Um momento digno de quem sabe filmar, mas só atinge o status de artista nas raras vezes que abandona suas pretensões de deflagrador das mazelas desses seres tão inferiores, os humanos.

Diário de uma Paixão (2003) - Nick Cassavettes * * *
O que surpreende não é que o filho do grande Cassavettes seja um bom diretor, o que surpreende é a capacidade de tornar um filme algo digno de se desprezar a partir de um trailer que acentua os seus problemas. Pois o que o filme do filho tem de pior (a música over e piegas e uma tendência a fazer imagens de cartão postal), e que é tornado trunfo pelo trailer, é diminuído durante a projeção porque está bem inserido na trama. A música não é onipresente como parecia e as imagens de cartão postal têm justificativa, justamente por mostrar o lado campestre da relação, uma possível moldura para um relacionamento feliz e de acordo com a personalidade dos amantes. Um belo melodrama, legitimo afilhado de John Stahl e Douglas Sirk.

quinta-feira, 16 de setembro de 2004

Mais comentários rápidos sobre filmes vistos:

Colateral é mais uma prova da habilidade de Michael Mann. Se não é tão bom quanto Fogo Contra Fogo (ainda seu melhor filme), também não tem tantos problemas quanto O Informante. O único problema é que o filme segue em banho maria, apesar de muito bem filmado, até a seqüência do tiroteio na casa noturna, a dois terços do final do filme. Daí em diante o filme melhora, tendo inclusive uma outra grande seqüência (que poderia durar mais), de perseguição em um prédio comercial sem iluminação.

Redentor é, como disse o Inácio Araújo, o filme mais interessante da Conspiração. Ainda que Claudio Torres seja meio tateante entre o rebuscamento mau feito e a segurança de explorar os atores (Pedro Cardoso, por exemplo, está irrepreensível - é sua melhor atuação). Alternar plongée com contra-plongée é um artifício que só os grandes sabem fazer. E Torres fez muito mal. Mas o filme se segura bem, especialmente depois que fica despirocado.

Sobre Primavera, Verão, Outono, Inverno e... Primavera não tenho algo a dizer, a não ser que é um dos maiores convites ao sono que testemunhei neste ano. Kim Ki-Duk sempre me pareceu um embuste, mesmo com aquela enganação chamada A Ilha.

O melhor filme de Richard Linklater é, sem dúvida, Before Sunset. Aqui, ao contrário dos demais filmes do diretor, é justo falar em Rohmer, pois como ele, Linklater capta muito bem as intenções dos personagens, o momento em que eles hesitam em seguir seus impulsos. A entrega existe, e era o que faltava a Before Sunrise, que é um bom filme, mas se perde numa busca por um estilo que sufoca o que não está na superfície dos personagens. E o final é de antologia.

sábado, 11 de setembro de 2004

Edital do Minc + mudança de endereço (pra um lugar mais perto da loja, finalmente) me deixaram bastante atolado, com diversas pendências. Nem tenho visto filmes, pelo menos em casa. Vi dois Monteiros que não conhecia, na saleta de video do CCBB (com platéia ruidosa e burra): Fragmentos de um Filme Esmola, verdadeira obra-prima equivocada, irregular à beça, mas maravilhoso na maior parte. E Que Farei eu com Esta Espada?, meio panfletário e tolo, mas com grandes momentos, como é de praxe no diretor. Ainda assim é seu filme mais frágil.
Vi A Vila, e não achei tudo isso, embora o texto do Junior, que começa esquisito, mas termina muito bom, me tenha feito reavaliar positivamente. Talvez seja o melhor filme dele. E é melhor que Sinais fácil fácil.
Pra terminar, mais um blog adicionado: www.melodiadoolhar.blogger.com.br, do assíduo Zé do Cinema. Vale a pena acompanhar.

quarta-feira, 1 de setembro de 2004

Agosto em filmes (em itálico as revisões):

Sabu - Takashi Miike (DVD) *
Hellboy - Guillermo Del Toro (Bristol 5) * * *
Starsky & Hutch - Todd Phillips (Bristol 7) * *
The Royal Tenembauns - Wes Anderson (DVD) * * *
Fahrenheit 9/11 - Michael Moore (Bristol 1) *
Ringu - Hideo Nakata (DVD) * *
Incubus - Leslie Stevens (Cinesesc DVD) * * *
Audition - Takashi Miike (Cinesesc DVD) * * * *
Mulheres Perfeitas - Frank Oz (Bristol 4) *
Vive L'Amour - Tsai Ming-Liang (Cinesesc) * * * *
Minha Mãe Gosta de Mulheres - (Cinesesc) *
O Rio - Tsai Ming-Liang (Cinesesc) * * *
Deus Vomita os Mornos - Robert Guédiguian (CCBB) * *
O Buraco - Tsai Ming-Liang (Cinesesc) * * * *
Hellboy - Guillermo Del Toro (Bristol 5) * * *
Below - David Twohy (DVD) * *
Perfect Strangers - Larry Cohen (DVD) * * *
Efeito Borboleta - Eric Bress/J.Mackye Gruber (DVD) *
Sul Vermelho - Robert Guediguian (CCBB) 0
Legally Blonde - Robert Luketic (DVD) *
Legally Blonde 2: Red, White and Blonde - Charles Herman-Wurmfeld (DVD) *
Ligado em Você - Peter & Bobby Farrely (DVD) * * *
À Beira da Loucura - John Carpenter (DVD) * * * *
Rastros de Ódio - John Ford (DVD) * * * * * * * * * * * * * * * * * * * *
Pecados de Guerra - Brian De Palma (DVD) * *
Out of the Past - Jacques Tourneur (DVD) * * * *
Amores Expressos - Wong Kar-Wai (CCBB) * * *
One False Move - Carl Franklin (DVD) * * * *
In Hell - Ringo Lam (DVD) * *
Meu Nome é Coogan - Don Siegel (DVD) * * *
Copacabana Mon Amour - Sganzerla (Cinesesc) * *
Testemunha de Acusação - Billy Wilder (VHS) * * * *
Young Mr. Lincoln - Jonh Ford (VHS) * * * *
Donnie Darko - Richard Kelly (DVD) * *
Eu, Robô - Alex Proyas (Bristol 3) * *
Olga - Jayme Monjardim (Bristol 1) 0
Freaky Friday - Mark Waters (DVD) * *
Passion - Jean-Luc Godard (Top Cine 2) * * * *
La Marquise D'O - Eric Rohmer (Top Cine 2) * * * *
O Agente da Estação - Thomas McCarthy (DVD) * *
Grande Menina, Pequena Mulher - Boaz Yakin (DVD) *
Garotas do ABC - Carlos Reichenbach (Esp. Unibanco 1) * * *
A Inglesa e o Duque - Eric Rohmer (DVD) * * *