segunda-feira, 31 de maio de 2004

A Flor do Mal (2003) - Claude Chabrol * * *
Impressionante o que Chabrol faz com seus personagens, deixando-os indecifráveis, não permitindo que o espectador saiba quem foi vitimizado na história. É um filme sobre a ausência espiritual, acima de tudo, sobre como uma pessoa deixa de ser representativa na sociedade (estamos na alta sociedade aqui). A celebração final, como se nada tivesse acontecido, contextualiza brilhantemente o que Chabrol, com fina ironia, quis passar. Filme de detalhes, para ser revisto constantemente.

Buffalo '66 (1998) - Vincent Gallo * * *
Há um enorme ressentimento com os pais no filme, mas Gallo se recusa a associá-lo a um possível desfecho trágico do personagem. O filme é repleto de energia e celebração da vida, apesar do desespero que ronda o protagonista e parece estar bem escondido em Cristina Ricci, mas prestes a aflorar. De resto, uma bela cena de sapateado de Ricci, totalmente gratuita, ao som de King Crimson merece entrar para qualquer antologia. Gallo é bom ator, sempre próximo à caricatura, e um tanto monocórdico, mas é isso que dá força ao personagem. É a decupagem, no entanto, o principal diferencial do filme de Gallo com os outros independentes norte-americanos. O domínio do tempo é seu maior trunfo, graças a cortes rápidos na hora certa, a uma câmera lenta num determinado momento que a princípio parece equivocada, mas depois se revela adequada. Os enquadramentos de grande força dramática não devem ser menosprezados, ou colocados na vara comum do simples estilo. Moonchild, sweetness.

Underworld (2002) - Len Wiseman * *
Uma agradável brincadeira com gêneros. Uma guerra entre lobisomens e vampiros é algo sonhado por muitos de nós desde a infância e que Wiseman realiza com certa desenvoltura. Kate Beckinsale está muito mais bela que em Van Helsing (filme que se leva um tanto a sério pra quem se proclama irreverente) e as cenas de ação são melhor pensadas visualmente. As explicações são desnecessárias, mas quando vêm não incomodam.

Mudança de template. Agradeço as manifestações e deixo claro que sugestões serão levadas em conta. Cada vez mais azul.

quinta-feira, 27 de maio de 2004

Marcelo V. chamou a atenção para as letras acentuadas deste blog, que no computador dele aparecem como símbolos. Queria saber se mais alguém tem problemas quando acessa o blog, se é simples caso de incompatibilidade, ou o template que eu escolhi é que é problemático. Qualquer coisa, mudo o template numa boa. Só não queria perder os posts antigos.

Winchester 73 e The Man from Laramie são belos exemplos do cinema de Anthony Mann. A narrativa clássica, o tratamento dos personagens e os discretos movimentos da câmera revelam muito mais do que o que aparece num primeiro momento. Os dois filmes têm a força pós-visão. Crescem quanto mais pensamos neles. Coisa de mestre.

Roger e Eu (1989) - Michael Moore *
No caso de "Tiros em Columbine", acho que quem malhou o filme estava dando uma de Michael Moore, ou seja, generalizando a partir dos vários problemas que o filme tinha, ética e politicamente. E não percebendo as evidentes qualidades do filme, mesmo que facilmente relativizadas. "Roger e Eu" é mais complicado. Pois a ética e a política de Moore já eram ineficazes, mas sua capacidade de conseguir auto-promoção com a humilhação de pessoas comuns estava ainda mais forte. Assim, a porção Charlton Heston de "Columbine" aparece com bastante freqüência. Resta apenas a imensa sinceridade do diretor em sua revolta com o estado das coisas (e não estou falando de Wim Wenders).

Viva Voz é um dos maiores lixos que já vi em cinema, e fiquei muito deprimido ouvindo o riso da platéia que lotou a sala 7 do Bristol. Perdi a conta de quantas vezes ouvi pessoas conversando ao celular, o que se fosse em um filme mediano eu já ficaria com muita raiva. Nesse lixo apenas me deu a sensação de que o cinema nacional continua produzindo bombas como essa porque sempre tem boçais que as prestigiam. Boçais que nem imaginam que atender ao celular no meio de um filme pode incomodar muita gente. Daria um bom material reflexivo a investigação do porquê se rir com tantas gags mal realizadas visualmente.

quarta-feira, 19 de maio de 2004

E por que não um Top 10 Ferrara (com os dez que eu vi):

1) Rei de Nova York
2) Vício Frenético
3) Gangues do gueto
4) New Rose Hotel
5) Os Chefões
6) Os Invasores de corpos
7) China Girl (daqui pra frente, vejo problemas)
8) Blackout
9) Perseguição Voraz
10) Olhos de Serpente (esse eu preciso rever, reconheço)

Isabel Coixet sabota o próprio filme
Mark Ruffalo e Sarah Polley estão escutando a bela canção de Gino Paoli, num clima romântico, com Ruffalo inseguro pra cacete, quando Sarah apedreja o filme (coisa da direção, claro, não da atriz)com um "se você não me beijar agora, eu grito". Em seguida, com a indecisão de Ruffalo, ela grita, e piora ainda mais o que poderia ser uma linda seqüência. Apesar de algumas outras sabotadas, o filme ainda se aguenta razoavelmente, mas poderia ser bem melhor.

É minha vez de dar o braço a torcer: O Rei de Nova York é obra-prima. Não sei o que tinha na cabeça quando vi da primeira vez, pois achei só bacaninha, nada demais. Scorseseano pacas, bem mais que Os Chefões, tem em Christopher Walken o intérprete perfeito. Seu rosto, pensativo, planejante, no carro após sair da prisão, com o tema ecoando tragicamente ao fundo, já nos convida para sua apoteose. Ele olhando a cidade da janela de seu quarto, com os prédios refletidos, imagem para não esquecer.

segunda-feira, 17 de maio de 2004

Correio do Inferno (1951) Henry Hathaway * * *
Uma lição de rítmo e estilo, do grande artesão Hathaway. Personagens esquemáticos, mas perfeitamente de acordo com os cânones do gênero. Perfeito domínio de enquadramento e duração de cenas, o melhor filme dele, dos que vi. Tyrone Power não convenceria se tivesse que ser durão e faz muito sentido que seja Susan Hayward que salve a barra deles. Há uma seqüência muito boa com o bebê (a filha de Hayward no filme) saindo pelo buraco que eles tinham feito para a fuga. Ela, na mira da arma de Tevis, o bandido ogro, é de ficar com o coração na boca. Uma maravilha de atriz, por sinal, de fazer lembrar Ponette. Existe uma tensão entre Hayward e Power que é muito bem sacada. Ele, meio indefinido sexualmente, ela, forte e despojada. Dessa tensão o diretor extrai belos momentos de cinema. A câmera sempre colocada numa posição que confronta os dois, e ao mesmo tempo aproximando-os. Está passando no Telecine classic e é altamente recomendado

sexta-feira, 14 de maio de 2004

Algumas considerações preguiçosas que não valem um post individual:

- 50 First Dates surpreende. Vi numa boa sala do Central Plaza. Texto meu na contracampo.
- Diários de Motocicleta é pior do que eu pensava. Texto muito bom do Ruy. só há um ser humano no filme: Alberto Granado. Os outros são: Che, o Messias, e as outras pessoas que só estão ali pra provar que ele é o Messias. E isso não anula o que o Ruy escreveu, sobre as diferenças de postura de filme e personagem. Há uma cena medonha, a dos elogios de Granado ao livro do mestre, em contraponto à "verdade" dita por Ernesto, de que o livro era mal escrito.
- Eu não li o livro inteiro, mas alguém sabe me dizer se o final do Benjamin do Chico é tão medonho como o da Gardenberg? Chico Buarque, o maior artista popular de todos os tempos, teria dado uma bela bola-fora se for o caso.
- Help é um compêndio irregular e muito talentoso de idéias visuais. É melhor que A Hard Day's Night porque tem mais idéias que funcionam, mas é pior porque está preso demais a uma trama meio frouxa, ainda que sirva como trampolim para as gags.
- Nos extras quase inacessíveis de Help, o grande achado. O primeiro curta de Lester, O Filme do Correr, Pular e Ficar Parado, com imagem sofrível. Muito bom de rever, apesar disso.
- Vi Waking the Dead. Renato que me perdoe, mas não achei isso tudo. É bom, mas um tanto incompleto. Mereço punição, no entanto, por não ter tido tempo de revê-lo, já que vi numa madrugada, um dia antes de devolver o DVD. Bom...prometo tentar de novo.
- La Vallée (Obscured by Clouds) vale mais pela trilha do Pink Floyd, mas aí é melhor ficar com o CD. O filme é hippongo e arrastado. Um Herzog encantado pelo amor livre. Não chega a entrar em sequer uma das várias portas que tenta abrir.

terça-feira, 11 de maio de 2004

Osama tem um mérito razoável. Tocar na ferida do Taliban num filme feito para o ocidente. Seria pouco, mas o diretor Barmak tem boa mão. Sua mise-en-scene dá tempo aos personagens, fazendo com que o espectador sinta seus dramas. Assim o choque de Barmak nos atinge, assim como sua indignação com a situação do Afeganistão e da mulher afegã.
O Prisioneiro da Grade de Ferro é realmente impressionante. Tudo já foi dito sobre o filme, até o óbvio de que entrará para a história fílmica do país como um grande clássico humanista e de maneira alguma simplista ou manipulador. .

The Knack...and How to Get it (1965)Richard Lester * * *
Uma delícia de comédia. É possivelmente o melhor longa de Lester, com tudo funcionando à perfeição, desde o rítmo muito acelerado (coisa que Guy Ritchie daria um braço para conseguir realizar com sucesso), até a direção de atores, todos muito bons e carismáticos. Fica fácil simpatizar até com o conquistador, que tem um tratamento mais duro. Existem muitas idéias no filme, e é incrível como o diretor consegue executá-las. O nonsense da vida dos personagens é acompanhado pelo nonsense da forma, num feliz casamento.

segunda-feira, 10 de maio de 2004

O Pântano (2001) - Lucrecia Martel * * * *
Antes da revisão, impressiona a sensibilidade da diretora para retratar crianças e adolescentes fugindo da vala comum. Luciano, o menino, fantasia que o cachorro do vizinho é, na verdade, uma enorme ratazana africana. Ela nunca filma o cachorro, deixando sua imagem apenas na imaginação. As meninas cantando na frente de um ventilador, com suas vozes chegando antes, em off, antes do movimento que revela onde elas estão. Só por essa cena o filme já merece ser visto por todos que prezam o cinema como forma de poesia. Aliás, ainda não vi o novo do Waltinho, nem tenho por seus filmes a mesma indiferença que meus amigos da Contracampo, mas o que diferencia Salles de Martel é que Salles, como cinéfilo, sabe em que momento seus filmes atingirão a poesia e constrói planos buscando esse efeito. Martel faz poesia pela simples sensibilidade de seu trato com os personagens, por sua entrega, e recusa em cair em maniqueísmos fáceis. Quem é preconceituoso não é necessariamente ruim. Seus humanos sofrem, maltratam, amam, odeiam, se calam, são relapsos, mas são demasiadamente humanos. Vistos por alguém que lhes tem compaixão, não julga, não absolve, apenas procura entendê-los.

Strait Jacket (1963) - William Castle * * *
Castle dirigindo terror classe B é muito bom. Eu havia assistido a Mansão dos Fantasmas e Mr. Sardonicus (A Máscara do Horror). Esse último é muito bom, um dos primeiros filmes a me deixar sem conseguir dormir. Strait Jacket conta com Joan Crawford, capitalizada pelo sucesso de Baby Jane, segundo depoimentos dos extras. O filme consegue o clima certo, deixando-nos sem saber o grau de perturbação da protagonista. Nos extras, o trailer mostra o próprio Castle convidando os expectadores para as sessões interativas de Mr. Sardonicus. Cada um recebia na bilheteria um cartaz com um dedão que podia ser um sinal de positivo ou de negativo, dependendo de como se virava o troço. Em determinado momento, o público é que decidia se Sardonicus deveria ou não ser punido. Eu vi na TV, a versão com a punição, que deve ter sido bem mais votada na época.

sexta-feira, 7 de maio de 2004

Satansbraten é um Fassbinder meio fora de tom, cheio de um humor eufórico que alemão, ao contrário de italiano, não sabe fazer muito bem. Tem seus momentos, mas no todo é irregular demais. Volker Spengler tem seu melhor papel em filmes de Fassbinder. As mulheres, entretanto, estão como párias num filme sem espaço para elas. Mulheres de Fassbinder é o tema do excelente documentário que acompanha O Comerciante das Quatro Estações na bela edição do DVD americano. Bom, excelente é o que parece, já que só vi alguns trechos. Mas gravei para conferida posterior. O filme? Sim...na revisão melhora muito. Um dos mais tocantes filmes sobre a desilusão. Com um final de deixar arrepiado. Não sei como não havia gostado tanto quando vi no CCSP (bem...talvez isso explique).

quarta-feira, 5 de maio de 2004

Caos profissional que deve ser remediado no início da semana que vem. Peço desculpas por qualquer possível atitude casca grossa em posts ou comments em blogs de amigos. Fruto de pressa, nunca de desrespeito. Caos profissional vimos eu e Guilherme ontem na poltrona dura do CCSP (bom, chamar aquilo de poltrona é exagero). Cuidado com a Puta Sagrada, de Fassbinder. Em sua biografia, mal escrita, mas muito interessante, conta que o filme retrata as filmagens de Whity, na Espanha, três meses antes. Toda a trupe do antiteatro é retratada em tons nada generosos. Seria o canto de cisne da companhia de Fassbinder, assim como de seu romance com Gunther Kauffman (ator de quase todos os seus filmes anteriores). Gunther até recebe um tratamento simpático, talvez seja o único. Nem o diretor, primadona com ataques histéricos e desrespeitosos é poupado. É o pai de O Estado das Coisas, do Wenders. Só que onde Wenders filma o desencanto, Fassbinder filma um acerto de contas necessário. Um acerto de contas filmado divinamente, com várias das marcas registradas do diretor (travelling circulares, olhares analisantes dos personagens, dança sensual de Hanna Schygula...).

terça-feira, 4 de maio de 2004

Filmes vistos em abril. Em negrito, as revisões. Pra reparar como são injustas essas estrelinhas. Annie Hall (* * *) está muito mais próximo de Duplex (* *) do que de Jackie Brown (* * *). Culpa do meu mecanismo rígido de conversão. Humpf.

Jaguar - Jean Rouch, 1954 * * *
A Paixão de Cristo - Mel Gibson, 2004 *
Vestida para Matar - Brian de Palma, 1980 * * *
A Pirâmide Humana - Jean Rouch, 1961 * * * *
Um Tiro no Escuro - Blake Edwards, 1964 * * *
Hulk - Ang Lee, 2003 * * *
A Luz é para Todos - Elia Kazan, 1947 * *
Duplex - Danny DeVito, 2003 * *
A Guerra dos Roses - Danny DeVito, 1989 * * *
A Morte Passou Perto - Stanley Kubrick, 1955 * * *
Kill Bill Vol.1 - Quentin Tarantino * * * *
Monty Python - O Sentido da Vida - Terry Jones *
Elefante - Gus VanSant * * * *
Onde Anda Você - Sérgio Rezende 0
Os Intocáveis - Brian DePalma * * *
Sobre Meninos e Lobos - Clint Eastwood * * * *
Vampyres - Joseph Larraz * * *
A Janela Secreta - David Koepp *
Golpe Fulminante - Tsui Hark *
Psicose - Gus VanSant * *
Roma, Cidade Aberta - Roberto Rosselini * * *
Os Normais - José Alvarenga Jr. 0
As Bicicletas de Belleville - Sylvain Chomet *
O Quarto Homem - Paul Verhoeven * * * *
Conto de Outono - Eric RohMer * * * *
Annie Hall - Woody Allen * * *
Fim de Caso - Neil Jordan * * *
Kill Bill Vol.1 - Quentin Tarantino * * * *
Eu, Eu Mesmo e Irene - Peter & Bobby Farrelly * *
Faceless - Jesus Franco 0
Em Carne Viva - Jane Campion *
Journal d'un Curé de Campagne - Robert Bresson * * * *
Christine - John Carpenter * *
The Weight of Water - Kathryn Bigelow * *
Anti-herói Americano - Shari Springer Berman/Robert Pulcini * *
Jackie Brown - Quentin Tarantino * * *
Tudo é Brasil - Rogério Sganzerla * *