quarta-feira, 30 de abril de 2008

Lembrei que não disse nada sobre a Virada Cultural.

Só vi shows (o que é uma pena, pois eu realmente queria ver a Virada das Vampiras).

Começando às 18h com O Terço, banda de um grande disco - Criaturas da Noite (1975) e alguns discos superestimados, dos quais o melhor é Casa Encantada (1976). A banda fez um show meio bizarro, com Sérgio Hinds de braço quebrado sendo substituido por Cláudio Venturini, líder do 14 Bis e irmão de Flávio, que era tecladista das duas bandas. Começou muito bem, com a suite progressiva "1974" (de Criaturas da Noite), e terminou com "Hey Amigo", faixa de abertura do mesmo disco. No miolo, uma ou outra boa canção e um punhado de pieguice, agravada pela péssima qualidade de som.

Em seguida, Terreno Baldio, banda que imitava descaradamente o Gentle Giant. Ao vivo se desfarça um pouco a derivação, e a banda tem o trunfo de contar com um grande guitarrista: Mozart Mello. Pena que não tocaram nada de Além das Lendas Brasileiras, segundo e melhor disco, que se afasta um pouco do progressivo para bandear para uma MPB mineira e graciosa, ainda que com muitas passagens prog. O som continuava muito mal mixado. O espaço aberto da Praça da República atrapalhou o potencial desses dois primeiros shows, e eu troquei de bom grado a versão mula sem cabeça da Casa das Máquinas por um delicioso pastel no Mercado Municipal.

Depois da comilança, hora de encarar as filas do Teatro Municipal e seu programa de reviver clássicos do vinil. Primeiro foi Sá, Rodrix e Guarabira, fazendo um show meio pálido a partir de seu primeiro e excelente LP. De destaque, só "Juruti Butterfly". De ponto negativo, a presença de "Espanhola" no bis. E como ficamos quase lambendo o teto do teatro, não dá para saber se o som horrível que ouvíamos era culpa da acústica do quinto andar ou da mesa de som. Mas suspeito que tenha sido uma falha técnica, já que outros shows vistos do mesmo lugar não sofreram desse problema.

Revivendo seu clássico Snegs, de 1974, entra no palco o Som Nosso de Cada Dia, com muito gás e sonzeira da brava. Manito, o tecladista, está cada vez mais parecido com David Jackson (VdGG), principalmente quando se mete a tocar saxofone. Foi o primeiro som bem equalizado da noite. Maravilha. Destaque para "Snegs", "Bicho do Mato" (tocada também no bis) e "En Dirección de Acquarius".

Encerrando a madrugada, às 6 da matina entram os irmãos Gomes, Didi, Jorginho e o mago Pepeu, um dos maiores guitarristas do mundo, senão o maior. O show foi um arraso. O álbum Geração de Som (1978) ficou ainda melhor, e eu achava que isso seria impossível de acontecer. Pepeu Gomes para presidente.

Robert Luketic fez Legalmente Loira. Por isso esperava que Quebrando a Banca fosse uma bobagem divertida igual. Infelizmente o máximo de bom que eu consigo dizer do filme é que nos primeiros 15 minutos a direção de atores é boa. Algo deve ter acontecido, porque no restante a atuação geral fica medíocre, com Jim Sturgess - que estava bem no começo, especialmente na cena em que Kate Bosworth entra na loja em que ele trabalha - fazendo muito mal a passagem do bobão nerd para o crânio malandrão. Kevin Spacey é outro que piora. A primeira aula filmada é muito boa. Na segunda ele já está canastrão como tem se acostumado nos últimos filmes. O que acontece? O diretor gosta de filmar na ordem e mudou boa parte da equipe no meio, causando desconforto? Luketic ficou doente e dirigiu no piloto automático? O roteiro prevê uma mudança nos personagens que os atores não estavam preparados para realizar? Bingo. Por sinal, abaixo os malditos truques de roteiro.

domingo, 27 de abril de 2008

A foto acima é do único grande episódio de Sobre Cafés e Cigarros, reunião de curtas realizados durante 17 anos por Jim Jarmusch. Nele, Alfred Molina e Steve Coogan representam eles mesmos em um encontro marcado por soberba, ambição, farsa e desconfiança, e arrasam. O momento em que uma jovem pede autógrafo a Coogan sob o olhar resignado de Molina é fantástico. Eu achei que o celular ia tocar, e temia por um desfecho óbvio que não veio. O toque do celular mostra um lapso de concentração, e também uma boa virada na relação dos dois.

Os outros curtas variam do bom (Bill Murray, Steve Buscemi, Roberto Benigni) ao tedioso (Iggy Pop e Tom Waits - que cuirosamente eu já tinha visto duas vezes), com vários razoáveis, principalmente os do meio.

Interessante notar que como os curtas giram sempre em torno de conversas em cafés e quetais, o mais importante é o desempenho do ator. Isso faz com que Steve Buscemi conte uma manjada lenda sobre Elvis Presley e seja ainda engraçado. Ou que a presença de Bill Murray seja permeada pelo absurdo reforçado por sua representação. Também faz com que Iggy Pop seja ridículo enquanto Tom Waits é o máximo do cool, mas não consegue salvar um diálogo bobo feito para brincar com a carreira deles.

Minhas cotações para os filmes de Jim Jarmusch:

Estranhos no Paraíso (Stranger Than Paradise, 1984) * * * *
Daunbailó (Dawn by Law, 1986) * * *
Trem Mistério (Mistery Train, 1989) * *
Noite Sobre a Terra (Night on Earth, 1990) * * *
Dead Man (1995) * * * *
Year of the Horse (1997) * * *
Ghost Dog: The Way of the Samurai (1999) * * * *
Int.Trailer.Night (ep. de Ten Minutes Older: Trumpet, 2002) * * *
Sobre Cafés e Cigarros (Coffee and Cigarettes, 2003) * *
Flores Partidas (Broken Flowers, 2005) *

---Meu preferido é Ghost Dog. Desnecessário apontar o que eu menos gosto.

Eu tava achando estranho que Encurralados, de Mike Barker, dava tudo a entender que seria uma crítica ao universo publicitário e tudo que o cerca enquanto suas imagens repisavam os piores clichês do cinema de perfumaria, interessado em vender - estilo, autoria, modernidade, o que for - e, portanto, publicitário. Interessante essa emulação meio atrapalhada do estilo de Wong Kar-wai, o diretor que conseguiu traduzir para o cinema com charme essa linguagem fru-fru de cenas desfocadas e viradinhas elegantes de câmera, típicas de videoclipes e de anúncios de carros (como mostrar o painel ultra-moderno se o volante e o parabrisa estão em foco?). Depois que se revela uma outra coisa, o filme cai no ridículo. Gerard Butler deveria interpretar apenas brutamontes de Esparta daqui pra frente. Maria Bello e Pierce Brosnan são muito bons, mas em alguns momentos parecem meio constrangidos (bem, Brosnan não está nem aí, é verdade).

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Sem mais delongas, Joaquim Pedro de Andrade:

Couro de Gato (ep. de 5 x Favela, 1960) * * * * *
Garrincha Alegria do Povo (1962) * * * *
O Padre e a Moça (1965) * * * * *
Brasília, Contradições de uma Cidade Nova (1967) * * * *
Macunaíma (1969) * * *
Os Inconfidentes (1972) * * * *
Guerra Conjugal (1975) * * * *
Vereda Tropical (ep. de Contos Eróticos, 1977) * * * *
O Homem do Pau-brasil (1982) *

obs: para os anos dos filmes, segui as minhas anotações pessoais (geralmente baseadas nos jornais, quando os filmes foram exibidos no cinema). A Enciclopédia do Cinema Brasileiro, de Fernão Ramos e Luiz Felipe Miranda, apontam anos diferentes para alguns filmes (geralmente os anos de produção, não de lançamento).

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Não sei se Os Reis da Rua é mesmo um bom filme. Sei que eu gostei de ver. Keanu Reeves está uma pedra como sempre, mas é uma pedra que acredita estar fazendo a coisa mais nobre do mundo. Um troglodita esperto que só pipoca no confronto final - claro, existe a máxima de que o confronto final deva ser o mais elaborado e parelho de todos. Claro também que é um dos momentos em que o filme parece se submeter ao um dos mais graves problemas do cinema de ação atual - a ignorância de um passado que o próprio filme se encarregou de construir para o personagem. São dois os personagens que sofrem com isso, e a cena da mensagem no celular, próxima ao final, é grotesca. Hugh Laurie (House) aparece sempre para clarear as coisas para o herói, e para dizer sobre o que é o filme, que se revela bem mais pessimista e cáustico do que parecia querer ser. Basta dizer que é a lei do cão, pior que o velho oeste. Los Angeles é um inferno sem salvação, como bem ilustra aquele sol vermelhão no horizonte.

terça-feira, 22 de abril de 2008

Dois toques:

- quem ainda não viu Sem Fim, do Kieslowski, está perdendo um grande filme. Eu que não gosto muito do cara fiquei atordoado. É com o ator de Paixão (do Godard), o Jerzy Radziwilowicz, fazendo um advogado que está morto quando o filme começa. A apresentação dele não tem nada de didatismo desnecessário, e o tom da coisa toda é surpreendentemente lúcido. Até o final previsível é de tirar o chapeú. Depois dessa, volto a ter interesse no cinema do polonês, e até tento esquecer os azuis e vermelhos que ele andou fazendo (e que vou rever nos próximos dias), e os roteiros que deixou para herdeiros de araque.

- blog melomania atualizado com a fase medalhão do Rei Roberto Carlos. Essa fase vai de 1973 (data do primeiro disco em que ele aparece com o medalhão), até 1981 (passando pelos discos de 1979 e 1980, em que ele deixa o medalhão guardado). Uma fase muito ouvida aqui em casa desde o primeiro dia deste ano, e que rendeu pelo menos duas obras-primas: RC74 (Jogo de Damas, O Portão, A Estação...) e RC77 (Sinto Muito Minha Amiga, Cavalgada, Outra Vez...).

www.melomania.blogspot.com

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Nós Somos Marshall é um filme sobre a dificuldade de se superar o luto. Quem espera uma ode à importância de se competir vai se decepcionar. O filme é muito mais amargo e dolorido do que eu podia imaginar. A direção de McG começa em ritmo de As Panteras, com um acúmulo de cortes rápidos e angulações das mais variadas. Após o acidente que mata 75 membros da equipe da Universidade Marshall, a direção se torna mais clássica e litúrgica. Em certo momento o personagem de McConaughey diz que o funeral acabou. Mas não acabou. Todos os suspiros de empolgação e felicidade que vemos a partir daí são espasmos isolados no meio do enterro, como piadas ditas pelo tiozão bonachão que fazem rir os que já se cansaram de chorar.

As cenas de futebol americano são o grande senão que tenho com o filme. Quando querem captar o calor do gramado, são inferiores às de Um Domingo Qualquer (Oliver Stone). Quando tentam mostrar o que se passa ficam abaixo das que tinham nas duas versões de The Longest Yard (a de Aldrich e a de Segal). Ainda assim, é um bom filme, e mesmo sem rever o do Aldrich (diretor de quem gosto muito mais hoje do que há cerca de 15 anos, quando conheci a maioria de seus filmes) me arrisco a dizer que é melhor que todos os acima citados.

domingo, 20 de abril de 2008

Em 1983, Francis Ford Coppola lançava Jovens Sem Rumo (The Outsiders), revelando uma série de jovens atores que despontariam nos anos seguintes. Alguns sumiram tempos depois, outros, como Matt Dillon e Tom Cruise, construiram uma carreira bem sólida e eclética, a despeito do potencial limitado que mostravam naquele filme.

Em 1993, Richard Linklater repete o feito de Coppola e lança uma série de jovens artistas em uma espécie de American Graffitti que se passa nos anos 70: Jovens, Loucos e Rebeldes (Dazed and Confused). Um filmaço, sem dúvidas. É incrível como ele capta o clima de fim de aula, a vontade de descarregar a raiva nos calouros, a ânsia por uma longa noite de farras.

De todos os atores revelados - Matthew McConaughey, Parker Posey, Ben Affleck, Milla Jovovich, Adam Goldberg, Joey Lauren Adams - justamente o que faz o papel principal do filme não vingou no cinema, ficando restrito quase somente a séries e filmes para TV. Jason London faz Randy Pink Floyd, o jovem veterano que é amigo de todos, aparta brigas, aglutina pessoas de sensibilidades diferentes, um cara querido por todos. É um personagem encantador, assim como o calouro interpretado por Wiley Wiggins (outro que sumiu), que faz de tudo para se enturmar e se apaixonar rapidamente.

Linklater usa muito bem o rock que se ouvia na época - principalmente o que se curtia no sul dos EUA, já que a história se passa em Austin, Texas. Mas não conseguiu a música do Led Zeppelin que dá título ao filme. Uma outra faixa do grupo ele conseguiria, a duras penas, para o posterior Escola de Rock.

Para encerrar, cito Guilherme Martins, em texto para a Paisà 5 (capa Volver), que assino em baixo:

Jovens, Loucos & Rebeldes é um verdadeiro filme de amor. Amor à música, à uma cidade, aos personagens, e, principalmente, ao ato de sentir. Os jovens de Linklater são a essência do "estar aberto à emoção".

sábado, 19 de abril de 2008

Cronos (1993), de Guillermo Del Toro
* * *

O primeiro longa-metragem de Guillermo Del Toro traz várias marcas que veremos nos filmes seguintes. A relação profunda entre familiares é uma delas. O avô interpretado por Federico Luppi é dominado por uma engenhoca criada por um alquimista do século XVI e começa a rejuvenescer e precisar de sangue para irrigar a pele. Torna-se uma espécie de vampiro, sendo perseguido por um velho moribundo e seu sobrinho (Ron Pearlman, o Hellboy). É especialmente bonita a cena em que o avô sente desejo pelo sangue de sua neta, mas consegue conter esse desejo porque a ama incondicionalmente. Esse amor entre familiares, que pode também causar sentimentos doentios como o do sobrinho pelo tio adoentado, geralmente é muito forte em seus filmes. Basta lembrar do diabão de Hellboy, que machuca seu filho, mas não consegue matá-lo. Outra marca é o apuro formal, com uma técnica que parece clamar por orçamentos milionários. Del Toro é um dos pocuos que conseguem manter uma certa dignidade em seus filmes, mesmo quando eles passam essa impressão (o que é bem freqüente). Na filmografia do diretor, Cronos só perde para Hellboy, a incrível história de amores platônicos.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Post esquizofrênico

- Anthony Hopkins pirou com Marienbad e Muriel na juventude, ficou com aquilo na cabeça (que se tornou trauma quando viu Persona). Aí surgiu o Lynch, e ele resolveu que era hora de fazer o seu sem ser linchado. Um Sonho Dentro de Um Sonho tem uma proposta interessante, experimental e tal... mas é um saco. Nele não entramos na mente de uma pessoa, mas conhecemos as engrenagens de um andróide desregulado. Tem até seus acertos, mas é brincadeira de criança.

- Já viram CQC (Custe o que Custar)? O canal América (que passava na TVA Cabo) costumava exibir a versão argentina, hilária, chamada Caia Quem Caia (versão minha do título, porque eu tenho vergonha do meu espanhol). A fórmula não deve durar tanto no Brasil, pois aqui são poucos os que sabem ser criticados, mas enquanto durar 9e eu espero, sim, que dure o bastante), eu vou curtindo. Principalmente as intervenções (inexperientes ou não), do Danilo Gentile.

- Ainda estou pirado com O Portal do Inferno, do Kinugasa. Tem um outro filme dele chamado Uma Página Louca, que também me deixou assim por um bom tempo. Respondendo ao Marcelo V.: deve estar entre os melhores japoneses que eu vi. Mas eu não conseguiria fazer uma lista assim com menos de 50 títulos (com uns 10 só entre Mizoguchi e Ozu), então nem sei se é algo a se levar em consideração. Quando se trata de cinema japonês, geralmente perco o chão.

- Site da Paisà atualizado. Rolling Stones, Um Beijo Roubado, O Sol, Jogos do Poder, Não Estou Lá, Melhores do ano (finalmente)... ainda não entramos nos eixos, mas já dá para vislumbrar um caminho mais seguro.

http://www.revistapaisa.com.br/

terça-feira, 15 de abril de 2008



[O Portal do Inferno (Jigokumon, 1953), de Teinosuke Kinugasa]
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É que faltam as palavras

segunda-feira, 14 de abril de 2008

A Sangue Frio (The Ice Harvest, 2005), de Harold Ramis
* * *

Daqueles filmes em que ninguém presta, A Sangue Frio tem um ritmo bem interessante e esquisito, sustentado pelo carisma de boboca de John Cusack (o eterno Rory Galagher). Ele e Billy Bob Thornton (ótimo como quase sempre) elaboram um roubo que os deixará milionários. Mas como ninguém presta, toda cumplicidade é apenas temporária. Ramis acerta no humor negro e no clima de insegurança permanente, com Connie Nielsen tendo quase todas as melhores seqüências do filme. Sua última cena, em especial, num dueto com Cusack, é muito bem filmada. Oliver Platt, que passa o filme todo bêbado (é véspera de Natal) é o alívio mais abertamente cômico, junto de Ned Bellamy como o leão de chácara da casa de stripper. É um pequeno e divertido filme com elementos de um noir destrambelhado, bem a gosto do diretor.
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em tempo: Francisco Cesar Filho (Chiquinho), está filmando Augustas. E está com um blog que funciona como diário de filmagens. Muito bacana.
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domingo, 13 de abril de 2008

Em homenagem ao belíssimo Um Beijo Roubado, o diretor da vez é Wong Kar Wai:

Conflito Mortal (As Tears Go By, 1988) * *
Dias Selvagens (Days of Being Wild, 1993) * * * *
Cinzas do Passado (Ashes of Time,1994) * * * *
Amores Expressos (Chunking Express, 1994) * * * *
Anjos Caídos (Fallen Angels, 1995) * * *
Felizes Juntos (Happy Together, 1997) * * * *
Amor à Flor da Pele (In The Mood for Love, 2000) * * * *
Eros (episódio: A Mão, 2004) * * *
2046 (2004) * * * * *
Um Beijo Roubado (My Blueberry Nights, 2007) * * * *

em um TOP 5, a ordem seria esta:

1) 2046
2) Felizes Juntos
3) Dias Selvagens
4) Um Beijo Roubado
5) Cinzas do Passado

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observações:

a) Todos os filmes de Wong Kar-wai cresceram numa revisão, exceto Amor à Flor da Pele, e os que eu nunca revi (além do último, Conflito Mortal e A Mão). Ou seja, Um Beijo Roubado pode subir mais no meu conceito.

b) Comecei a gostar do cara com Felizes Juntos, em algum momento do final da década de 90. Antes, tinha visto na Mostra SP Amores Expressos e Anjos Caídos e achado uma bobagem.

c) Norah Jones está muito bonita em Um Beijo Roubado. E Cat Power também. David Strathairn arrasa.

d) Na próxima atualização da Paisà deve entrar o texto sobre o filme. Enquanto a atualização não vem, continuem acompanhando a cobertura de Buenos Aires em:

www.revistapaisa.com.br/paisablog

sábado, 12 de abril de 2008

Dois filmes brasileiros

Estômago mostra a evolução profissional de um paraibano que chega a São Paulo e começa a se virar como cozinheiro. As primeiras imagens são interessantes, com o personagem de João Miguel perdido no centro de Sampa, embaixo ou em cima do minhocão, andando meio sem objetivo. O talento dele para a cozinha fará com que conheça uma prostituta - com quem vai querer se casar, e um dono de restaurante italiano - que o passará para trás. Parelelamente, acompanhamos o personagem na prisão, em saltos temporais que incomodam muito mais pela imprecisão nas passagens do que pela ignorância do que pode ter acontecido para ele estar ali. Conforme o tempo passa, começa a ficar previsível que ele cometeu um crime passional. O segundo crime, cometido na prisão, é totalmente sem nexo. É aquela velha história da verossimilhança. Adoro coisas inverossímeis, mas Marcos Jorge construiu um personagem até bem definido, e a atitude dele no final não condiz com a construção. Fica muito claro o sentimento de que foi só um truque barato de roteiro, algo para impressionar e surpreender, mas às custas de se perder qualquer coerência existente.

Pior ainda é Maré - Nossa História de Amor, de Lúcia Murat. É muito forçada a simetria com Romeu e Julieta, e o final, que é ainda mais forçado para se assemelhar ao final da tragédia de Shakespeare, abusa da nossa paciência, justamente por acreditar que personagens estão ali como fantoches, e podem realizar qualquer coisa que a diretora queira, abrindo mão de uma unidade que o caracterize. Pede-se uma identificação, mas o que temos é a traição de um espectro histórico, de um conjunto de coisas que definem as pessoas dentro de um filme. Dá para adotar um mecanismo em que os personagens sejam realmente manipulados por títeres, mas não é uma operação fácil de se fazer.

No fundo, ambos os filmes têm problema semelhante. Penso que isso tenha a ver com a dificuldade do cinema brasileiro em mostrar a crueldade humana. Ou ela entra como efeito arbitrário dos autores (caso de João Miguel em Estômago) para produzir algum choque, ou ela entra como maneira de comentar as mazelas do mundo transpondo para ele um espírito trágico que não tem nada a ver com a época e o local. É difícil conseguir que esse truque dê certo. Quando dá, cria um efeito realmente impactante. Mas quando dá errado - a maioria das vezes, cria-se o patético, como em algumas seqüências e no final de Maré.

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em tempo: meu co-editor da Paisà, Filipe Furtado está em Buenos Aires, fazendo uma cobertura do BAFICI. Acompanhem em:

www.revistapaisa.com.br/paisablog

quinta-feira, 10 de abril de 2008



Rolling Stones - Shine a Light. Corram antes que saia de cartaz. Vi com mais uns dez gatos pingados na noite de ontem (Arteplex 1). Filmaço. Um desafio imposto. Dois gigantes brigando. Dois bonachões se divertindo e um lorde como sempre entediado. He speaks.

A outra dica é um reforço à que o Renato Doho deu tempos atrás no blog dele. Apenas Uma Vez (Once) é realmente um belo filme. Estréia dia 18, pelo que disseram só em cópias digitais.

poema minuto

oi, comprei um tim,
claro que me ferrei,
agora sou vivo

terça-feira, 8 de abril de 2008

Revendo Falsa Loura. Carlão Reichenbach deixa sua paixão pelo cinema italiano bem clara. E não estou dizendo da cena da varanda, inspirada em Zurlini (ele disse que é em A Garota com a Valise, mas eu acho que é em Verão Violento). Todo o filme é equilibrado pelos excessos de alegria e tristeza. A um sucede o outro, às vezes de forma brutal. Damos muitas risadas - karaokê, dj do clube, Madame Bruschetta (é assim que se escreve?). Mas é impossível não torcermos por Silmara (Rosanne Mulholland), ficarmos tristes com ela. O filme nos deixa com esse gosto amargo, como nas comédias italianas (exemplo máximo: Aquele que Sabe Viver).

Silmara não é prostituta. Não tem vocação para isso. Ela tem é muito amor para dar, mas não consegue receber na mesma medida. Não recebe quase nada, aliás. A única pessoa com quem ela tem uma relação mais justa é o pai, que faz de tudo para dar de volta o que recebe dela. Mesmo na hora do abandono. O filme tem seus momentos baixos, e eles não se harmonizam tão bem quanto em Garotas do ABC. Mas toda a seqüência na fazenda com o Maurício Mattar está entre os melhores momentos já filmados pelo diretor.

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Terminou o É Tudo Verdade. E eu não consegui, mais uma vez, ver metade dos filmes que queria. Um pouco pelo formato da programação. Desanima ver as filas do Cinesesc, ou mesmo imaginar que elas estarão lá. Desanima a projeção de alguns filmes, e a maneira como os clássicos são programados. Acompanhar Além dos Trilhos, por exemplo, seria um castigo para minha coluna, e eu não quero ficar com dor nas costas pelo resto da minha vida. A Dor e a Piedade eu perdi por não conseguir chegar a tempo. Paciência. Ambos serão vistos nos dvix que tenho aqui, assim que der tempo.

O último filme que vi no festival foi Simonal - Ninguém Sabe o Duro que Dei, numa sessão muito concorrida na sexta-feira à noite. É outro filme triste, a exemplo do que passou antes na mesma sala, Waldick, Sempre no meu Coração. Triste porque vemos uma estrela em decomposição, um ostracismo (palavra muito falada no documentário) forçado, a intolerância e os extremismos que se originaram daqueles tempos sinistros (governo Médici).

Uma coisa bacana foi ter ido atrás do tal contador que teria sido surrado a mando de Simonal, supostamente por ter desviado dinheiro - que Simonal torrava sem a maior noção, diziam os mais próximos. Nessa hora a coisa pega, e a figura do ídolo quase sai bem chamuscada. O filme é feliz ao dosar essas acusações com a persona do astro, explorada por ele à exaustão, com boa dose de ingenuidade e arrogância. Legal também foi emendar os depoimentos sobre a cantoria no maracanãzinho (20, 30, 40, 50 mil vozes, diz, respectivamente, cada um dos entrevistados).

Sempre achei que as acusações de delação eram falaciosas, e o documentário me fez ter quase certeza de sua inocência. Uma coisa é certa: souberam usá-lo como e quando queriam, para descartá-lo quando ele pretendeu criar uma outra persona, mais séria e crítica. Não convinha ter um sucesso de público tão questionador assim. Sobre a declaração de Miéle, de que Simonal foi o grande cantor do País - pensei na hora: não, não foi. Esse foi Tim Maia. Simonal era muito bom, principalmente nos anos 70, depois de ter sido acusado (e o documentário falha ao não mostrar que ele continuou gravando discos, os melhores de sua carreira), mas não entraria numa lista dos dez melhores.



domingo, 6 de abril de 2008

Alan Ladd e Veronica Lake como o par romântico que se forma aos poucos, mais uma performance memorável de William Bendix (que também arrasa em Um Barco e Nove Destinos) como o veterano de guerra com um ferimento na cabeça e um roteiro original de Raymond Chandler. E não é que A Dália Azul (The Blue Dahlia, 1946) é decepcionante? E o ponto de virada - quando a coisa começa a desandar - acontece justamente depois da cena da foto acima.

Não esperava muito do diretor George Marshall. Apesar de já ter lido por aí que ele tem alguns filmes decentes, os que eu tinha visto deixavam a desejar: A Barbada do Biruta, O Bamba do Regimento e De Caniço e Samburá. Três filmes com Jerry Lewis, e um cara que não consegue arrancar gargalhadas com Lewis em cena deveria pedir as contas e trabalhar em outro ramo. Dave Kher escreveu que a culpa é dele por A Dália Azul ser tão brochante. E não dá para discordar. Mas eu achei o roteiro, ou o que dá para transparecer dele na tela, bem pobre. Parece um coquetel do que deve ter num filme noir, com os ingredientes entrando na marra, criando uma série de situações dignas de um desenho do Super Galo (sem o tratamento irreverente que o desenho tinha).

sábado, 5 de abril de 2008

Waldick Soriano não é brega, é cantor romântico. Engraçado que o filme de Patricia Pillar (Waldick, Sempre no Meu Coração) termine com a versão dele para "Cavalgada", de Roberto e Erasmo Carlos. Porque Waldick construiu sua fama na mesma época em que 99% dos cantores populares queriam ir no embalo do Rei, desde os melhores (Odair José, Fernando Mendes) até os mais safados (Ovelha, Gilliard). Waldick não. Sua raiz era Nelson Gonçalves, Francisco Alves, a bolerada decadente dos bairros boêmios. Completamente anacrônico.

Dos anos 70 em diante, os arranjos Roberto fase medalhão (1973-1981) brigavam violentamente com o vozeirão empostado de corno macho, resultando na mistura mais esquisita que se podia ouvir na época. Sua voz em algumas canções lembrava um barítono com pitch acelerado e um eterno e discreto pigarro.

Curioso que Patrícia arrisque umas composições mais afetadas sem se dar mal, como quando usa os corpos das mulheres para enfeitar o quadro, ou quando resolve encenar um acerto de contas com o filho (encenação? ou provocação de algo latente?). É um filme bem triste, que capta o cantor num clima de desencanto com os próprios rumos. Seria sobre o músico, termina sendo sobre o homem.

quinta-feira, 3 de abril de 2008


Eu realmente ando com pouca paciência para esses filmes "independentes" americanos. Todos parecem obedecer a certas regras que implicam na necessidade de se mostrar os humanos como eles são: cruéis, sensíveis ao extremo, frágeis, doentes. Também existe uma necessidade patológica de criar abstrações, imagens desconexadas da narrativa, mas que funcionam como parábolas de uma disfunção. A Família Savage, de Tamara Jenkins, não faz nenhuma questão de burlar essas regras. Já começa com uma abstração, uma imagem ridícula, bem a gosto dos imitadores de Wes Anderson. Depois vai aos poucos apresentando os protagonistas. Linney é hipocondríaca, cheia de traumas e bloqueios, a mulher problema. Hoffman é o homem de bom senso que mal consegue conter seus sentimentos. Um vulcão de fragilidade prestes a se desmanchar sob a menor hesitação. Um homem que é quase sempre cruel e sem jeito para falar o que pensa, por mais sensato que seja. Gosto do filme só quando esqueço que tem alguém atrás de uma câmera, e me deleito apenas com o trabalho desses dois atores fantásticos. Mas o filme é esquemático de um jeito que beira o asqueroso.

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Uma das coisas boas de Jumper é que seu diretor, Doug Liman, não leva a coisa a sério. Samuel L. Jackson, para dar uma idéia, é o vilão de terno futurista e cabelos brancos como algodão, e Jamie Bell parece um tipo de duende, não dá para acreditar que ele seja importante na luta contra Jackson. O filme tem 88 minutos, passa depressa como uma diversão barata dos anos 60, e essa é sua maior qualidade. A parte ruim cabe às seqüências de ação, com o treme-treme habitual de Hollywood, e os efeitos visuais e a rapidez dos movimentos da câmera disfarçando uma falta de jeito para geografar o espaço de maneira inteligível.

Histórias Cruzadas, de Alice de Andrade, visto no É Tudo Verdade, deu uma baita saudade dos filmes de seu pai, Joaquim Pedro de Andrade. As cenas de clássicos como O Padre e a Moça, Couro de Gato, Os Inconfidentes e Guerra Conjugal são muito bem costuradas com imagens caseiras, de parte da turma do cinema novo com as crianças (Alice entre elas). Lembra Person, o filme dirigido por Marina Person sobre o diretor de São Paulo S.A., ainda que não tenha a mesma força.

terça-feira, 1 de abril de 2008


À Procura da Vingança, de David Von Ancken, começa muito bem. Vemos um homem descansando na neve, quando de repente ele leva um tiro. Começa a fugir pelas montanhas, corredeiras, cachoeiras, dos algozes. Não sabemos nada sobre perseguido ou perseguidores. Até um encontro na selva durante a noite, quando há o primeiro diálogo entre os antagonistas. Até então, os diálogos ruins não incomodavam, só ficávamos na torcida para que eles ficassem mais raros, e que só acompanhássemos a perseguição e fuga, sem saber dos motivos. Claro que isso é impossível, e quando as explicações chegam, com direito a uma citação de Josey Wales, já não tem como nos decepcionarmos mais. É só acompanhar o filme ribanceira abaixo. Nem Pierce Brosnan salva. Nem uma aparição fantástica de Angelica Huston.