sexta-feira, 27 de fevereiro de 2004

Kwaidan (1964) - Masaki Kobayashi ****
Mais uma obra-prima de Masaki Kobayashi, um dos grandes diretores japoneses que raramente são considerados mestres. Pura injustiça. Os três filmes dele que pude ver (Aqui Termina o Inferno, Harakiri e Kwaidan) mostram que Kobayashi nada deve aos maiores. Gosto muito de Kurosawa (de quem conheço 16 filmes), mas na proporção filmes vistos - filmes adorados Kobayashi leva imensa vantagem. Em Kwaidan, o diretor faz um excelente uso do scope, assim como os outros dois, explorando bem a capacidade de trabalhar com o clima, com enquadramentos muito bem trabalhados acentuando a atmosfera onírica do filme. São quatro episódios de fantasmas, sendo o primeiro, Black Hair, o melhor e mais assustador. O terceiro, Hoichi the earless, é o mais curioso, com uso inusitado de cenário e moldura de cântico. Um primor, mas é o que menos se encaixa no gênero terror (dentro do qual diversos admiradores aprisionam o filme). Tem várias passagens cômicas, fogo-fátuos (o que não deixa de ser engraçado), além de ser o de maior duração (1h03min). Em todos os episódios predomina um excelente uso do som, algo que o aproxima de Desafio ao Além, de Robert Wise, filme feito pouco antes e que explora a pista sonora de maneira exemplar e muito imitada depois. Só que ao contrário do filme de Wise, onde procura-se defrontar o espectador com seus medos, Kobayashi está mais interessado em contar as histórias de seus fantasmas, sejam eles assustadores ou não. Pode ser considerado um filme de amor (principalmente se pensarmos nos dois primeiros episódios). Ou da busca por um ideal de amor, o que pode terminar em aprisionamento (vide quarto episódio).