sábado, 5 de abril de 2008

Waldick Soriano não é brega, é cantor romântico. Engraçado que o filme de Patricia Pillar (Waldick, Sempre no Meu Coração) termine com a versão dele para "Cavalgada", de Roberto e Erasmo Carlos. Porque Waldick construiu sua fama na mesma época em que 99% dos cantores populares queriam ir no embalo do Rei, desde os melhores (Odair José, Fernando Mendes) até os mais safados (Ovelha, Gilliard). Waldick não. Sua raiz era Nelson Gonçalves, Francisco Alves, a bolerada decadente dos bairros boêmios. Completamente anacrônico.

Dos anos 70 em diante, os arranjos Roberto fase medalhão (1973-1981) brigavam violentamente com o vozeirão empostado de corno macho, resultando na mistura mais esquisita que se podia ouvir na época. Sua voz em algumas canções lembrava um barítono com pitch acelerado e um eterno e discreto pigarro.

Curioso que Patrícia arrisque umas composições mais afetadas sem se dar mal, como quando usa os corpos das mulheres para enfeitar o quadro, ou quando resolve encenar um acerto de contas com o filho (encenação? ou provocação de algo latente?). É um filme bem triste, que capta o cantor num clima de desencanto com os próprios rumos. Seria sobre o músico, termina sendo sobre o homem.