quinta-feira, 20 de março de 2008



É um espertalhão esse Michael Moore. Se faz de bobo na frente das câmeras - sempre uma boa estratégia para se conseguir o que quer, e leva os entrevistados de seu filme, que se deram mal com o sistema de saúde nos EUA, para receberem tratamento gratuito em Havana.

Sicko (S.O.S. Saúde) retoma alguns dos procedimentos de Tiros em Columbine, como a curiosidade para testemunhar in loco o que ele havia ouvido dizer; e também a mania de se promover com a humilhação alheia. Talvez seja seu melhor filme, ainda que o alcance de sua denúncia tenha prazo curto, como a maior parte das denúncias espalhafatosas (alguém aí pensou no Datena?). Sicko é muito contundente enquanto estamos vendo, cada vez mais frágil depois que acaba.

Pelo que ele mostra, o estado da saúde nos EUA é pior que no Brasil. Os norte-americanos são reféns da máfia dos planos de saúde. Uma máfia das mais cruéis e nocivas. O sistema de saúde da Inglaterra, ao contrário, é a maior maravilha do mundo. Fiquei impressionado com a limpeza do Hospital público que ele mostra. Deve ser mesmo essa maravilha, e eu até já ouvi de fontes fidedígnas que é. Mas o dos EUA seria tão ruim assim? Ou o exagero era necessário para o filme acontecer?

A cota de humilhação fica por conta do dono de um site anti-Michael Moore. Claro, se eu acreditasse que o cara ficou sabendo pelo filme do cheque anônimo, e que essa publicidade negativa não era bem-vinda pelo Moore. Mas se algo do que foi narrado pelo filme for verdade, é quase do nível da humilhação com Charlton Heston em Tiros em Columbine. Parece um malandrão se vangloriando de ter passado o outro para trás, e ainda posando de generoso. Prefiro crer que seja tudo estratégia de marketing.

Ao menos ele não mostra um personagem em momentos humanos, com reações plausíveis, não de super-heróis, para colocar uma narração em cima chamando esse mesmo personagem de banana, que não está nem aí para seu país. Foi o que ele fez em Fahrenheit 9/11, e muita gente comprou.