Mike Nichols sempre foi muito hábil em conjugar política e teatro, mostrar relações de poder e influência com uma ironia e um senso de dramaturgia muito bem afiado. Mas nem tanto quanto Segredos do Poder, em que as relações entre os personagens passam muito mais por uma necessidade da trama, Jogos do Poder é um filme muito falado, e isso pode ser um empecilho à primeira vista. Somos submetidos a um blá-blá-blá sobre os meandros políticos dos EUA, e fica claro, desde o início, que a intenção maior é fazer desembocar a crise do Afeganistão nos atentados do 11 de setembro, e na consequente invasão americana no Iraque. Como fica clara essa intenção desde o início, o que o filme pode nos reservar de mais interessante é a atenção dada aos detalhes, aos meandros do funcionamento de um império numa época de gravidade na Guerra Fria com a eleição de Ronald Reagan, sempre um forte em Nichols, que tinha experiência com teatro e adaptações teatrais - caso de Quem Tem Medo de Virgínia Wolf?, adaptação de uma peça de Edward Albee, e até hoje o melhor filme do diretor. Essa atenção aos detalhes é muito mais efetiva durante um tempo, antes do filme ser obrigado a avançar muito rapidamente no tempo. No final, sentimos que o tapa na cara não nos toca, pois já sabíamos de todas as conseqüências da ajuda dos EUA ao Afeganistão, e, principalmente, da retirada rápida e leviana após a ajuda - basta ler jornais. É um pouco o caso de Sem Fim à Vista, de Charles Ferguson, o documentário que muitos elogiam efusivamente, mas que me pareceu um Michael Moore empobrecido, um protesto que só vai atingir uma minoria, já esclarecida pelo noticiário. É mais do mesmo, para inglês ver. Só que o filme de Nichols ao menos tem grandes atores dando o máximo, e um Tom Hanks inspirado como há muito não se via.
domingo, 16 de março de 2008
Postado por Sérgio Alpendre às 18:19
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