A Outra Face da Violência (Rolling Thunder, 1977), de John Flynn
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O major Charlie (William Devane) chega da Guerra do Vietnã como um zumbi. Seu tempo é outro, e não se harmoniza com o tempo das outras pessoas. Ele se acostumou à adrenalina da guerra, e agora sente que tudo é muito lento, tudo parece acontecer em câmera lenta. Mas é ele que está em câmera lenta. Ele e seu amigo (Tommy Lee Jones). Sua mulher reconstruiu a vida ao lado de outro homem, e seu filho cresceu longe de seus olhos. Agora ele é um eterno deslocado, será sempre um veterano de guerra. Flynn imprime um tempo igual ao do major: arrastado, moroso, com o tédio se instalando a todo momento. Quando sua ex-mulher e seu filho são assassinados, Charlie tem a oportunidade de voltar à ação. Ele coloca o uniforme militar (com o qual se sente seguro em sua condição, e vai para a vingança, frio, como se estivesse mostrando apartamentos. Nunca deixa de ser um zumbi. Um dos filmes mais tristes e sombrios dos anos 70, A Outra Face da Violência revela uma América profundamente abalada, vivendo um colapso de sentimentos e motivações. O pessimismo é sua marca mais forte. Quem acusou o filme de fazer a apologia da violência gratuita estava muito equivocado.
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