quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Eu Sou a Lenda (I Am Legend, 2007), de Francis Lawrence
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Ser melhor que Constantine não quer dizer muita coisa. O fato é que eu raramente me preocupo com inverossimilhança, a não ser com a que pode ser evitada facilmente. É evidente que o cinema se presta a todos os tipos de situações inverossímeis, e quem cobra verossimilhança está perdendo o foco do que realmente importa. Mas sempre dói ver situações tratadas com preguiça, só porque no cinema tudo pode ser feito. É escapismo, dizem, logo, pouco importa construir um mundo crível, uma ambientação minimamente compatível com o que a própria história nos fazia crer ser a mais verdadeira.

Não se trata de reclamar do vírus que transforma humanos em monstros, mas de querer que esses monstros respondessem a uma coerência que obedecesse à estruturação do filme. Existiam mil maneiras de sacrificar a cachorra, por exemplo, mas a solução encontrada foi a pior possível - pede que acreditemos numa incapacidade de se desdobrar do herói, mesmo vendo que sua vida e a de sua cachorra estavam seriamente ameaçadas. Custava fazer ele correr, e não chegar a tempo no carro? Precisava mostrar ele se arrastando vagarosamente, como se quisesse ser apanhado? Coisas bobas, mas que fazem a diferença. Escolhas pobres dramaturgicamente.

Curiosamente, o filme cai bastante a partir da infecção de Sam, a pastora alemã. As soluções dramáticas são as piores possíveis, e a aparição de Alice Braga nada ajuda nesse sentido. Perdemos a atmosfera desolada da ilha de Manhattan, as caminhadas solitárias de Will Smith, em meio à grama que nasce do asfalto, as correrias de antílopes, leões e pássaros, ainda incompetentes no domínio desse novo habitat. As elipses começam a revelar mais preguiça do que estilo. Os sustos vão se tornando progressivamente mais importantes do que a construção de um clima. O desfecho parece apressado e simplório. E perdemos uma boa chance de ver uma senhora ficção-científica.