terça-feira, 20 de abril de 2004

Vi o Psicose do Gus Van Sant somente ontem. Impressionante ler as críticas dos outrora jovens Eduardo Valente e Ruy Gardnier na época do lançamento do filme. Tendo a concordar com os dois, apesar de serem antagônicos e de saber que os textos seriam muito melhores se escritos hoje. Eu não revi o filme original, mas a impressão que deu é que Van Sant não respeitou tanto assim a intenção de se recriar o filme plano a plano. Mas é curioso como a fidelidade ao clássico pode colocar o espectador na parede.
- Não gostei do novo. É igual ao antigo...
- Então você também não gosta do antigo?
- Não é bem assim...bom...por outro lado...

Diálogo com liberdades intencionais e de fundo muito mais provocativo do que reflexivo. Mas pertinente. Desde aquela época, provavelmente antes com o mal sucedido Até as Vaqueiras..., Van Sant procurava colocar a platéia contra a parede de seus próprios preconceitos. Provocá-la de uma forma eloqüente e perigosa, pois pode ser confundida com oportunismo, o que não deixa de ser, num certo sentido.
Mas não um oportunismo à lá Oliver Stone, e sim o desejo de se tornar parte de uma reflexão ainda atualíssima (principalmente por causa da onda de remakes que assolou o cinema americano à partir dos anos 90). Elefante parece o mais bem acabado exercício em confrontar o público, mas cada vez fica mais claro que Van Sant já procurava isso há muito tempo. E as nuvens, inseridas nos assassinatos, estabelece uma ligação interessante com sua filmografia, quase toda voltada para os céus nebulosos. A transcendência dos significados como busca, não como explicação.