sábado, 3 de abril de 2004

Todos sabem que DePalma é um prolífico criador de planos geniais. A câmera subjetiva que vira objetiva e vice-versa, a mudança de ângulo com um elegantíssimo travelling, reflexos e angulações inacreditáveis, câmera lenta como maneira de manipular o tempo (só Hitchcock era tão bom nessa manipulação do tempo)...tudo usado com função muito específica, ora para enredar o espectador, capturá-lo pelo pescoço e não mais largá-lo, ora para sublinhar uma visão de mundo que passa pela percepção de que o olhar nos engana o tempo todo. DePalma parecia desconfiar de seu próprio olhar, mas o que mais queria era jogar com a capacidade de apreensão imagética de quem quer que visse seus filmes. Revendo Vestida para Matar, dá pra ver tudo isso de maneira muito clara, e talvez seja seu filme mais emblemático. Mas são tantos planos geniais, que acabam por soterrar em tédio alguns dos momentos mais calmos (no sentido estilístico) do filme. DePalma percebeu isso, e em vários filmes posteriores cuidou para que os momentos "mortos" não fossem soterrados por sua própria genialidade. Femme Fatale é o mais recente exemplo disso. Como ele conseguiu? Sinceramente, não sei. Mas arrisco: densidade dramática, simples assim. Afinal, seus entraves narrativos (inexistentes na obra-prima Trágica Obsessão) seriam expurgados com Dublê de Corpo.