quarta-feira, 2 de julho de 2008

Na semana passada, uma senhora na fila do Reserva estava revoltada por ter perdido O Segredo do Grão, de Abdellatif Kechiche. Ela se confundiu e achou que o filme tinha estreado, quando ele passou numa mostra de pré-estréias francesas. Não havia motivo para desespero, já que este terceiro longa do diretor é uma decepção tremenda. No ótimo A Esquiva (revisto e confirmado), há um olhar vigoroso para a juventude suburbana, imigrante, cheia de sotaques quase incompreensíveis. A câmera de Kechiche passeava com desenvoltura, numa das vezes em que a câmera treme por uma tentativa de se incluir em um mundo (como no caso dos filmes de Kawase), não para se filiar a um modismo. No primeiro e irregular La Faute a Voltaire, ele captava as incertezas do amor que nasce de onde menos se espera, e constrói algumas cenas bem bonitas com Elodie Bouchez. Neste O Segredo do Grão, tudo é meio derivativo desses dois primeiros filmes, das brigas aos berros do segundo aos olhares titubeantes do primeiro. Mas tudo é incrivelmente sem sal, diluição das mais canhestras. E perto do final há duas seqüências que correm em paralelo e que são inacreditavelmente constrangedoras. Será que Kechiche vai se tornar diretor de apenas um grande filme?