Fassbinder, em meados da década de 70, disse que já não admirava mais Claude Chabrol, pois o diretor francês tinha parado de amar seus principais personagens. Lembrei disso enquanto via o belíssimo Uma Garota Dividida em Dois, pois acompanhamos, com certa cumplicidade zombeteira, três personagens estereotipados - a jovem deslumbrada que quer deixar de ser santinha, o escritor rico e libertino que sabe viver a vida, e o herdeiro mimado de um químico famoso (um rato de laboratório, literalmente). A certa altura, o advogado (Thomas Chabrol, filho do diretor com a atriz Stéphane Audran), após um diálogo tenso com a mãe do herdeiro mimado (Caroline Sihol), sai da casa dela com uma reação que resume indignação, desprezo, saco cheio: uma careta acompanhada de um calafrio de deboche. É um belo resumo do filme (e por isso é a foto do post), que mais do que nos últimos de Chabrol, carrega uma verve observacional cruel e brilhante que poucos diretores parecem capazes de ter. Outro belo resumo: a lágrima que cai do rosto de Ludivine Sagnier enquanto ela está sendo cortada em dois pelo tio. Se é preciso uma tragédia para revelar o que esses curiosos fantoches têm de humano, que venha a tragédia. De resto, é preciso dizer que temos um verdadeiro show de François Berléand e de Benoît Magimel, e a melhor atuação de Sagnier.
terça-feira, 22 de julho de 2008
Postado por Sérgio Alpendre às 00:25
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