Mulheres da Noite (Yoru no Onnatachi, 1948) tem diversas menções a doenças venéreas - sífilis em particular - e mostra como era dura a vida no pós-guerra de um Japão em ruínas. Kenji Mizoguchi não poupa o espectador. Joga-o num redemoinho de crueldade, do "cada um por si" que se assemelha ao apocalipse. Desnecessário dizer que se trata de mais uma obra-prima desse realizador que não pode ser deste mundo. Atenção para Kinuyo Tanaka, que seria a Oharu de uma outra obra-prima de Mizoguchi (Oharu - A Vida de uma Cortesã, 1952), e várias outras mulheres de Mizoguchi; e de Mikio Naruse (Nagareru, 1956). Dois dos maiores diretores a abordar os problemas femininos: um mais ligado à dramaturgia familar, aos problemas sociais e comportamentais (Naruse), outro vai na ferida, escancara a condição feminina no Japão de sempre, e quando fala do Japão medieval deixa claro que está sendo atemporal (Mizoguchi), ambos souberam valorizar o talento dessa atriz espetacular chamada Kinuyo Tanaka (nunca é demais repetir o nome dela).
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