domingo, 22 de junho de 2008

Ainda Mizoguchi.

Em uma mesa redonda realizada em 1937 *, na qual o mestre, então com 39 anos, é confrontado impiedosamente em alguns momentos, muito se fala de Elegia de Osaka, seu último filme na época. Na primeira intervenção, Mizoguchi diz: "Seria melhor se estivesse presente Yoshikata Yoda (roteirista), que fica completamente à vontade nesse tipo de encontro. Quanto a mim, só digo coisas sem sentido."

Mais adiante, após uma pergunta capciosa, ele responde: "Quando acabo de rodar um filme, como posso dizer... me parece uma merda expelida a duras penas e que dá nojo só de olhar. Quando um filme meu está em cartaz numa sala normal de exibição, fico constrangido em passar em frente àquele cinema, não consigo ir vê-lo."

Vejam bem, frases ditas por um gênio do cinema, um dos maiores.

Quando penso que hoje em dia, com o mar de auto-promoção existente em todos os cantos, pessoas realmente talentosas são tolhidas ou se acanham por não ter estômago para tal prática, me dá uma imensa tristeza. Acredito ser necessária boa dose de autocrítica e insegurança para se alcançar um trabalho realmente bom, em quase todos os ramos em que se lida com um modo de expressão artístico, e a crítica de cinema não seria exceção. No sentido de que só assim podemos exigir mais de nós mesmos, e estar sempre querendo evoluir, aprender (com mais velhos ou mais novos, tanto faz), reler velhos textos, ir atrás de coisas que deviam ter sido lidas, mas não foram por algum descuido... Humildade, se resumirmos em uma única palavra.

O que Mizoguchi disse pode até ser interpretado erroneamente como falsa modéstia, disfarce de quem é consciente do que produz. Mas é, na verdade, uma boa lição, bombardeada constantemente por publicitários espertinhos - dentro ou fora da profissão de origem (a publicidade). Às vezes um ataque de egocentrismo (não me refiro em absoluto ao uso da primeira pessoa) pode ser muito mais prejudicial que a aceitação das limitações, e a compreensão de que algumas dessas limitações podem ser superadas com o tempo.

* no livro Mestre Mizoguchi - Uma Lição de Cinema, organização de Lúcia Nagib. Navegar Editora.