Treze Dias que Abalaram o Mundo (Thirteen Days, 2000), de Roger Donaldson
* * * *
F I L M Ã O. É tudo que eu posso dizer desse filme de Donaldson sobre a Crise dos Mísseis. Ainda não investiguei a data de estréia no Brasil para saber por que diabos perdi a chance de vê-lo nos cinemas, mas realmente lamento. Há uma construção simples e perfeita: um bloco após o outro, formando paredes sólidas sem que um trabalhador braçal terminasse cansado. A tensão está na trama, em toda essa construção minuciosa cujo único paralelo que eu posso fazer é com dois filmes de Sidney Lumet: Doze Homens e Uma Sentença e Limite de Segurança. Há um enorme problema inicial que é a presença de Kevin Costner. O ideal é que o grande amigo e assessor dos irmãos Kennedy fosse interpretado por um ator menos conhecido, menos marcante, o que seria difícil, pois Costner é produtor. O problema é contornado com meia hora de filme, e a percepção de que todos os coadjuvantes, com destaque para Bruce Greenwood (como o presidente JFK) e Dylan Baker (como Robert McNamara) estão perfeitos. Nem mesmo a trilha sonora triunfalista de Trevor Jones, que é carregada especialmente nos minutos finais, atrapalha.
segunda-feira, 30 de junho de 2008
Postado por Sérgio Alpendre às 04:14 |
domingo, 29 de junho de 2008
Jogo de Amor em Las Vegas, de Tom Vaughan: começa muito ruim, medonho mesmo, com Ashton Kutcher fazendo mais uma variação do Kelso de That 70's Show (apesar de ser muito boa a matriz, as variações cansam), e Cameron Diaz mais careteira ainda que o normal. Quando volta pra NY, melhora um bocado, Kutcher vira um galã típico de comédia romântica (e se sai muito bem), Diaz fica bem mais bonita, Treat Williams faz bem o pai que humilha, e o amigo fiel que o homem sempre tem nesse tipo de filme é o engraçado Rob Corddry (no canto direito da foto), que havia feito o irmão bobo e violento de Michelle Monaghan em Antes Só Do Que Mal Acompanhado. Depois da sessão saí com a impressão de que tinha visto um filme besta, mas em alguns momentos cheguei até a chorar. É a velha manha aprendida em Hollywood, de fazer muito bem a lição de casa e nos enganar com um semi-entulho de casca reluzente e brilhante.
em tempo: tava no ponto de ônibus quando um gênio passou ouvindo "Amigo", de Roberto Carlos (da obra-prima de 1977). Mãe e filha que estavam no ponto olharam uma para a outra e disseram, quase ao mesmo tempo: "que brega".
atualização rápida do Melomania: Dead Can Dance:
www.melomania.blogspot.com
Postado por Sérgio Alpendre às 04:47 |
quinta-feira, 26 de junho de 2008
Alguns amigos me cobram mais posts esquizofrênicos. Disse-lhes que já os faço em demasia. Mas solto mais um, exageradamente esquizo, contraditório que sou:
- Tremenda decepção com a revisão de A Questão Humana. Tá lá na Paisà, que por sinal foi atualizada. Essa cena em especial é bem bocó, mostrando a submissão do personagem de Amalric a um estado de coisas que ele mesmo perceberá como nocivo no decorrer do filme. Muitas passagens que haviam me agradado imensamente caíram como chumbo aos meus olhos, graças ao mecanismo aparente para criar poesia em imagens. Ando meio de saco cheio desse tipo de coisa. A cotação é mais positiva que o texto, o que reflete certo desconforto ainda não superado, e não de todo compreendido.
- E O Incrível Hulk do Leterrier? Que coisa mais bizarra. Aqueles personagens todos falando em português e eu não esquecia a dublagem de um filme catástrofe que passava no SBT, com formigas gigantes (não é o Then, que é delicioso, mas um bem tosco dos anos 80): "o quê?", "me dá isso", "agora vai pra lá". Mas é uma boa aventura, afinal de contas.
- Não falei aqui, mas achei o longa-metragem do Agente 86 bem decepcionante. Na cabine, passaram o primeiro episódio da série. Ao contrário do que o funcionário da Warner falou, não estava com a dublagem original. Uma pena.
- Fluminense x LDU. O que me encanta no futebol carioca é que eles muitas vezes jogam como se estivessem ainda nos anos 80, com pouca marcação e um toque de bola menos tático que no resto do mundo. Pois o LDU foi o time mais alegre no primeiro tempo, lembrando a Nigéria dos tempos áureos. No segundo tempo a equipe murchou, e deu espaço para o Flu se recuperar. Deverá ser um jogo eletrizante o do Maracanâ na quarta que vem.
- diálogo ouvido na Rua José Bonifácio, a caminho do Viaduto do Chá: "ele não tem pavio curto, ele não tem é pavio".
- Procura-se lugar para a realização de alguns cursos supimpas sobre cinema. Quem tiver sugestões, meu email está aí do lado.
Postado por Sérgio Alpendre às 02:24 |
terça-feira, 24 de junho de 2008
Com um título em português absurdo - Uma Escola de Arte Muito Louca - vi finalmente o Art School Confidential, de Terry Zwigoff. Provavelmente é o melhor filme dele (repararam como eu tenho dito muito isso atualmente? coincidência). Nessa caso não diz muito mesmo, pois os outros que eu vi, Crumb e Bad Santa, são interessantes, mas nada demais. Neste filme de 2006, temos um estudante de arte que pensa ser um gênio, e cai no meio do caminho, quando descobre que seu talento é, na verdade, bem limitado. Curioso que ele se apega a estilos elogiados, ele precisa estar na crista da onda, e o personagem de John Malkovich, longe de paternalista, é mais um oportunista desse mundinho in. A crítica explosiva a esse mundinho (que é o mais interessante) é abandonada justamente quando o filme faz seu trajeto Pickpocket, culminando com a homenagem da cena final - bem bonita, aliás.
Postado por Sérgio Alpendre às 00:23 |
domingo, 22 de junho de 2008
Em uma mesa redonda realizada em 1937 *, na qual o mestre, então com 39 anos, é confrontado impiedosamente em alguns momentos, muito se fala de Elegia de Osaka, seu último filme na época. Na primeira intervenção, Mizoguchi diz: "Seria melhor se estivesse presente Yoshikata Yoda (roteirista), que fica completamente à vontade nesse tipo de encontro. Quanto a mim, só digo coisas sem sentido."
Mais adiante, após uma pergunta capciosa, ele responde: "Quando acabo de rodar um filme, como posso dizer... me parece uma merda expelida a duras penas e que dá nojo só de olhar. Quando um filme meu está em cartaz numa sala normal de exibição, fico constrangido em passar em frente àquele cinema, não consigo ir vê-lo."
Vejam bem, frases ditas por um gênio do cinema, um dos maiores.
Quando penso que hoje em dia, com o mar de auto-promoção existente em todos os cantos, pessoas realmente talentosas são tolhidas ou se acanham por não ter estômago para tal prática, me dá uma imensa tristeza. Acredito ser necessária boa dose de autocrítica e insegurança para se alcançar um trabalho realmente bom, em quase todos os ramos em que se lida com um modo de expressão artístico, e a crítica de cinema não seria exceção. No sentido de que só assim podemos exigir mais de nós mesmos, e estar sempre querendo evoluir, aprender (com mais velhos ou mais novos, tanto faz), reler velhos textos, ir atrás de coisas que deviam ter sido lidas, mas não foram por algum descuido... Humildade, se resumirmos em uma única palavra.
O que Mizoguchi disse pode até ser interpretado erroneamente como falsa modéstia, disfarce de quem é consciente do que produz. Mas é, na verdade, uma boa lição, bombardeada constantemente por publicitários espertinhos - dentro ou fora da profissão de origem (a publicidade). Às vezes um ataque de egocentrismo (não me refiro em absoluto ao uso da primeira pessoa) pode ser muito mais prejudicial que a aceitação das limitações, e a compreensão de que algumas dessas limitações podem ser superadas com o tempo.
* no livro Mestre Mizoguchi - Uma Lição de Cinema, organização de Lúcia Nagib. Navegar Editora.
Postado por Sérgio Alpendre às 22:32 |
sábado, 21 de junho de 2008
Mulheres da Noite (Yoru no Onnatachi, 1948) tem diversas menções a doenças venéreas - sífilis em particular - e mostra como era dura a vida no pós-guerra de um Japão em ruínas. Kenji Mizoguchi não poupa o espectador. Joga-o num redemoinho de crueldade, do "cada um por si" que se assemelha ao apocalipse. Desnecessário dizer que se trata de mais uma obra-prima desse realizador que não pode ser deste mundo. Atenção para Kinuyo Tanaka, que seria a Oharu de uma outra obra-prima de Mizoguchi (Oharu - A Vida de uma Cortesã, 1952), e várias outras mulheres de Mizoguchi; e de Mikio Naruse (Nagareru, 1956). Dois dos maiores diretores a abordar os problemas femininos: um mais ligado à dramaturgia familar, aos problemas sociais e comportamentais (Naruse), outro vai na ferida, escancara a condição feminina no Japão de sempre, e quando fala do Japão medieval deixa claro que está sendo atemporal (Mizoguchi), ambos souberam valorizar o talento dessa atriz espetacular chamada Kinuyo Tanaka (nunca é demais repetir o nome dela).
Postado por Sérgio Alpendre às 13:50 |
quinta-feira, 19 de junho de 2008
Melhor filme de M. Night Shyamalan? É muito provável. Li agora muitas coisas interessantes sobre Fim dos Tempos. Tanto de quem gostou, como de quem odiou. Antes de ver, só havia prestado atenção à bela sacada do xará José Oliveira (sim, também sou Oliveira), do Touro Enraivecido (link ao lado): "é um filme que começa nas nuvens, desce para baixo uma hora e meia e volta para os altos." Evitei ler qualquer outra coisa para ir virgem à sala de cinema, deixar-me surpreender por tudo que acontece, pelas artimanhas de Shyamalan, pelas pistas falsas de roteiro (ex: letreiros dizendo onde acontecem as desgraças - a não ser em Paris, ou estou equivocado?).
Mesmo se fosse só cenas de suicídio muito bem filmadas, faria justiça a Elefante, não o do Van Sant, mas o do Allan Clarke, uma obra-prima só com cenas de perseguição e assassinatos subseqüentes. O que dizer das atuações tão contestadas de Zooey Deschanel e Mark Wahlberg? Como deveriam se portar pessoas que enfrentam catástrofes desse tipo? E o que dizer da cara de Deschanel em sua primeira aparição? A dúvida, o tal de Joey, abandonar ou não o marido...
Os momentos que eu mais gosto são: os caras se atirando do prédio em construção; o carro batendo na árvore, o motorista voando, Leguizamo saindo e sentando na rua, apanhando um pedaço de vidro, e o fade ligeiro que se segue assim que ele começa a cortar os pulsos; os suicídios que ouvimos no outro grupo que saiu da estrada; as caras de atônitos que quase todos no filme fazem (má atuação? alguém já passou pelo que eles passam?).
Shyamalan sabe das coisas. Não deixa que um mandamento bobo do que deve ser a atuação de um filme de terror interfira em sua maneira de ver as coisas. É um diretor que olha e ouve com atenção. Mesmo quando me desagrada (Olhos Abertos, Sinais, A Dama na Água) consegue me implantar algumas inquietações. Todos os seus filmes tem seqüências de tirar o chapéu.
Criticaram, também no Touro, a seqüência final em Paris. Mas vejam só. Percebe-se a volta do ciclo. O que Shyamalan decide mostrar? Quais são suas opções - e isso vale para o filme inteiro. Revisão em breve, mas desconfio que todo o cinema dele caminhou para este Fim dos Tempos. Não da maneira que eu li por aí, mas de uma outra maneira, que fazia necessária uma passagem por A Dama na Água, e que este fosse tão insosso quanto o desejável. A morte do crítico teria o libertado de algumas regrinhas aprisionadoras. Estaria, esse diretor tão enigmático quanto talentoso, preparado para seguir o caminho da devassidão cinematográfica? Seria esse caminho semelhante ao de Fim dos Tempos? Ou O Acontecimento (a peça brilhantemente preparada para desgarrar as algemas)? Quantos diretores suscitam tanta discussão e vontade de voltar aos filmes anteriores como Shyamalan?
Postado por Sérgio Alpendre às 23:53 |
domingo, 15 de junho de 2008
Caros, perdoem a falta de atualizações. Estou em Ouro Preto, cobrindo o CineOP, e aqui não está sobrando muito tempo. Para compensar, mais um post esquizofrênico.
Para não ficar sem falar de filmes, decepção geral com Os Desafinados. Muitos amigos consideraram o novo trabalho de Walter Lima Jr. um desastre. Não chego a tanto, e até agora só o João, do Filmes Polvo, está ao meu lado numa defesa tímida do filme. Sim, tímida, porque a meia hora final é realmente de doer. Mas tá longe da coisa que começaram a pintar por aqui.
Continuo não gostando de Pátio, do Glauber Rocha. Como também não acho Barravento grande coisa, considero que o gênio só apareceu em Deus e o Diabo na Terra do Sol.
Não percam Abry, de Joel Pizzini, quando passar por São Paulo novamente. Belo filme, assim como Diário de Sintra, de Paula Gaitan.
Já recuperado pelo desastre de quarta-feira. Ainda bem que as atribulações dos últimos dias me impediram de pensar como é que um time embalado pode ser tão apático numa final, e jogar achando que dava para segurar um resultado ficando atrás o tempo todo. Lamentável esse meu timão.
Mineiro gosta mesmo de rock progressivo. Os músicos que se ajuntaram pela primeira vez para o pequeno show da abertura fizeram uma espécie de releitura da sonoridade do Ozric Tentacles, a melhor banda do gênero a ter surgido na inglaterra desde 1976.
Postado por Sérgio Alpendre às 02:25 |
terça-feira, 10 de junho de 2008
No final do século passado, era muito clara certa ressaca com o cinema iraniano, que acabava prejudicando a apreciação de filmes bem interessantes como Gabbeh, revisto outro dia, e O Voto é Secreto, de Babak Payami, que na época não me agradou. Lembro que uma das cenas que mais me incomodavam era exatamente essa, a do guarda estancado por um sinal vermelho no meio do nada. A cena ainda não me diz muita coisa, mas se insere perfeitamente com o espírito do filme, e mostra a mecanização, que tanto vemos nos atendentes do MacDonalds, vitimizando esse pobre patrulheiro. O começo, com o avião deixando uma caixa cair de pára-quedas num litoral desértico é especialmente forte, assim como o cotidiano dos guardas que se revelam na vigília de um local praticamente desabitado. É o único filme de Payami que eu vi. Infelizmente perdi Silence Between Two Thoughts, que passou na 28ª Mostra SP, em 2004. Talvez a ressaca de filmes iranianos dure até hoje, por isso é bom tomar cuidado para não perdermos jóias no meio do caminho.
Postado por Sérgio Alpendre às 03:55 |
segunda-feira, 9 de junho de 2008
Lista dos 20 melhores filmes dos anos 2000, enviada para a Liga dos Blogues Cinematográficos. As posições podem mudar de acordo com o dia, e eu acrescentei mais alguns títulos que poderiam ter entrado tranqüilamente na lista principal, tivesse eu começado a lista minutos antes, ou depois. A correria dos últimos dias me impediu de ser justo com alguns filmes, e de consultar minhas anotações. Foi tudo de lembrança. Mas é sempre injusto assim, penso eu...
2) Mal dos Trópicos, de Apichatpong Weerasethakul
3) Elogio ao Amor, de Jean-Luc Godard
4) O Quinto Império, de Manoel de Oliveira
5) Menina de Ouro, de Clint Eastwood
6) Em Busca da Vida, de Jia Zhang-ke
7) Eureka, de Shinji Aoyama
8) O Signo do Caos, de Rogério Sganzerla
9) Amantes Constantes, de Philippe Garrel
10) Dez, de Abbas Kiarostami
11) Femme Fatale, de Brian De Palma
12) Adeus Dragon Inn, de Tsai Ming-liang
13) Anjos Exterminadores, de Jean-Claude Brisseau
14) Vai e Vem, de João Cesar Monteiro
15) A Hora da Religião, de Marco Bellocchio
16) Serras da Desordem, de Andrea Tonacci
17) A Espiã de Paul Verhoeven
18) Maria, de Abel Ferrara
19) A Floresta dos Lamentos, de Naomi Kawase
20) Kill Bill 1, de Quentin Tarantino
Postado por Sérgio Alpendre às 00:23 |
sexta-feira, 6 de junho de 2008
Conheci a Dirigido por... na Bienal do livro de 1996 (se a Bienal acontece sempre em anos ímpares, então foi em 1997). Comprei duas edições do ano (1996), uma delas sumiu. Na mesma tenda, comprei um livro do Quim Casas (um dos críticos da revista) sobre Howard Hawks, que também sumiu antes que eu pudesse terminá-lo. Agora achei um lote no sebo de um amigo, várias edições que vão de 1998 a 2004. Engraçado que acabei chegando à mesma conclusão de doze anos atrás: os críticos espanhóis são muito acima da média de seu cinema. Claro, estou me concentrando na Dirigido, que tem caras realmente bons como Àngel Quintana, Quim Casas, José Enrique Monterde e Tomás Fernández Valentí. Mesmo António José Navarro, que deu bola preta para Inquietude, tem textos estimulantes sobre cinema americano (ele adora Joseph H. Lewis, por exemplo). Por mais que eu encontre diferenças gritantes de afinidades entre mim e todos eles (Àngel Quintana, por exemplo, adorou Amen), não tenho como ignorar que os textos da Dirigido seguem um padrão muito acima da média das revistas de cinema (mesmo se pensarmos na Cahiers dos últimos anos, ou até na Film Comment). São simples, têm uma unidade bem clara de pensamento, e, mesmo quando se esbaldam em referências e citações, seguem um espírito crítico de alguém que escreve por paixão, não só por trabalho ou para alimentar o ego. O destaque é a seção Estudio, que sempre aborda um diretor com um texto enorme, de no mínimo dez páginas, podendo ser até o dobro (às vezes continuando na edição seguinte, e em alguns casos - John Ford, por exemplo - em três edições). Se eu assinar alguma revista de cinema no futuro próximo, será essa revista catalã que tanto tem me agradado ultimamente.
Postado por Sérgio Alpendre às 01:16 |
quinta-feira, 5 de junho de 2008
Uma das melhores críticas que li recentemente é esta que colo aqui, encerrando a série de Ctrl C + Ctrl V que iniciei com o trecho do Argento. Àngel Quintana, um dos melhores críticos espanhóis, escreve sobre Inquietude, de Manoel de Oliveira. Saiu na Dirigido por... de outubro de 1998. Pensei em traduzir, mas preferi deixar no original, porque se eu não tive dificuldades com meu espanhol medonho, ninguém terá. Simplicidade é a alma da coisa.
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El teatro, la literatura y el mito
En una corta escena de Inquietud, el nonagenario Manoel de Oliveira aparece bailando, con envidiable agilidad, un tango en un lujoso casino de Madrid con su mujer Isabel. la escena resulta altamente simbólica, sobre todo si tenemos en cuenta que está situada en el interior de una pelicula cuyo principal objetivo consiste, según el proprio realizador, en "mostrar el deseo latente de los mortales para llegar a conseguir la inmortalidad". Al bailar el tango, Oliveira lanza un guiño perverso a los numerosos espectadores que se maravillan de su perennidad y de los numerosos comentarios que acompañan cada nueva entrega de su filmografia sobre el misterioso don de la eterna juventud, sobre su inaptitud para morir. Sin embargo, el guiño de Oliveira se encuentra instalado en el epicentro de un relato coherente, formado por trez piezas independientes de registros contradictorios de los que emerge una preocupación por el tema de la inmortalidad, pero no en el sentido fisico del término, sino en un sentido espiritual.
Inquietud es una pelicula que nos habla sobre la codiciosa lucha para conseguir la longevidad mediante la fama, sobre la persistencia del deseo más allá de la muerte física de la amada y sobre la supervivencia de los mitos como origen de la sabiduría eterna. Al hablarnos de la conquista espiritual de la inmortalidad, Manoel de Oliveira no sólo nos habla del deseo de vencer la muerte que atormenta la existencia de sus personajes, sino que aprovecha para reflexionar sobre essa inmortalidad que es patrimonio del arte, de ese misterioso don que posee el cine, como eventual medio de expresión artística, para apropriarse de los instantes efímeros de la vida, de trascenderlos y conducirlos hasta ese reino de las sombras desde el que Máximo Gorki saludó el advenimiento del cinematógrafo. No es ninguna paradoja considerar que del interior de las tres historiasfragmentarias que conforman Inquietud surge un deseo de buscar la unidad entre los tres universos representativos que han marcado el cine de Manoel de Oliveira: el teatro, la novela y los mitos.
Vayamos por partes, Inquietud se abre bajo el signo de la farsa de bulevar, de la comedia de enredo de corte ligeramente macabro. La primera parte del triptico se centra en el trabajo de puesta en escena de la pieza de Prista Monteiro titulada Los Inmortales. Convencido de que el cine es un arte impuro y de que la teatralidad es parte esencial de la intertextualidad cinematográfica, Oliveira realza el artificio escénico - la presencia de los decorados - e interpretativo - la afectación de sua actores - para acabar proponiendo una farsa cruel sobre un eminente professor - José Pinto - que al observar cómo la decrepitud le priva de la inmortalidad característica de los genios muertos prematuramente, propone a su hijo que se suicide con una capsula de cianuro. Sólo mediante la muerte su hijo podrá conquistar la inmortalidad de la fama. Los Inmortales conecta fácilmente con el humor negro y la visión cruel de la existencia de los que Oliveira ha hecho gala en algunos de sus mejores trabajos desde Mon Cas y Los Canibales hasta La Caja. Curiosamente, las películas más negras de Oliveira muestran de forma deliberada el artificio, recurren a la teatralidad y buscan una correspondencia plausible con el cine primitivo, es decir, con un cine de la escena en el que la lógica no aparece determinada por el montaje sino por los proprios recursos de la puesta en escena.
En una serie de reflexiones sobre su oficio, su obra y su vida, Manoel de Oliveira reconocía una innegable fascinación por los destinos trágicos y melancólicos femeninos: "Las mujeres mueren por el amor de los hombres! A causa del egoísmo masculino. Quieren encontrar lo imposible y acaban cayendo en la indiferencia" (1). La pasión por los destinos trágicos de unas mujeres víctimas de la pasión masculina ha dotado a la filmografia de Oliveira de un innegable halo romántico expressado de forma manifiesta en sus viejos títulos como Amor de Perdição y Francisca. El romanticismo de Oliveira ha acabado adquiriendo una dimensión filosófica, a partir de un deseo de encuentro con el eterno femenino perfectamente expresado en la que es, quizá, la obra cumbre de su carrera, El Valle de Abraham. No es ninguna casualidad que Oliveira se proponga establecer una fusión entre el sentimiento trágico y el eterno femenino em Suzy, un relato de origen novelesco escrito por Antonio Patricio que constituye la segunda pieza de Inquietud. Leonor Silveira, la actriz protagonista de El Valle de Abraham, se convierte en una cocotte que se prostituye con los burgueses de Porto y provoca la pasión de un dandy, que acaba asistiendo a la muerte física de su amada y a la recuperación de la inmortalidad del deseo. Suzy establece una tensión entre lo dicho - la voz literaria - y lo representado - el naturalismo cinematográfico -, pero de forma progresiva el relato se va articulando en torno a la fascinación que lo femenino ejerce en la mirada masculina hasta desembocar en el sentimiento de nostalgia que imprime el recuerdo de la mirada que desea.
Inquietud se cierra con un cuento de carácter mítico escrito por Agustina Bessa Luis, colaboradora habitual del cineasta. El relato originario está centrado en un personaje ancestral, la madre del río - admirablemente interpretado por Irene Papas -, que desde el interior de una gruta prehistórica intenta buscar un equilibrio con la ternura mortal de todos los seres vivos. La Madre del Río cuenta el encuentro de Fisalina, una chica del pueblo a quien se le transmiten los secretos de la magia, representados por unos dedos de oro. Fisalina transgrede la moral del pueblo al estableceruna relación con un chico de la región y acaba condenada en el interior de la gruta. En La Madre del Río, Oliveira consigue una extraña ternura poética mientras busca de qué forma el caos puede llegar a armonizar con los secretos más íntimos de lo natural. La misteriosa poesia que desprenden las imagenes de La Madre del Río conectan con la extraña inquietud que envolvía los tortuosos pasillos de El Convento, donde lo mitico alertaba a los personajes de la presencia de lo extraordinario emergiendo de lo ordinario. Lo mítico también remite a otros grandes momentos de la filmografia de Oliveira, desde los rituales ancestrales que envolvian el universo de Benilde ou a Virgem Mãe hasta los mitos fundacionales de la historia portuguesa condensados en Non ou a Vã Glória de Mandar.
A partir del teatro, la literatura y el mito, Manoel de Oliveira busca la unidad. La pelicula nos traslada del escenario de lo representado al mundo de la representación novelesca y mediante un flash back nos lleva del artificio al esplendor de la belleza natural. Mediante una serie de cuidados malabarismos, Oliveira consigue una armonía estilistica de la que acaba surgiendo una especie de fusión alquímica con los principales movimientos que han marcado los mejores momentos de su cine. Si Inquietud es una obra que inquieta, reconforta y emociona es por la impresionante sensación de sabiduría que desprenden sus imágenes.
(1) Antoine de Baecque y Jacques Barsi, Conversaciones avec Manoel de Oliveira. Paris. Ed. Cahiers du Cinema, 1996. p. 101.
Postado por Sérgio Alpendre às 01:34 |
terça-feira, 3 de junho de 2008
Continuando no Ctrl+C - Ctrl+V
O terceiro LP do Black Sabbath com Ronnie James Dio mereceu esta resenha da Rock Brigade na época:
Ronnie James Dio encarou o demônio de frente, galopou no cavalo da morte e dançou na propriedade do sobrenatural. A amarga gota de fel que é nódoa nos corações humanos e o desespero pelo poder da força que arrasta todos às profundezas do inferno, foram por ele galhardamente cantadas, num Heavy Metal que Satanás não ensinaria nas escolas do inferno. A guitarra de Iommi ronca feio para o lado dos espíritos. Estremece túmulos. Os ventos soprados pelas cordas de Geezer assobiam gelado nas cumieiras da mente! Vinnie o convidado macabro cumpre o seguimento do ritual, possuído que foi pelo Black Sabbath. O Sabbath resistiu e persistiu no caminho do pau-pesado que transcende a própria música. Pois na sua essência a estupidez do pesado é o repúdio encolerizado da própria condição “Filho da Puta”, pecaminosa e mortal em que vive o homem. Na capa, um shock de nuvens carregadas de megatons anunciam fenômenos dantescos sobre o mar. O azul foi ao negro num abraço macabro, e o positivo foi ao negativo como que por encanto, precipitando na estampa perplexa do horizonte confuso, a descrição geométrica de um relâmpago serpenteador. Desceu na rota dos elétrons como um raio sobre o oceano, que o acolheu em seu peito com tanta valentia e determinação, quão resoluto e furioso ele desceu. A natureza enxotou de seu reino as pernícies humanas que vagueiam nas entranhas de suas cores místicas e em seus fenômenos íntimos. Sob a intolerância das forças naturais, elas deixam-se sair pelas portas do oceano, alcançando a praia, onde vagueiam as almas penadas a procura de um lar seguro e promissor. E encontram a mente humana, onde engendram, conquistam e dominam...
Espetacular, é o mínimo que eu posso dizer. Em outra resenha, um "crítico" da revista colocou a seguinte oração comentando um disco da banda japonesa Loudness:
O que esse japonês faz no palco é o que era de se esperar de um jovem nascido num país que tem a triste memória de ter levado duas bombinhas na orelha.
Barbante, como diria um aposentado locutor esportivo.
Postado por Sérgio Alpendre às 00:06 |