sexta-feira, 12 de março de 2004

Quase tudo do que tinha pra dizer sobre o novo filme dos irmãos Farrelly, Ligado em Você (2003) * * *, Eduardo Valente escreveu em seu texto na contracampo. Não sobra muita coisa antes de uma revisão, mas vamos lá.
Sobre a cena que serve como carta de intenções, a da expulsão do grandalhão do restaurante no começo do filme, é obviamente uma síntese do cinema dos irmãos. Na verdade, Ligado em Você, antes de ser um passo ousado, como disse o Eduardo, é uma depuração de seu cinema. No filme está contido todo o cinema prescedente dos irmãos, desta vez mais trabalhado, com mais atenção para a força das imagens, menos explosivo e, por incrível que pareça mais engraçado. Porque antes seus filmes, além de ser um pouco presos a um formato paródico, careciam de apuro no enquadramento, algo que desautorizava as comparações com Frank Tashlin (mestre da gag de enquadramento) e Jerry Lewis, ainda que com esse último possuiam o humor físico em comum. Com Ligado em Você eles chegam ao ápice de sua procura por um cinema solto, libertário e humano, além de um acerto tremendo no tempo cômico, algo que nem sempre dava certo em seus filmes. As piadas verbais multiplicam-se com um rítmo invejável ("we lost them" - de um médico no hospital, "I'm alone" - de Bob para um rastafari logo após a separação, "that's gay" ou coisa parecida - de Bob sobre a música escolhida por Walt para o reencontro...). A comparação com Jerry Lewis finalmente procede. Como ele, Peter & Bobby Farrelly sabem que o espaço cênico nunca deve ser menosprezado, e que um enquadramento pode ter muita força política, como mostram com precisão neste belo filme, o melhor de suas carreiras.