segunda-feira, 22 de março de 2004

Penso que a platéia do circuito de arte pode, sim, mudar a apreciação de um filme, o que depende de inúmeros fatores, inclusive da absorção ou não das intenções do diretor. Polanski concebeu O Inquilino como uma purgação de suas paranoias. Seu personagem não é aterrorizado por fantasmas, mas por sua própria incapacidade de se relacionar em um ambiente opressivo. A Paris retratada pelo filme (creio que não foi provocação do diretor) é uma cidade claustrofóbica, com pessoas estranhas, mas tudo pode estar filtrado pela mente do protagonista. Ele vê dessa maneira. O filme é muito feliz em nos deixar perdidos diante de acontecimentos estranhos. E essa estranheza não é desprovida de certo humor, principalmente na primeira metade do filme. Mas a platéia do CineSesc ria desbragadamente com tentativas de suicídio, gritos desesperados, como se estivesse vendo uma comédia. Lembro que da primeira vez que vi, no Espaço Unibanco (na época Espaço Banco Nacional, em 1984 - cinema lotado), as pessoas saíram tensas, perturbadas, sem saber direito o que tinham acabado de ver. Não sei se os espectadores mudaram, nem mesmo sei se os que riam a todo momento captaram o filme melhor do que eu. Apenas imagino o quanto uma platéia acostumada a aplaudir qualquer coisa, platéia de Jô Soares, pode dar um outro sentido a um filme, tirando parte da graça de assistí-lo. E aí? Seria culpa do filme, do diretor, ou da minha capacidade baixa de concentração?