Se tem uma coisa que incomoda em cinema, não sempre, mas frequentemente, é o excesso de narração. No entanto, vários filmes utilizam muito bem o off, sem querer dar à imagem uma força que originalmente ela não tem. É o caso de Cassino, claro, mas também de Crepúsculo dos Deuses, A Condessa Descalça, vários outros que minha memória insiste em sabotar no momento, e, O Rio Sagrado, de Jean Renoir. Tirando toda a narração, teremos outro filme, sem dúvida. Mas não um filme pior, pois as imagens continuariam ali, encantando nossos olhos. Scorsese diz, nos extras do excelente DVD da Criterion, que O Rio Sagrado, ao lado de Red Shoes (Sapatinhos Vermelhos) são os mais belos filmes no uso das cores. Bem, ele esqueceu de vários Minelli e vários Sirk. Esqueceu muitos outros. Mas que o colorido do filme é de deixar boquiaberto, não resta dúvidas. Bege e verde predominam, com um vermelho aqui e ali pra tumultuar os corações. Mas as imagens são belas também por causa do que está por trás delas. A beleza aparente se torna menor diante do intenso drama humano que elas mostram. De resto, um primeiro amor retratado com tal delicadeza é algo a se rever de tempos em tempos. E a cena do primeiro beijo em outra pessoa é de antologia. Assim como as cartas caindo quando o bebê nasce. Deveria estar em qualquer programa escolar.
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