sábado, 3 de maio de 2008

Eu realmente não entendo como cada filme de Woody Allen é submetido a um escrutínio implacável, um bombardeamento intolerante que não é feito quando o filme é de um diretor estreante, ou de quem esperamos menos. Eu mesmo posso ter sido vítima dessa mania, com Match Point e Melinda e Melinda, e talvez ela seja em certos aspectos justa, pois de um diretor que já fez Manhattan e Zelig esperamos sempre algo mais. Mas sinto que há um exagero. Como sempre, entrei na sala armado de uma couraça crítica, pronto para ver onde e como Allen teria falhado desta vez - os filmes dele, mesmo os de que gosto bastante, geralmente têm alguns pontos falhos, detalhes ou seqüências que me desagradam de alguma maneira. Mas não vi nada no novo filme que justificasse a recepção negativa de alguns críticos. O Sonho de Cassandra é certamente o melhor dele desde O Escorpião de Jade. O mais bem construído, o de narrativa mais amarrada, o que tem o final mais classudo. Allen finalmente está usando bem a influência de Claude Chabrol (o dos anos 80, sobretudo), e talvez essa ida à Inglaterra tenha servido para que ele encontrasse esse outro modelo cinematográfico, já que Bergman e Fellini já não estavam servindo mais - o primeiro expurgado com o belíssimo A Outra, o segundo esgotado desde o fracassado Celebridade -, e os modelos literários de sempre (Dostoievsky, Tolstoi, Yeats, Cummings) já não se bastavam. Colin Farrell está perfeito no papel, pois, como o personagem, ele tem sempre aquela cara de "ih, fiz besteira", que vem bem a calhar. Há também uma economia no registro dos acontecimentos, com elipses muito bem feitas, que Allen já vinha realizando com resultados irregulares há algum tempo, e que aqui é aplicada com muito jeito. O legal é que a cada filme realizado por ele na Inglaterra fica claro como ele está se sentindo em casa. O Sonho de Cassandra é melhor que Scoop, que é melhor que Match Point. Mas a comparação mais justa é com Crimes e Pecados mesmo, e é favorável ao novo filme.