terça-feira, 3 de julho de 2007


O jogo que reaparece em O Ano Passado em Marienbad exige domínio da lógica, memória e capacidade de antever jogadas futuras e suas possibilidades. É como o xadrez, só que muito mais simples. Tem tudo a ver com o filme, de uma simplicidade absurda, com uma fragmentação complicada pra danar - como seria nossa memória confusa, não? Como o marido sempre ganha o jogo, fica óbvio que ele detém um maior controle sobre sua memória, e o rapaz que persegue a Delphine Seyrig, que sempre perde no jogo, faz com que o filme se perca junto dele. Não tem como achar menos que obra-prima.
Aliás, revendo os Resnais para uma matéria na Paisà, fico achando que a grande fase de seu cinema é a que compreende A Vida é um Romance, L'Amour à Mort e Mélo. De 1983 a 1986. Em quatro anos, três filmes sensacionais. O do meio só não é obra-prima como os outros dois porque tem uma estrutura toda dividida em pequeníssimos atos, o que atenua um pouco todo o clima soturno. Imaginem Muriel com seus picotes intercalados por várias vinhetas que estariam no clima do filme. Seria um desastre. A graça é o picotado inusitado. Em L'Amour à Mort, paradoxalmente, não consigo imaginar como seria sem as vinhetas de neve caindo, mas que elas impedem uma fruição mais intensa, impedem. Pena que não vai dar tempo de rever tudo. Meu Tio da América, por exemplo, será sacrificado. Também não reverei Amores Parisienses, mas desse eu lembro muito bem. Talvez Quero ir para Casa dance também. Paciência. Amanhã é dia de Coeurs. Ansiedade a mil.