Na Ilustrada de hoje, o editor Marcos Augusto Gonçalves se declarou incomodado com o retorno ao núcleo familiar nos filmes Não Por Acaso e Cão Sem Dono. Contra o primeiro ele pegou leve, já que não é bem um retorno ao núcleo familiar o que o personagem de Leonardo Medeiros faz, mas a descoberta do amor pela filha (ela também desvinculada de uma família). No caso, calhou de a família escolhida fazer parte de uma possível familia que não se concretizou. Com Cão sem Dono ele pega pesado, diz que sentiu gosto de moral hollywoodiana na garganta. Escreveu: "que sorte que esses caras fazem parte de uma família - senão estariam perdidos". De fato, esse era um problema que eu tinha com o filme. A fala do pai, perto do final, e a barba bem feita quando ele entra nos eixos me pareceram um ponto fraco. Na revisão, vi que se trata de uma questão falsa, porque ele não faz a relação entre uma coisa e outra. Calhou de ele ter pai e mãe legais, calhou de ele arrumar emprego numa livraria (onde é necessária uma boa aparência, e, segundo muitos boçais, boa aparência é não ter barba). Calhou de o pai gostar da mulher e dos filhos, e para reconquistá-los, tenha se livrado da cocaína. Foi, na verdade, um ato de coragem de Brant e Ciasca, o de ficar tão perto da lição de moral sem nunca ser subordinado a ela. Basta comparar com A Vida Secreta das Palavras, em que a lição de moral é enfiada goela abaixo, para ver a diferença. Em todo caso, os sinais dessa moral rasteira estão ali, evidentes. A relação que cada filme faz com esse tipo de moral é que deveria ser mais pensada e discutida.
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