Rififi é um filme estranho. Tem uma cara de Jean-Pierre Melville, um quê de Clouzot, mas Jules Dassin parece mais interessado em alguma renovação de linguagem, o que sinceramente não sei se ele consegue. Aliás, não sei bem o quanto gosto do filme, mas sei que em alguns momentos ele fica meio chato de se ver. Há um longo momento sem diálogos (que deve durar mais de vinte minutos) na hora do assalto. O final é bonito, quase, mas apenas quase descambando para o patético à lá Salário do Medo. Mas o restante do filme não conseguiu me deixar plenamente concentrado, o que talvez seja minha culpa, talvez seja culpa da frieza do filme.
Visto no mesmo dia, um pouco antes, Médico e Amante (Arrowsmith, 1931) é um dos mais belos filmes dos anos 30. E mostra que John Ford estava muito longe mesmo do classissismo, aproximando-se mais das vanguardas dos anos 20. A pesquisa formal do filme, incorporando as sombras como formas geométricas de exclusão ou inclusão dos personagens. Nesse sentido a tragada fatal no cigarro contaminado é exemplar. Uma mulher involuntariamente isolada, aprisionada por sentimentos de subordinação e impotência. Um homem, que só não transa com uma mulher pelo sentimento de culpa (ele também é dividido pelas sombras de seu quarto, enquanto percebe a andança da amante em potencial no quarto ao lado). Nunca Ford esteve tão próximo de Bracque e Mondrian quanto nesse filme.
segunda-feira, 6 de junho de 2005
Postado por Sérgio Alpendre às 15:48
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