Não lembro quando e com qual filme se iniciou minha relação com Ingmar Bergman, mas lembro bem que amigos do primeiro semestre da faculdade me alertavam para a lentidão de seus filmes; e o mesmo professor que havia me alertado sobre a chatice e a incontornabilidade de Limite adorava a maior parte de seus filmes. Talvez tenha sido algum que existia em VHS na época. Poderia afirmar, quase com certeza, que foi com Da Vida das Marionetes que eu entrei em seu mundo. Entrava pela porta errada, portanto, não porque o filme era ruim, mas porque certamente não era o mais indicado para um iniciante. Por esses dias lembro de ter visto, na Band, e com legendas, o belíssimo Fanny & Alexander, que pode ser uma boa maneira de se iniciar, mas certamente não a mais acachapante. Depois A Hora do Amor, com Eliott Gould, filme que achei mediano, e nunca revi.
Fui conquistado, ou melhor, arrebatado, quando Morangos Silvestres reestreou no circuito paulistano, e eu fiquei atordoado na antiga poltrona do Cinearte - que naquela época era um só, e não era tão ruim quanto em seus últimos anos de vida, antes de seu nome mudar para Bombril. Meu amigo e futuro sócio Alexandre Carvalho dos Santos estava comigo e percebeu que eu mal tinha condições de concatenar duas idéias inteligíveis. Aí era só passar Bergman em cineclubes que eu cabulava aula pra ver. Corri certa vez, literalmente, para ver A Fonte da Donzela, na Cinemateca que na época ficava em Pinheiros, onde hoje funciona a Sala UOL. Depois encarei o pulguento Cineclube Veneza - aquele que insistia em lugares numerados - para ver vários de seus filmes em cópias riscadas e com legendas em espanhol. Foram minhas primeiras visões de O Silêncio, Face a Face, Cenas de um Casamento, Persona, Gritos e Sussurros, Através de um Espelho, O Ovo da Serpente (que ao contrário de quase todo mundo em qualquer época, gostei bastante), Sonata de Outono e O Sétimo Selo e mais alguns que eu estou esquecendo - foi uma mostra bem ampla aquela do Veneza. Alguns desses eu revi em condições melhores, outros continuam só na lembrança.
Lembro que Noites de Circo eu conheci no dia em que completei 20 e poucos anos, num outubro do começo dos anos 90, dentro da Mostra Internacional de São Paulo. Na mesma época conheci Sorrisos de uma Noite de Amor, No Limiar da Vida, e outros mais. Todos vistos no MIS, com legendas em inglês - a mostra não tinha legendagens eletrônicas na época. Nesse momento ele já era um dos meus diretores favoritos.
O que é certo é que eu nunca pensei em gargalhar num filme do Bergman, mas gargalhei à beça em A Prisão - todo o CCSP gargalhou - no pequeno curta de cinema mudo inserido no meio do filme. Foi, sem brincadeira, uma das vezes que eu mais ri numa sala de cinema, tanto quanto na primeira vez que vi Go West, de Buster Keaton, ou A Morte de um Burocrata, do Alea.
Bem, voltando ao sueco, mais tarde descobri O Rosto, A Hora do Lobo, Luz de Inverno. Ele tem um bom número de obras-primas, com meus preferidos de sempre sendo Persona, O Sétimo Selo, Gritos e Sussurros, Morangos Silvestres e Noites de Circo. Mas quase todos os seus filmes eu descobri nos cinco primeiros anos de cinefilia. Revi poucos desde então. Falha minha, eu sei.