Conte de Cinema, de Hong Sang-soo, é uma bela ode à vida, mesmo que as razões para que os personagens pensem em suicídio não pareçam tão convincentes. A câmera do diretor insite em zooms que procuram isolar personagens dentro de um quadro composto por outros personagens. O zoom não existe, aqui, só para isolar os personagens que mais interessam, mas para destacá-los de um todo, deixá-los em maior relevo. Além disso ainda temos, sem didatismo, o curta do diretor que adoece introduzindo o filme, com créditos e tudo, para depois percebemos que o que seguiremos é a vida de duas pessoas que assistiam ao curta inicial em um cineclube. Uma delas é a própria atriz do curta, outra é um amigo de colégio do diretor. Fala-se muito em suicídio, em sacrifício, em recuperação, mas o que vemos é uma brilhante analogia à própria condição do cinema, que se renova quanto mais se aproxima de um perigoso limite. A arte de Hong Sang-soo nunca é óbvia, como mostra a brilhante cena dentro do curta introdutório, quando a visão subjetiva do ator nos mostra o cartaz de um filme que está afixado à sua frente, mas quando a câmera volta para ele, tornando-se novamente objetiva, ele já está de costas, se afastando de nós, ao contrário do que mandaria a cartilha da linguagem narrativa. Palmas para Hong Sang-soo.
domingo, 6 de maio de 2007
Postado por Sérgio Alpendre às 22:15
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