segunda-feira, 19 de fevereiro de 2007


A Viagem de Niklashausen (1970), de Fassbinder, é mais uma daquelas alegorias panfletárias que eram feitas na época, e também no Brasil. Só que os europeus (Godard, Fassbinder, Pasolini...) têm um senso de história, tragédia e densidade operística que os brasileiros não têm, com a exceção óbvia de Glauber Rocha. Essa densidade faz com que os momentos alegóricos de Niklashausen sejam muito, mas muito interessantes, muito por causa da câmera de Dietrich Lohmann, superior a todos os trabalhos que ele havia feito com o diretor até então. Curiosamente, é um trabalho parecido com o que Michael Ballhaus realizara no filme anterior de Fassbinder, Whity, só que muito mais bem-sucedido. Em Whity, especialmente na cena da leitura do testamento, perto do final, a câmera se perde em zooms sub-viscontianos, ao passo que em Niklashausen, todos os movimentos da câmera acompanham o tom ritualístico e solene do filme. Pena que os momentos panfletários existem aos montes. Um quase grande filme.