O que fez a reputação do OutKast foi a mão certa para mesclar diferentes tendências da música negra dentro de um caldeirão melódico, muito bem produzido, arranjado e executado. Em uma palavra: inspiração. Nada de realmente novo, nada de vanguardista, muito pouco de originalidade, mas uma mão para forjar grandes canções que poucos mostraram. Ninguém pode negar que a banda foi um dos maiores acontecimentos da música pop dos anos 90 para cá, com discos memoráveis como ATLiens, Aquemini e Speakerboxxx/Love Below. Idlewild, este delicioso filme de Bryan Barber com os dois do OutKast, está para o cinema assim como a banda está para a música negra. Porque o filme de Barber nada tem de novo ou original. São tiques de estilo embaralhados de maneira muito hábil - claro, com alguns momentos bobocas no meio, porque ninguém é perfeito - e muitas idéias sendo jogadas quase ao mesmo tempo. Duas dessas idéias são meio estúpidas, mas de uma delas eu gosto: as chaves musicais que ficam animadas dentro da partitura de Percival (André Benjamin). A outra é estúpida e quase onipresente: o galo (rooster, em inglês) da garrafa de uísque que vira animado e conversa com Rooster (Antwan A. Patton). O filme aos poucos vai assumindo uma postura mais quadrada, mas não perde a força, pelo contrário, faz com que as idéias mais delirantes se reforcem, como quando os cucos do quarto de Percival começam a cantar com ele. O destino do galinho da garrafa pode ser considerado uma recaída da banda e do filme para o conservadorismo, mas eu vejo como uma maneira de inserir as idéias como um contrabando, para que elas continuem existindo. Afinal, uma despensa pode ser um bom esconderijo para travessuras. Um belo filme, recém lançado em DVD por covardia da Universal, pois merecia ser visto em tela grande.
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