O que dizer de Cão Sem Dono, novo filme de Beto Brant, com co-direção de Renato Ciasca? Arrisco algumas palavras desordenadas. Em conversa com Daniel Turini, ele me disse que considera tanto Cão sem Dono quanto Crime Delicado filmes muito mais fortes do que O Invasor, filme alavancou a carreira de Brant como verdadeiro autor, com todas as implicações que o termo permite. Concordo plenamente. Já é hora de percebermos que o cinema de Brant atingiu, nos dois últimos filmes, um rigor, e uma intensidade que ele nunca teve. Mesmo em seu belo primeiro filme, Os Matadores, o que estava em jogo era muito menos uma procura por um meio de se dizer o que se sente do que um exercício de como se contar uma história esperta da maneira mais estilosa possível. Em Crime Delicado, e, principalmente, em Cão sem Dono, a procura é o cerne da coisa. Procura por uma maneira de demonstrar o afeto, por um significado para os afetos inexplicáveis, para as demonstrações que brotam desses afetos. Cão sem Dono é um filme propositadamente trôpego, por se assemelhar ao protagonista. Mas é também um filme que se resolve muito bem dentro de sua irregularidade. Pois essa irregularidade surge do vai-e-vem diário, das oscilações de humor que todos temos. Talvez seja o filme mais arriscado e entregue de Beto Brant. Sei não, mas suspeito que daqui a alguns dias esse filme estará ainda mais belo em minha memória.
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